Mangue, onde o doce encontra o salgado

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Estou passando uns dias em Pernambuco e no caminho para o hotel descobri um updater nato, o Seu Josafá, motorista da van.
Para minha sorte, a viagem entre o aeroporto e o hotel leva quase uma hora, e ganhei uma master-aula enquanto acompanhava o powerpoint mais legal do mundo: a janela.
Entre tantas coisas, me mostrou os mangues, “onde o rio encontra o mar”. Fiquei interessado na mesma hora porque adoro tudo que está em transição. Acho uma excelente metáfora para o momento em que vivemos e fico colecionando exemplos de adaptabilidade. Confesso minha ignorância sobre os mangues. Sabia que era um tipo de vegetação, lembrava do Chico Science, da lama e dos caranguejos, que nunca entendi muito bem como foram parar lá. Agora, com a definição simples e direta do Seu Josafá, comecei a entender o que acontece nesse pedacinho que mistura o doce e o salgado e como a natureza resolveu essa mistura.
Tudo o que vive no mangue é mutante, misturado, adaptado.
Animais marinhos como peixes e caranguejos deram um jeito de se transformar em outras coisas. Plantas tiveram ideias sensacionais para sobreviver. Por exemplo: as raízes. Como tem sal na água, as raízes crescem até 3 metros na horizontal antes de mergulhar na água, assim a planta consegue retirar oxigênio do ar mesmo. O sal que entra pelas raízes que já estão na água é dirigido para as folhas mais velhas, que logo se desprenderão. E as folhas verdes, ao contrário das outras plantas, viram em um ângulo que evite a luz solar direta para não perder água por evaporação.
A gente vive pagando um pau para nossas soluções tecnológicas, mas as ideias orgânicas da natureza são imbatíveis. E, quase sempre, passam despercebidas por nós.

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Como mencionei, nós também estamos tentando achar boas ideias para nosso momento aqui pela terra, uma geração mezzo analógica, mezzo digital. Facebooks nos fascinam ao mesmo tempo que seu uso nos decepciona. Possibilidades quase infinitas de aprendizado, mas ainda amarrados em sistemas de ensino desenhados para um ambiente que não existe mais. Mas a gente chega lá, como o mangue.
Muita gente que mora aqui já percebeu a diversidade do mangue como uma grande metáfora para um manifesto por uma cultura mais rica. Desde a década de 70 com Robertinho do Recife e depois na década de 90, quando Fred 04 e o DJ Renato L. escreveram o “caranguejos com cérebro” (referência aos habitantes de Recife), depois consagrado pelo Mangue Bit de Chico Science, Pernambuco virou uma lama rica em nutrientes, mangue-style.
Mangue, em inglês, virou “mangrow” e depois “mangrove”. Acho que ainda vira “mangroove”.
Ouça Nação Zumbi, Mundo Livre S/A, Robertinho do Recife (toca muito), Sheik Tosado, Mestre Ambrósio, Daces do Subúrbio, Querosene Jacaré, etc.
Quem gosta de mangá, pode conferir o “One Piece”, Yarukiman Mangrove, que se passa em um mangue.

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PS: esse é meu promeiro post inteiramente escrito e publicado pelo meu iPhone, na piscina do hotel. Nem trabalho nem lazer, nem caneta nem computador, nem asfalto nem mar. Tudo no meio do caminho.

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