Gente que Faz. Versão 3.0.

Este slogan ficou super conhecido no início dos anos 90, com a campanha do Banco Bamerindus, lembram?

gentequefaz

Eu só tinha 10 anos, mas adorava assistir a cada um dos filmes. E, para ser sincera, sentia uma baita vontade de protagonizar alguns deles.

Sim, eu era uma fedelha, mas já era impactada por este imperativo do fazer que estava entrando em evidência naquela época: “faça o seu negócio”, era o que incentivava a campanha do banco ou mesmo a do Sebrae; “Faça a sua parte”, diziam as ONGs. Foi um momento em que as pessoas se distanciaram da crença do poder público (auge da política neoliberal) e passaram a arregaçar suas mangas sendo voluntárias, micro empresarias, enfim, “gente que faz”.

Vinte anos mais tarde, estamos diante de um movimento que dá a impressão de uma certa semelhança. Afinal de contas, estamos assistindo a uma retomada deste ímpeto por fazer. Mas o que eu quero frisar aqui são as diferenças fundamentais nestas motivações.

Para começar, vale lembrar que neste mesmo período tivemos a difusão da internet comercial e a cultura foi absorvendo condutores do comportamento das redes. Falei rapidamente sobre isso no meu último post: estamos diante de uma sociedade P2P (Peer to Peer), que se organiza de par em par, com cada vez menos necessidade de centralização e que propõe, ao menos, multi-centros, hubs. O fruto desta arquitetura social é o EMPODERAMENTO de cada um destes nós ou pontos. E se me permitem a redundância: este é o PONTO!

A partir do momento em que a sociedade vai se tornando um grande Torrent, ela passa a compreender que fazer algo pelo mundo ou pelo próximo não é uma questão de altruísmo, como pregava o voluntariado nos anos 90. Fazer, facilitar, co-criar, colaborar é a descoberta de uma inteligência social. Estamos aprendendo que somos INTERDEPENDENTES. Vamos lá, a gente consegue fazer um download mais rápido ao passo que mais pessoas compartilham o mesmo arquivo, não é mesmo?

Legal, então tem cada vez mais gente fazendo ou facilitando. O fluxo social está posto e ganhando escala (até porque a rede é uma grande progressão geométrica). Mas o que faz cada um destes Ps ter tanto gosto por fazer?
E aqui está o que eu realmente acredito: o fazer é IDENTITÁRIO! Mesmo que esta profusão de indivíduos desapareça em um mar, ou rede, de “feitos”, que tudo ali seja em código aberto ou até mesmo anônimo, como funcionam diversos coletivos, o feito é único. O feito é um pouquinho de si impresso no mundo. Aliás, máxima que tenho escutado mais nas conversas de bar: “Melhor feito do que perfeito”. Até porque, na minha humilde dedução, o estado das coisas em beta é precedente de superação. E quer clímax melhor do que a superação do feito? A subversão do perfeito? Eis que temos toda a cultura Hacker para nos ensinar sobre isto.

Uma das coisas mais interessantes que tenho notado nesta valorização do “faça você mesmo” é que a fonte inesgotável para isso somos nós mesmos. Apesar de todo o remix que o mundo digital proporciona, estamos tendo mais curiosidade e inclinação à descoberta das nossas próprias potências e aptidões. Afinal, empoderar-se é antes de mais nada, revelar a si. E, então, temos uma sociedade que está expandindo sua criatividade, que tem se conhecido mais e deixando de lado o jargão “fiz minha parte”, muito comum à sociedade fordista ou moderna, para assumir uma motivação intrínseca, autotélica, que diz “não consigo deixar de fazer isso, isso faz parte de mim”.

Enfim, meu recado mais importante aos comunicólogos de plantão, é que todo este movimento “maker”, “craftpreneur”, a noção de engajamento ou mesmo de protagonismo civil tiram do consumo a soberania da identidade neste mundo pós-moderno. Em tempos em que cada vez mais pessoas são marcas e marcas tentam ser pessoas, é importante que se repense a comunica-ação com os tais “consumidores”, “targets”, “arquétipos” e “perfis demográficos”. A começar revendo todas estas aspas que citei e processos investigativos, tirando-os dos paradigmas modernos, estanques e completamente obsoletos. Hoje, “Gente que Faz” não é slogan, nem é case, é Zeitgeist. E esta gente está fazendo a revolução a que eu e você estamos aqui, assistindo, diante de nossos computadores. Aliás, bora me encontrar na praça pra gente papear e articular mais sobre isso?

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