Não a vitória que você merecia, mas a vitória que você precisava

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“Esperar que a vida te trate bem porque você é uma boa pessoa é como esperar que um tigre não te ataque porque você é vegetariano”. — Bruce Lee

Assim como a imensa maioria dos brasileiros, eu fiquei chocado ao assistir o desenrolar do combate entre José Aldo e Conor McGregor, pelo cinturão dos penas do UFC.

Na verdade eu fiquei mais do que chocado. Eu fiquei triste.

Aldo é um dos meus lutadores favoritos. Eu gosto do seu jeito focado, discreto e sempre de acordo com o que se espera de um artista marcial. Além disso, é um cara que teve que ralar na vida. E por ralar eu não digo levar uns murros na cara e se matar de treinar na academia. Por ralar eu quero dizer passar fome, se desesperar, atravessar um mar de merda e sair limpo do outro lado.

Aldo é a materialização da força de vontade do brasileiro sofrido. Daquele que vem do povo e que, contra todas as probabilidades, chega lá.

O Aldo é um herói e, por isso mesmo, a gente quer ver o cara vencendo. A gente sente que ele merece vencer. A gente traz no íntimo o desejo de que ele acabe com os monstros. E ele fez isso por muito tempo.

Mas dessa vez ele pegou um monstro diferente.

Conor McGregor é tudo, menos modesto. Ele vê a si mesmo como o melhor lutador do mundo e não hesita nem por um segundo em falar isso aos quatro ventos. Ele humilha oponentes, provoca, ofende, tira do sério. McGregor assume um estilo de vida extravagante, com montes de carros de luxo, roupas estilosas, sessões de fotos e, claro, depoimentos polêmicos. O cara não perdoa nem mesmo o próprio empregador. Aposto que vocês lembram que ele afirmou que ele não trabalhava para o UFC, mas que ele era o UFC.

Pois é, quando o cara chama a si mesmo de “Notorious”, não dá pra esperar algo diferente. E a verdade é que tudo isso é até mesmo divertido, afinal, aquele irlandês maldito tem carisma de sobra.

Mas aí ele mirou no nosso herói e a coisa ficou séria.

As provocações e o desrespeito de McGregor para com o Aldo foram deixando a expectativa para o combate cada vez maior. O clima ficava mais pesado e, para nós, fãs do brasileiro, uma coisa estava bastante evidente: Aldo era o herói, McGregor o vilão. E o herói tem que vencer o vilão, não é?

Claro que é! Aprendemos isso desde a infância, com contos de fadas, depois em livros e filmes. Era lógico que Aldo venceria.

Então veio a luta e, 13 segundos depois, Aldo estava apagado, sem o cinturão. Toda a humildade, superação e disciplina marcial estavam no chão.

Quem assistiu a luta deve ter travado naquele momento. Um segundo de incredulidade onde a mente disse: “Como assim? Não pode acabar desse jeito. Não é justo. O Aldo merece mais”.

Bom, pelo menos foi isso o que eu senti. Mas aí lembrei daquela frase do Bruce Lee que usei lá no começo do texto e minha análise mudou de foco.

Conor McGregor não estava nem aí se merecia ganhar a luta ou não. Na verdade eu tenho fortes suspeitas de que esse cara não gosta de ganhar nada.Ele quer ir lá e pegar por si mesmo. Ele quer tomar conta. Arrancar de quem ele acredita que é pior que ele.

Quando a gente para pra prestar atenção em todo o falatório do McGregor, a gente vê que, muito mais do que se achar, o cara realmente acredita no que diz. Seu nível de confiança em si mesmo é absurdo. É tão grande que é capaz de invadir a cabeça dos outros (alguns até melhores lutadores do que ele) e destruí-los de dentro para fora.

O que aconteceu na luta não foi uma questão de merecimento ou justiça. Não teve nada a ver com o herói ou vilão. O que aconteceu foi que, naquele momento, o McGregor queria o cinturão mais do que o Aldo. Ele estava extremamente motivado, focado e confiante em suas próprias habilidades (e limitações). Em sua própria cabeça, não havia outro desfecho possível. E a vontade mais forte se impõe à vontade mais fraca.

Sei que tem gente que diz que foi um golpe de sorte. Embora eu acredite que — na luta e na vida — a sorte tem sim o seu papel, aquilo ali me pareceu muito mais um homem que estava pronto para aproveitar as oportunidades e dar um salto para o próximo nível. Quanto tempo de treino e sacrifício existe por trás daquele soco e daqueles 13 segundos? Quanta obsessão em melhorar? Em alcançar o timing e a técnica perfeita?

Acho que o que estou querendo dizer com tudo isso é que, nas histórias da vida real, não existe a lógica do merecer. Não existe ganhar algo porque é justo. No fim das contas, o universo não te deve absolutamente nada e você deve correr atrás do que quer com tudo o que tem pra dar e ainda mais.

É importante ter humildade e decência? Claro que é. Mas não caia na armadilha de achar que alguma energia misteriosa vai apertar os botões do cosmo para te presentear com conquistas e vitórias só porque você é uma boa pessoa.

Ser uma boa pessoa é o mínimo que se espera.

Ser foda é o mínimo exigido quando se quer alcançar algo grandioso.

E, de vez em quando, é preciso vir um monstro e arrancar tudo o que conquistamos, é preciso cair no choro e sentir o gosto amargo da falha, é preciso entender que você tem que querer. Mais do que merecer. Tem quequerer algo de forma tão intensa e poderosa a ponto de mudar a realidade e tomar o mundo nas mãos.

Eu sei que o Aldo carrega isso nele. Sei que ele já teve lutas muito mais difíceis que essa e já obteve conquistas maiores do que todos os cinturões do UFC juntos. É apenas questão de tempo até ele reacender essa chama e voltar.

Mas e quanto a nós?

Será que estamos correndo atrás? Será que estamos prontos para agarrar e clamar para nós aquilo que desejamos? Ou estamos apenas esperando cair no nosso colo simplesmente porque merecemos?

A luta de sábado serviu para mostrar que, se a gente quer chegar lá, tem que ser mais como o McGregor. Tem que ser capaz de olhar no espelho e falar, com toda a sinceridade do mundo e sem falsa modéstia:

Eu. Sou. Foda.

Você é?

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