Marketing de Rabeamento

No surf, quando alguém entra na sua frente ou rouba o seu drop se diz que o cara “rabeou”. Pegou uma onda que não era dele e ainda acabou com a sua alegria.

Em inglês se chama “snaking” e a prática é considerada altamente ofensiva e sem dúvida a maior causa de encrencas e quebra-paus entre surfistas, principalmente quando acontece entre locais e “visitantes”.

Mais ou menos assim:

Tolerância zero. É o “Sai dela! Sai dela! Sai dela”

E o que isso tem a ver com marketing?

Bom, hoje de manhã dei de cara com mais um “case” de propaganda (ai, ai ai), uma iniciativa que usa o Pinterest para “viralizar” (bleargh) e fiquei pensando como algumas marcas fazem exatamente a mesma coisa: rabeam a onda alheia.

Entram em uma onda que não é delas e acabam com a alegria de quem já estava surfando.

E da mesma maneira que no mar, a prática ofensiva do rabeamento aumenta na mesma proporção em que aumenta o número de surfistas. E como a estratégia vigente ainda parece ser a de ir onde o povo está, acabam invadindo a sua praia como bem profetizou o Roger do Ultraje a Rigor.

VAMOS AO INFELIZ CASE

A marca é Buick.

A ideia: usar o Pinterest para ajudar a criar o design interno do carro.

Uau. Quando li, adorei. Apesar de não ter ideia de como fariam isso.

Como será que vão usar o Pinterest para criar o interior do novo Buick? Talvez referências de boards de arquitetura? Talvez inspirado em designs de objetos da década de 50? Quem sabe linhas inspiradas em formas encontradas na natureza?

Nã nã nã, nada disso.

Na verdade convidaram alguns pinteresteiros cheio de seguidores (quanti! quanti!) e usaram suas fotos para criar algumas combinações de paletas de cores para simplesmente sobrepor um layer em uma foto do painel e estofamento de um Buick “conceito”, também conhecido como o Buick que a gente não tem intenção de fazer por enquanto.

Olha só:

http://youtu.be/DnVUZUht91M

O que?

“Sai dela! Sai dela!”

Como uma marca tem a coragem e o descaramento de (1) achar que somos todos idiotas e (2) propor uma mecânica equivalente ao papelzinho de colorir que meu filho recebe quando vai no restaurante?

Esse barulho todo para sobrepor opções de cores em uma foto de interior de carro?

interior

Precisa mesmo forçar essa barra toda só para marcar presença no Pinterest?

Precisa mesmo inventar uma papagaiada qualquer só para surfar no mar dos Facebooks, dos Twitters e dos Instagrams?

Precisa transformar ferramentas sociais legais e divertidas em ferramentas de propagandas chatas?

Chega de filminho com trilhinha infantilizada. Chega de filminho “olha como essa marca é igual a você”. Chega de depoimentozinho.

Até quando o marketing e as agências vão forçar essa barra de ficar rabeando onda?

onda

O Buick é o exemplo, mas poderia ser mais um montão de outras marcas, claro.

Sei que o tom é amargo, mas pô, bastou uma coisa ser legal para a propaganda tentar se infiltrar, fingindo um tom de surfista local e, em 99% das vezes, do jeito mais trágico possível?

Claro, sempre foi assim, mas com esse mar lotado de redes sociais a coisa tem tomado uma proporção absurda, frequente e irritante demais. E como os consumidores são sempre mais dinâmicos, o contraste é de dar dó.

Podiam gastar 2 neurônios a mais e pelo menos tentar  pegar a onda do jeito certo, não podiam? Ou pelo menos tentar acrescentar alguma coisa.

Buick não podia criar uns boards legais de verdade? Imagina o que os caras devem ter de referências legais de verdade, projetos legais de verdade, inspirações do departamento de design de verdade? Não seria muito mais legal compartilhar essas coisas?

Não sei, mas as vezes fico com aquela sensação que a gente tem quando ouve um tiozão usando uma gíria super moderninha ou quando o cara mais mala da escola começa a usar o tênis descolado (e que automaticamente deixa de ser). A palavra é “invadido” mesmo. Rabeado.

É o momento em que a curva de adoção expulsa os early adopters, a famigerada “inclusão do mal”. A Orkutização do line-up.

Sou publicitário, amo propaganda, mas cada vez que vejo um case desses, um “prego rabeando minha (e sua) onda”, me dá vontade de jogar a prancha em cima, igualzinho ao cara no video do começo do post.

Minha sugestão é tolerância zero com o “SNAKING MARKETING”. Abaixo o marketing de rabeamento.

Rabeou, tomou pranchada nos comentários.

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