Menos Gregório, mais oswald. por um ano novo pra chamar de seu.

Por Diogo Pereira

Parar de fumar. Voltar a estudar. Começar uma dieta. Economizar dinheiro. Viajar mais. Ajudar uma instituição de caridade. Casar. Ter filhos. Casar e ter filhos.

Mais certas que a piada do pavê na casa do tio [preencha aqui o nome do seu tio piadista], as promessas de fim de ano reaparecem a cada ano novo que se aproxima. E na mesma velocidade que surgem, desaparecem antes mesmo do carnaval chegar.

E mesmo o carnaval sendo um ano novo fora de época do brasileiro, nem essa repescagem faz nossas promessas saírem do papel.

Seria uma preguiça cultural nossa? Duvido. Não vejo recordes de novos atletas e antigos fumantes mundo afora a cada mudança de ano. Mas talvez um de nosso mais ilustres conterrâneos possa ajudar a resolver o problema.

Oswald de Andrade escreveu no século passado o Manifesto Antropófago, sintetizando alguns de seus pensamentos sobre o recém-inaugurado Modernismo brasileiro. O ano era 1928, mas ficou mais conhecido com o ano 374 da deglutição do Bispo Sardinha — morto em um ritual antropofágico pelos índios caetés.

Por ser o manifesto uma inauguração e valorização de uma cultura genuinamente brasileira, Oswald recusa o calendário gregoriano, tradicionalmente europeu, e funda o seu próprio .

E mais do que recusar uma outra cultura, ele recusa que outros ditem o ritmo do brasileiro e como ele vai se formar como povo, parando de correr atrás do tempo e permitindo nos apropriarmos dele.

Primeiro o fato, depois a data. E assim, pela primeira vez, o Brasil achou sua cadência.

E é exatamente onde Oswald acertou que nossas promessas de ano novo sucumbem.

Ao seguir um calendário imposto por alguém — no caso, o Papa Gregório XIII -, corremos atrás do tempo ao invés de controlar ele. Justamente na época mais festiva e relaxada do ano resolvemos ser justos, nobres e comprometidos (e, consequentemente, fracassados).

No dia em que estiver preparado, aja. Se falhar, tente novamente. Recomece. Até acertar.

E quando perceber que finalmente teve sucesso, lembre-se com carinho do dia que sua jornada começou. E comemore o mês 10 do abandono do maldito cigarrinho. O ano 15 da conquista da Europa pela família Oliveira. O ano 7 da morte do gordinho preguiçoso interior.

E quando o ano novo do Papa chegar, vai haver muito mais anos novos pra comemorar e menos pra se cobrar.

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