O dia que fiz história no chá de bebê da minha tia

Antes de começar, gostaria de pedir sinceras desculpas aos meus familiares presentes naquele dia. Além de todo transtorno, errei feio em prorrogar por duas horas o fim daquele evento. Se pra vocês não foi fácil aceitar meus caprichos, saibam que pra mim também não foi nada legal passar por aquilo. E para vocês que não foram, só lamento. Perderam o show.

Enfim, aconteceu no domingo passado. Família reunida. Salgadinhos indo e vindo. Carne louca nos pãezinhos. Velha guarda relembrando histórias. Criançada correndo pra lá e pra cá. E claro, muitas especulações sobre a vida da futura criança. Sem sombra de dúvidas, o cenário perfeito para que nada de muito inusitado acontecesse. Pelo menos, acho que era o que todos ali pensavam.

Mas não, algo esquisito ainda estava pra acontencer. E pra variar, o alvo era eu.

Não deu outra. Estávamos nos 45 do segundo tempo, só faltavam os acréscimos. O ritual de despedida já estava até rolando. Era beijinho pra lá e pra cá. Eu só ouvia, pois estava onde eu não deveria estar. Culpa daquela última cerveja.

Lá estava eu, caminhando em direção ao banheiro. Mal sabia, mas o show estava prestes a começar. Entrei, tranquei a porta, dei tchau pra breja, lavei as mãos, apaguei a luz, virei a chave na porta e dei adeus. Não pro banheiro, e sim pra minha dignidade. A chave partiu no meio e a porta continuava trancada. Não perguntem como. Que cilada.

Tentei empurrar, dar tranco, rodar o cotoquinho de chave, nada funcionava. Nem a janela me salvaria, era justa demais pros meus 86 kilos.

Desacreditando que aquilo estava acontecendo, sentei no vaso e fechei os olhos. Foi então que uma força maior chegou até mim e disse: “Desculpe, mas você foi o escolhido. Honre a responsabilidade e torne esse momento único para as pessoas daquele salão.”

Quando ele chama, não há quem segure. Ele é rebelde e um tanto mimado. É, acaso, você é um filho da puta que adora chamar atenção, me fazendo passar vergonha nos momentos mais inapropriados que existem.

Como não tinha jeito mesmo, acabei aceitando a missão. Pensei em como deixar aquilo ainda mais interessante. Comecei ligando pra quem eu não deveria, meu irmão, que com certeza não deixaria a história nos bastidores, e sim, anunciaria pro salão inteiro. Justo.

“Gente, o Bruno me ligou lá do banheiro. Não dá pra acreditar. Ele quebrou a chave e não consegue sair.”

Risos no salão. Muitos.

Os piadistas foram os primeiros a chegar. Em seguida, meus pais e minha namorada. Depois, os preocupados, que mesmo assim não aguentaram e tiraram uma casquinha: “Filho, aproveita pra pensar nos pecados. Faz bem.” – Minha Vó. E por último, os resolvedores de problemas – “Brunão, pega essa chave de fenda aqui, coloca ali no cantinho da porta, pensa naquela pessoa e senta a marreta. Bate com vontade.” – Meu tio.

Bati, suei, bati, suei, bati, suei. Nunca bati e suei tanto na minha vida. Quebrei o prego, descasquei a parede, entortei o trinco e suei mais um pouco. Tudo calculado.

Mais risos no salão. Impressionante como as pessoas ali estavam felizes. Era até gostoso de ouvir.

Um tempão depois, quando a graça já tinha ido embora, alguém surgiu com uma ideia brilhante, dando fim ao show. O show que ficaria na memória. O show que seria relembrado pela mesma velha guarda daqui um tempo. O show do chá de bebê da minha tia. O show do menino avoado.

Moral da história: se você está em um chá de bebê ou em qualquer outro lugar que aparente não acontecer nada demais, não tome aquela última cerveja, muitos menos pense que tudo está sob controle. Tome cuidado e esteja preparado, você pode ser o próximo escolhido. E caso isso aconteça, honre com a responsabilidade. Faça de algo pequeno, uma história memorável. O palco é seu, o show também.

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