This photo provided by Roadside Attractions shows, Paul Dano, as Brian Wilson, in a scene from the film, "Love & Mercy." (Francois Duhamel/Roadside Attractions via AP)

O Legado Criativo de Brian Wilson

Acho que o maior pecado das pessoas que trabalham com criatividade é se apegar ao passado. Podemos aprender com o passado, mas apegar-se literalmente a ele limita o espírito criativo. Os grandes compositores de rock procuraram inovar até o final de suas vidas – e com sucesso ou não, os que fizeram isso nunca foram esquecidos.

A vontade de escrever esse post surgiu ao ver o belíssimo filme intitulado como “Love & Mercy”, que conta a história de Brian Wilson; um dos maiores compositores americanos do século XX.  E quando digo compositor americano, nesse caso, não é só dentro do rock, mas atribuído a todos os estilos.

LM_00610.CR2

Uma das cenas que mais me agradaram no filme foi a discussão de Brian Wilson e Mike Love (seu primo e também membro dos Beach Boys). Love não compreendeu a genialidade, ousadia e experimentalismo de Brian ao criar o disco Pet Sounds, que é considerado um dos cinco melhores disco de rock já feitos. Love só se preocupava com a fórmula de sucesso que os Beach Boys tinham atingido, essa que não tinha nada a ver com arte e criatividade, e era mais ligada ao marketing e apelo comercial.

Captura de Tela 2015-12-09 às 13.23.46Captura de Tela 2015-12-09 às 13.22.34

Apesar de ser contrariado por Love e o disco Pet Sounds não ter sido um sucesso comercial, com o passar do tempo a genialidade de Brian Wilson ficou tão evidente que Mike Love se tornaria um dos maiores violões da Música Pop.

Odiado por muitos fãs dos Beach Boys, Love é um dos responsáveis (de maneira mercenária) em não estimular, atrapalhar e não apoiar a criatividade vanguardista de Brian Wilson. Para Mike Love e Murry Wilson (pai de Brian, que produziu a banda nos primeiros anos) os Beach Boys deveriam seguir o estilo “clássico”, cantando sobre mulheres, carros, diversão e surfe. Simples assim. Por curiosidade, nenhum membro da banda surfava.

Brian Wilson em uma de suas sessões de gravações.
Brian Wilson gravando alguma obra-prima.

Essas estratégias comerciais e de marketing que se aplicavam as bandas de rock nos anos 60 acabaram levando muitas bandas ao ápice e posteriormente ao fundo do poço. Afinal, onde estão os  The Monkees, The Animals, The Zombies e tantos “The’s” que desapareceram dentro do caldeirão criativo que foi os anos 60?!  Os que pensaram e defenderam a vanguarda e a criatividade (mesmo com dificuldades) acabaram perpetuando.  Entre os que escolheram seguir seus próprios instintos artísticos e a contracultura estão em nosso cotidiano até hoje, como The Beatles, The Who, Pink Floyd, The Beach Boys (graças a Brian), David Bowie, Bob Dylan, entre outros.

Já Mike Love (aquele que resmungou sobre a criatividade de Brian Wilson) se tornou tão odiado e esquecido que  inspirou até uma canção chamada “Fuck You Mike Love” e um videoclip, que depois acabou sendo retirado do You Tube através de processos judiciais.  John Lennon uma vez o  chamou de idiota.

A Vice lista alguns motivos de Mike Love ser tão odiado assim, clique aqui e leia mais sobre (em inglês).

A grande verdade é que quem não acredita na criatividade como instrumento de evolução acaba virando vilão de si mesmo.

Mike Love não conseguiu emplacar nenhum sucesso com os The Beach Boys, apenas Kokomo, que é a única música de sucesso em mais de 40 anos –  e cá entre nós, que musiquinha brega, hein?

Ainda nos anos 60,  Brian desistiu de terminar o disco Smile (uma das maiores promessas do rock), que ficou engavetado – muito por culpa dos processos que Mike Love moveu contra Brian –  e acabou sendo finalizado em 2004. A esposa de Brian (Melindae sua banda Wondermints, especificamente o músico e cantor Darian Sahanaja, , depois de mais de 40 anos, foram os principais responsáveis por influenciar Brian a concluir o trabalho de Smile. Smile é um disco que ainda foge do entendimento de muitos pois é extremamente experimentalista e de vanguarda.  Eu particularmente gosto bastante.

Depois de muitos anos de hiato, Brian Wilson superou os problemas que enfrentou, relacionados a saúde e ao consumo abusivo de drogas. Ele voltou a ativa fazendo turnês, compondo novos e inovadores discos. Um deles que gostaria de ressaltar é uma obra ligada a Disney, onde Brian faz composições baseadas em desenhos como  The Jungle Book, Toy Story,  The Lion King e Pinocchio.

81nDmjMzuAL._SL1500_

E qual a lição que podemos aprender com Brian Wilson?

Apesar de ser um gênio (ele foi classificado o 49º maior gênio vivo do mundo pela empresa Syntetics), Brian é um exemplo também de que todos podemos ser criativos, e que a criatividade ligada somente a juventude não pode ser uma regra. Afinal, ele segue criando e produzindo discos firme e forte!

Ouse experimentar e tentar “o novo”. Criatividade é inventar, experimentar, correr riscos e quebrar regras. Não haverá desenvolvimento criativo se você não estiver disposto a essas mudanças.

O filme que conta a história de Brian Wilson agradou a muitos no Festival de Toronto e foi exibido também no SXSW (South by Southwest). Paul Dano (que interpreta Wilson) também foi premiado como melhor ator no Gotham Independent Film Awards 2015.

“Love & Mercy” já percorreu outros cinemas internacionais em Berlim e Buenos Aires e era para estar no cinemas Brasileiros a duas semanas. É uma pena um filme como esse, tão importante para mentes criativas, não estar no mainstream dos filmes exibidos no Brasil nesse final de ano.


5 Criativos que seguem o legado de Brian Wilson. 

Contrariando a opinião de retrógrados (como Mike Love) e indo ao encontro de compositores contemporâneos do século XXI,  para terminar o post fiz uma lista de artistas criativos dentro do gênero rock; esses que na minha opinião seguem o legado de Brian Wilson e estão abertos a novas possibilidades, experimentalismo e paradigmas.

É uma lista extremamente pessoal, e estou disposto a conhecer com vocês outros compositores fantásticos (que podem ser indicados nos comentários). :) Enjoy!

1 – Adam Green

Quem assistiu o filme “Juno” provavelmente conheceu a voz dele através da banda The Moldy Peaches e seu hit “Anyone else but you”.  Mas Green vai além.  Conhecido por fazer parte de um movimento “anti-folk” nos Estados Unidos, ele é mais conhecido na Europa, particularmente na Alemanha. Contrariando a simplicidade lo-fi de sua antiga banda, Adam usa e abusa de experimentalismos e mistura diversos elementos e estilos em seu trabalho solo. Ele também produziu o disco “Cavalo”, de Rodrigo Amarante.

Captura de Tela 2015-12-09 às 13.27.39


2 – Adanowsky (ou Adan Jodorowsky)

Não consigo acreditar no ditado popular “Filho de Peixe, Peixinho é”, afinal eu escutei Adanowsky. Filho de Alexandro Jodorowsky, que é um dos maiores  gênios e surrealistas do cinema, Adan Jodorowsky, ou simplesmente “Adanowsky” está seguindo perfeitamente o legado de seu pai.  Com três discos lançados, o trabalho de Adan é composto por alcunhas teatrais e criação de alter-egos. O que mais me agrada se chama “Amador”, onde o mesmo assume uma persona de um artista fracassado e galanteador apaixonado. É um dos discos em espanhol mais bonitos que escutei na vida.

adanowsky-ok

https://www.youtube.com/watch?v=ENawAstRGB0


3 – Damon Albarn

Como se não bastasse ser uma das mentes criativas por trás do Blur e de toda uma geração ligada ao Britpop, Damon Albarn também criou a banda Gorillaz e fez sucesso com as duas bandas, quase que ao mesmo tempo. E por mais que soe como hip-hop, o Gorillaz é um dos trabalhos mais experimentais que pude conhecer nos últimos anos. Eles misturam diversos estilos. O disco Plastic Beach tem elementos de músicas do mundo todo, inclusive da música árabe e da música dos Bálcãs, presente no sudeste europeu – além de elementos de pop rock e punk rock. Damon também lançou recentemente um disco solo, que foi bastante elogiado pela crítica.

damon_albarn_of_blur_02_website_image_orxx_wuxga


4 – Mike Patton

Além de ser considerado uma das maiores vozes do rock mundial (e também vocalista do Faith No More) Mike Patton exala criatividade na produção de músicas para as suas diversas bandas, entre elas Mr. Bungle, Fantômas, Peeping Tom e Tomahawk.  Por suas idéias inovadores e experimentais, já foi comparado a artistas como Frank Zappa e John Zorn. Também produziu a trilha sonora dos filmes: “A Perfect Place” e “Crank: High Voltage” e “Making ‘Crank”.

SYDNEY, AUSTRALIA - FEBRUARY 21: (EDITORS NOTE: Image has been converted to black and white.) Mike Patton of Faith No More performs on stage at Soundwave Festival at Eastern Creek Raceway on February 21, 2010 in Sydney, Australia. (Photo by Mark Metcalfe/Getty Images)

https://www.youtube.com/watch?v=Jt856_nRxQk


5- Elliott Smith

Eliott Smith é considerado por muitos um dos últimos gênios do Folk. Apesar de seu caráter lo-fi, ele misturava diversos elementos sinfônicos as canções (principalmente as dos últimos discos), além de um violão muito bem tocado. Infelizmente perdemos Smith precocemente. Ele nos deixou discos maravilhosos, entre eles o Either/Or e o Figure 8, meu disco predileto. Abaixo você pode conferir a música “Miss Misery”, incluída na trilha sonora do filme Good Will Hunting, que foi indicada para o oscar como melhor canção em 1997.

Por curiosidade, Paul Dano (ator que interpretou Brian Wilson) se parece muito com Elliott Smith. Quem sabe ele não pode interpretar Smith nos cinemas também, né? :)

elliott-smith

Receba nossos posts GRÁTIS!
Deixe um comentário

This website uses cookies to improve your experience. We'll assume you're ok with this, but you can opt-out if you wish. Accept Read More