Fotografando sem parar? Cuidado, você pode estar apagando suas memórias.

Você vai no show e clishh, clishh, clishh, clishh.

Você vai na festa junina do seu filho e clishh, clishh, clishh, clishh.

Você vai para Paris e clishh, clishh, clishh, clishh.

Aí você volta para casa com suas 7.438 fotos, que serão despejadas no computador ou em algum site, junto com as 76.496 fotos que já estão lá.

Mas a foto nº32.453 é especial!

Você conseguiu captar um momento único, mágico.

Que pena, porque agora ela está perdida em um mar de fotos, junto com um monte de outras MUITO parecidas com ela, porque dá muito trabalho arrumar essa bagunça toda.

A nº32.453 está perdida e também o momento, já que você não estava lá de verdade, afinal, é preciso concentração para conseguir uma foto dessas.

“Mas eu coloquei no Instagram! Com envio automático pro Facebook!”

Boa, supondo que você tenha achado e compartilhado a nº32.453, ela teve seus 7 segundos de fama entre os amigos, mas sem querer piorou: seu momento especial entrou no concurso do momento especial do resto do mundo e de certa forma foi consumido e evaporou. Informal demais… seu momento especial apareceu e a fila andou.

O QUE ESTAMOS FAZENDO DE FATO

Aumenta a cada dia o número de estudos que mostra que estamos terceirizando nosso cérebro e nossas memórias em HDs externos, exatamente da mesma maneira como fazemos com os computadores. Em princípio a ideia é boa: livramos espaço para usar de uma forma mais inteligente do que simples armazenamento. Mas, infelizmente, parece que registrar momentos ao invés de testemunhá-los com os próprios olhos tem um impacto negativo na retenção das memórias. A nº32.453 não só está perdida pelo excesso de fotos em que está mergulhada, mas principalmente porque o evento inteiro deverá sumir da sua cabeça em breve e você nunca mais vai sequer lembrar que a nº32.453 existe.

O mesmo fenômeno acontece com dados e informações, é o chamado “efeito Google”.

Como você sabe que as respostas estão lá ao alcance de um clique, você terceiriza. E sem perceber. Ao invés de “puxar da memória”, você puxa é o smartphone do bolso.

cabeção1É preciso saber o que reter e o que terceirizar

Pesquisadores da Victoria University of Wellington da Nova Zelândia fizeram um teste interessante com seus alunos: durante um dia inteiro no Museu, metade do grupo podia usar câmeras e a outra metade não. No dia seguinte, as memórias foram testadas. O grupo que pode fotografar mostrou uma retenção de detalhes sobre objetos e fatos históricos muito inferior ao do grupo que circulou sem câmeras. É como se o fato de estar “registrando” em fotos fosse suficiente. Na verdade, muitas vezes a sensação é que o registro é uma forma mais eficiente de absorver o momento. Mas na prática, as fotos acabam tirando essa função do cérebro e se perdem no limbo.

Uma coisa que sabemos há muitos anos é que as emoções exercem um papel fundamental no “ranking” das memórias. Quanto mais emoção no evento, mais memorável. É assim que nosso cérebro aprendeu a lidar com o excesso de informação durante esses milênios todos. Quando tiramos uma foto, essa emoção se dilui porque estamos focados também no processo da foto em sí.

HIC ET NUNC

Ou seja, em português claro: CARAMBA, PRESTA ATENÇÃO NAS COISAS AO INVÉS DE FICAR SÓ FOTOGRAFANDO.

Fotografar é DEMAIS, mas não exagera, não pira, não perca o momento.

cabecao2Na escola ainda é assim. Um dia a gente aprende o que deve mesmo ficar.

Mesma coisa com informações: não fique pulando de coisa legal pra coisa legal. Quando aparecer algo interessante MESMO, pesquise mais, levante, vá buscar um café, pensa um pouco no assunto, faça associações, conte para alguém. Dê um jeito de mostrar ao seu cérebro que aquilo vale a pena ser guardado no seu HD original.

E não se sinta mal: estamos todos no mesmo barco, aprendendo a equilibrar tantas novidades e novos poderes. Eu tenho dado um duro danado para tirar uma foto e botar o iPhone no bolso. Vale a pena.

 

IMG: Big Heads DDB – Refat/Shutterstock

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