É POSSÍVEL CONSTRUIR A PRÓPRIA FELICIDADE?

Na maior parte das vezes que vejo um texto ou um livro sobre “felicidade” costumo pensar que é só mais um autor querendo me vender uma fórmula de auto-ajuda. Muito já se escreveu sobre o assunto e os gregos pareciam tratar do tema com mais propriedade do que nós, contemporâneos. Não há dúvidas de que só uma pessoa fora de sua consciência desejaria a própria infelicidade. Mas nós, seres do século XXI, costumamos atribuir o conceito de felicidade exclusivamente a um determinado prazer que nem sempre é o que nos traz mais sorrisos.

Esse texto nasceu da leitura de “Felicidade Construída”, do economista e ph.D no assunto, Paul Dolan. Além de professor da London School of Economics, o autor trabalha há décadas com diversas pesquisas no campo da felicidade aplicada à sociedade britânica.

Apesar do título para o mercado, o livro é profundo e traz reflexões importantes para o bem-estar individual e social. A tese de Dolan gira em torno do que ele chama de PPP – Princípio do Propósito e do Prazer, ou seja, ser mais feliz não é simplesmente ter o máximo de prazer na vida, como a maiorias dos outros autores acredita. Não adianta você ficar todos os dias em frente à TV assistindo jogos e séries e não sentir nenhum propósito na vida como trabalhar ou arrumar um(a) namorado(a), por exemplo.

Logo na introdução, ele explicita que “felicidade é o feedback que você recebe sobre o impacto daquilo que você faz”.

Essa felicidade é causada por aquilo que prestamos atenção, e ele mostra o quanto focamos em coisas que não nos fazem felizes, simplesmente por uma acomodação mental, ligada à evolução darwinista. Essa “economia da atenção” mostra o quanto nos acostumamos com mudanças, sem pensar se as queremos de fato. A maioria de nossas preocupações são sobre coisas que ainda não aconteceram, gerando uma infelicidade antecipada. Não esqueça que a palavra atenção vem do latim e significa “tentar agarrar”.

O livro é dividido em duas partes, sendo que na primeira Dolan trata do desenvolvimento da felicidade (o que é… o que sabemos sobre… o que causa…etc). A segunda parte é a felicidade aplicada (decidindo…projetando…fazendo…etc).

Paul Dolan usa exemplos empíricos o livro todo e em diversos assuntos. Pesquisas que relacionam a felicidade com o regime alimentar, com o dinheiro, com filhos, com casamento, com o “dormir muito ou pouco” etc. Só para citar esse último tópico, Dolan não acha que dormir mais que a média seja necessariamente uma perda de tempo. Se for pra ficar mais cansado e infeliz durante o tempo acordado, o melhor caminho é dormir mais. No âmbito do casamento, a pergunta que você deve se fazer é “como será estar casado?” e não “será que devo me casar?”.

Para o autor, algumas dicas para a felicidade vêm da escolha do lugar onde mora (more perto de quem te faz feliz), de prestar atenção à sensação do momento (vá embora de uma festa no momento que passar pela 1ª vez na cabeça a vontade de ir embora), de postar nas redes sociais suas metas (uma pesquisa mostrou que a cada 10 posts sobre sua meta na dieta você perde em média 0,5% do seu peso em relação a quem não posta nada).

Sua meta é diminuir o tempo nas redes sociais ou ser um comprador menos compulsivo? A dica é tirar o site (o Facebook, por exemplo) da página de abertura e colocar “senhas-chave” para os sites nos quais deseja ter um comportamento diferente, por exemplo: ao entrar naquele site de roupas que você já está cansado(a) de comprar, se logue com a senha “penseduasvezes” ou “voltedaqui30min”.

Não se esqueça de que “a felicidade futura não tem como compensar de fato a infelicidade de hoje”. Por isso, ao criar metas futuras, estejam certos de que ela vai ser alcançada. Geralmente as metas que envolvem dinheiro são as que mais dão erradas. Não seja o arquiteto de sua própria destruição, como escreveu Shakespeare em Macbeth.

Para finalizar, não posso ser injusto e dizer que o autor não fala sobre as aceitações das tristezas. Para Dolan, aceitar os dessabores é necessário na vida e não podemos encará-los sempre como uma patologia.

Que vocês tenham um 2016 mais feliz!

 

 

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