Dagen H: o dia em que a Suécia inverteu a mão de direção (1967)

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No dia 3 de setembro de 1967, o governo sueco mudou a mão de direção do país inteiro.

Foi o Dagen H (de “Högertrafikomläggningen” ou “mudança do trânsito para a direita”)

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Antes os suecos dirigiam do lado esquerdo das ruas e estradas. E a partir deste dia, passaram a dirigir do lado direito.

Foram dois os motivos desta mudança.
Primeiro, os países vizinhos Finlândia e Noruega têm a mão de direção à direita e cada vez que um sueco atravessava a fronteira era tenso.
Segundo, porque os volantes dos carros suecos ficavam do lado esquerdo (LHD, como os nossos) o que piorava ainda mais a situação porque viviam batendo de frente em ruas mais apertadas.

Era preciso mudar.
Mas ninguém queria.

DAGEN H (DIA H)

Quatro anos antes deste fatídico “dia H”, foi feito um referendo e 80% dos dois milhões e meio de motoristas suecos estavam satisfeitos do jeito que o trânsito estava. Mas mesmo assim o governo resolveu mudar.  “Obrigado por manifestar sua opinião, mas era só curiosidade mesmo, porque vamos mudar de qualquer jeito”. Mas a vingança como sabemos é um prato que se come frio e a má-vontade dos suecos em colaborar com a mudança estava selada.

VAMOS PRECISAR DE UMA CAMPANHA

Neste cenário foi encomendada uma campanha publicitária, que demorou esses 4 anos para ser planejada, criada, produzida e lançada. O target eram todos os motoristas e pedestres suecos, também conhecido simplesmente como “suecos”. Todos eles.

O objetivo era falar “olha, dia 4 de setembro, todas as nossas ruas e estradas serão invertidas, vê lá o que você vai fazer hein, não esquece!”

A primeira impressão não chega a assustar. Inverteu, pronto, acabou.

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O logo do Dagen H

http://youtu.be/RxIX5IV2EEg

a musiquinha-tema da campanha

NA PRÁTICA

Mas quando o projeto começa a ganhar corpo a coisa fica beeem mais complicada do que parecia.

Por exemplo: você conseguiria chegar ao seu trabalho se todas as ruas da sua cidade estivessem invertidas?

Todas.

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Nas mãos duplas você mudaria de faixa, mas todas as ruas de mão única se transformariam em contra-mão. Se você estivesse em São Paulo, as marginais estariam invertidas, só para te ajudar a imaginar o tamanho da encrenca.

Bom, então é melhor pegar um ônibus e deixar a bucha para outro motorista. Mas cadê o ponto? Ah é, precisaram atravessar a rua, já que a mão inverteu.

Você desiste e vai a pé, assim não tem erro. Mas na primeira esquina quase morre atropelado porque a rua que você passou a vida atravessando os carros agora vêm pelo lado que você não está acostumado a olhar para atravessar.  E infelizmente, acho que ambulância vai atrasar também.

Resolve então ficar parado tomando um café na padaria da esquina, mas um doido não viu o semáforo que foi flipado e invade o estabelecimento.

Enfim, não tem NADA de simples nessa inversão. Fácil de entender, dificílimo de executar.

São coisas que a gente só descobre quando começa a desembrulhar o briefing.

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Pensaram em tudo: todos os faróis dos carros precisaram ser trocados. No resto da Europa começaram a vender separadamente o farol direito e esquerdo (antes eram iguais) e a Suécia resolveu que também seria necessário faróis calibrados para não cegar o motorista da mão contrária. O adesivo foi coloado em faróis antigos como uma forma de bloquear um pouco o feixe.

HORA MARCADA PARA O CAOS

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Ah, e tem mais um, justamente o mais caótico: o horário exato da mudança.

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Quando uma rua vira contra-mão, você coloca um guardinha lá por uns dois dias e pronto. Mas quando todas as ruas da cidade mudam, é preciso estabelecer um horário para a nova regra começar a valer. E foi justamente o que o governo sueco fez. Cada cidade estabeleceu uma hora em que o trânsito simplesmente brecaria e todos os carros trocariam de pista. Afinal, todos precisariam mudar ao mesmo tempo, senão existiriam carros indo e vindo ao mesmo tempo, dependendo do quanto cada motoristas estava ou não preparado. Ou, afim de ajudar (olha a hora da vingança do referendo).

Essa inversão variou entre meia-hora e 4 horas de puro pandemônio.

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Esse documentário sueco mostra cenas da época:

FINAL FELIZ

Felizmente o final dessa história trouxe uma última e agradável surpresa: ao contrário do que se imaginava, o número de acidentes de trânsito caiu drasticamente. Não por causa da inversão em sí, mas porque os motoristas saiam dirigindo muito mais atentos até se acostumarem com a novidade a ponto de andarem com o “piloto automático cerebral” ligado. Foram uns 3 meses sem ocorrências graves.
E assim motoristas e pedestres suecos tem circulado tranquilamente pelas ruas desde então. Mas naquele dia 3 de setembro de 67, foi o caos.

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