O processo de criação do Jingle “Vem Pra Rua” (Fiat)

henriquedest

[REPOST] [o “Vem Pra Rua” deixou de ser jingle pra virar hino. Abaixo, o post que publicamos no começo do mês, com depoimento do Henrique Nicolau, autor da música]

Ontem fiquei sabendo (tks Meg Magro), que o jingle-hit “Vem pra Rua” do comercial de Fiat, criado pela Leo, não era do Rappa, mas sim da S de Samba.

Tava louco pra ouvir a música inteira e fiquei surpreso ao descobrir que era uma peça encomendada, de propaganda.

Conseguimos conversar com o Henrique Ruiz Nicolau, autor e produtor de “Vem Pra Rua”, que escreveu pra gente como foi o processo.

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O PROCESSO DE  CRIAÇÃO DE “VEM PRA RUA”

(por Henrique Ruiz Nicolau, autor e produtor)

 Quem trabalha em produtora de som sabe que de vez em quando pinta aquele job que se transforma em uma pequena epopéia. Isso porque a músicaé a coisa mais abstrata e intangível de uma campanha publicitária. Cada um tem o seu gosto, cada um escuta de um jeito; todos temos nossas próprias referencias mentais, nossa própria coleção na cabeça, nos celulares, laptops e ainda CDs. E incluir isso na publicidade, onde um monte de gente tem opinião e poder de decisão, não é uma tarefa fácil .

Vem Pra Rua da FIAT foi o ultimo trabalho q produzi na S de Samba antes de sair e abrir a Shuffle Audio. É uma campanha comandada pelo Marcelo Reis, VP de criação da Leo Brunett Taylor Made, que procurou a S de Samba com a idéia de produzir um Jingle pra copa de 2014. Na época,o atendimento da S de Samba era o Ale Marcondes (meu atual sócio na Shuffle) e a direção de produção era do Dimi Kireeff.

O processo todo durou bastante tempo… como todo projeto de publicidade que tem prazo longo para ser produzido.

A agencia tinha um briefing: “queremos um jingle hit” e algumas das palavras-chave que eram “vem pra rua” e “a rua é a maior arquibancada do brasil”. ok… a ideia da campanha era bacana… Vai sair coisa boa. claro que alguma musica “demo” já deveria ser apresentada para o dia seguinte, como de praxe.

Juntamos eu, Dimi e Chico Castellano, meu parceiro de produção de longa data, e começamos com algo mais tradicional no mundo dos jingles… sem sucesso. “Não é isso” disse a agencia…

ok… mais um para o dia seguinte? vamos la… vamos tentar isso, mais isso e isso… ok… ;

“hmmm não é bem isso… e se tentarmos isso?” agencia diz. Ok… sem sucesso de aprovação.

Isso se repetiu por pelo menos mais 4 jingles e suas variações que se não me engano chegou ao numero 9 de tentativas. todos muito bem estruturados, com refrão fácil e melodias virais, capazes de fazer bater até o pé do papa. Sem sucesso…

Até que um dia, já “puto” da vida e desgastado com todo o processo, pensei comigo mesmo: “- eles não querem um jingle… eles querem uma musicade verdade!”

Fui para o estúdio as 7 horas da manha com o foco de que naquele dia resolveria o “problema”… havia cantado algumas coisas ridículas no banho e dali iria partir para compor. Peguei minha guitarra tosca de estimação, abri o software de gravação e comecei a tocar e gravar. Hoje em dia com o advento do computador, como dizem os mais amPtigos, a produção musical ficou bem mais facil e rapida, onde voce consegue fazer tudo sozinho e ainda ter um resultado bacana. isso se a ideia do que voce quer fazer estiver bem clara na sua cabeça.

http://youtu.be/3rMX_rrv36w

Como fazer um jingle hit? hmmmm complicado não? sim… mas a gente tenta chegar num resultado parecido! a criação disso depende de alguns fatores básicos:

  • ritmo contagiante
  • letra de “facil digestão”
  • forma da composição e harmonia familiares
  • “ganchos” ou “gimmicks” que são detalhes unicos que façam vc ficar ligado na musica estando ou não escutando ela (ex. a pandeirola em Satisfaction do Rolling Stones que fica la no cantinho fazendo “tcha tcha tcha” durante a música ou os “lalalas” no backvocal de Obladi Oblada).

– horas de veiculação e repetição na sua orelha!

Busco sempre minha inspiração nos albums clássicos: rock, pop, progressivo e até na musica erudita; considero isso um grande baú de idéias que sempre estou vasculhando. Eles sabiam bem o que estavam fazendo e tem vários jingles escondidos por ali.

No caso desse da FIAT, quis usar essa vibe de musica de estádio, com uma batida que leva pra frente, bem marcada, forte e cíclica. Com guitarras distorcidas e pitadas eletrônicas. Misturando o orgânico com o robótico. Bateria eletrônica misturada com a de verdade, baixo sintetizado com baixo real. Tudo isso junto com a sujeira organizada, que da vida a peça.

Na maioria das vezes começo pela parte rítmica, depois coloco uma base harmônica (os acordes)… começo a cantar umas babozeiras melódicas sem sentido (ex. onde hoje é “vem vamo pra rua pode vir que a festa é sua” começou com um balbucio de “vem aqui na rua que os mendigos tão na sua”), depois organizo tudo e faço a letra. Acredito que assim a parte abstrata da musica, como linguagem universal, atinge mais fácil as pessoas; vocêprepara a coisa mundial e depois regionaliza. Sinto que assim você fica menos preso. Tem quem prefira o inverso.

Bom… umas 4 horas depois, o Chico entra na sala e diz que gosta muito do que ouve. Ótimo sinal… logo entra o Dimi… “po… gosto pra cara^&*!” excelente sinal! o Dimi é uma plateia dificil de agradar e um exímio compositor…. discutimos alguns pontos e melhorias e pronto. Todos contentes com o resultado.

“vamos chamar um cantor?” perguntei. “vamos” responderam.

Gravamos voz forte e distinta e enviamos pra agencia…

Foi daí que ouvimos a agencia dizer:  “aí tem coisa hein”! ufa… finalmente!

Agora eles queriam que uma pessoa famosa cantasse… e depois de muitas sugestões, veio a luz de Wilson Simoninha (um dos donos da S de Samba) que teve a idéia de convidarmos o Falcão do Rappa. A musica sem querer acabou ficando bem a cara dele. Negociações à parte, conseguimos que ele gravasse no rio, ainda em processo de “demo”.

Mostramos pro pessoal da Leo, que gostou muito mas ainda pediu uma versão samba rock. Fizemos a versão samba rock, mas ainda continuamos também com a original…

Nesse meio tempo estavam produzindo um monstro do comercial, que sonorizamos com as duas versões. Tempo vem tempo vai, reunião vem, reunião vai, acabamos ficando com a versão original (essa q esta no ar) com alguns floreios de brasilidade brilhantemente enfeitados pelo Chico Castellano. Versão de 2 minutos, versão de 1 minuto… versão de 30 s … versão sei la oq… versao sei la quando e pronto!

O mais legal é que a base sonolenta das 7 horas da manha foi até o fim!

Fiquei feliz com o resultado da campanha e a aprovação geral do publico. O trabalho é árduo, o processo é demorado, consome horas de sono e de integridade mental mas no fim tudo da certo nessa batalha publicitaria.

Que venham outros!

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