Quem decide o que você vê no Facebook?

Toda vez que você abre o seu Facebook, uma mágica acontece e você nem percebe. Uma mágica que só é possível graças a décadas de evolução dos algoritmos computacionais, milhares de horas de trabalho de alguns dos engenheiros mais talentosos do mundo, e regras super complexas definidas por designers dos quais você nunca nem ouviu falar.

Funciona mais ou menos assim.

Primeiro um algoritmo varre tudo o que cada um dos seus amigos publicou na última semana. Cada uma das pessoas que você segue, cada um dos grupos dos quais você participa, cada página que você “curtiu” na rede social. Para o usuário médio de Facebook, o número de posts ultrapassa os 1.500 (mas para usuários mais ativos esse número chega tranquilamente a 10.000).

Mas é óbvio que o Facebook não vai colocar os 10.000 posts na sua frente, de uma vez só. Você nunca teria tempo suficiente (nem paciência) de ler tudo, certo?

Imagine se o Facebook mostrasse os 10.000 posts de uma vez pra você...

Imagine se o Facebook mostrasse os 10.000 posts de uma vez pra você…

 

Daí vem a segunda parte do processo.

Um algoritmo super complexo define o que o Facebook realmente vai mostrar para você. Esses milhares de posts da última semana são categorizados e rankeados na ordem em que o Facebook acredita que você vai preferir – começando pelos posts mais recentes e dos seus melhores amigos.

Desses 10.000 posts, o Facebook te mostra sabe quantos? Aproximadamente 100.

Pois é.

E é por esse mesmo motivo que muitas vezes seus próprios posts no Facebook conseguem muito menos “likes” e “comments” do que você esperava conseguir.

Você já deve ter passado por isso: você prepara estrategicamente um post super bacana, com a melhor foto que você conseguiu encontrar e a melhor legenda que seus anos estudando Literatura são capazes de elaborar. Tudo isso acreditando que será um post incrível, com um monte de gente curtindo, comentando, estufando seu ego e enchendo sua vida de alegria.

E depois que você posta, vem a decepção: 3 curtidas.

Bom, pelo menos agora você já sabe que não é culpa sua.

Se dos 10.000 posts dos seus amigos, o Facebook só te mostra 100, você não precisa ser um gênio da matemática para descobrir que das centenas de amigos que você tem na rede social, só uma parcela deles vai realmente ver aquele seu post criado com tanto carinho. Pra ser mais exato: 12% dos seus amigos vêem o seu post. Se você tem uns 500 amigos no Facebook, provavelmente 60 vêem. E nem todos esses 60 vão calhar de abrir o Facebook naquele dia…

 


 

Uma fórmula mais secreta do que a da Coca-Cola

É claro que essa fórmula que decide quem vê o quê no Facebook é um segredo guardado a sete chaves. Ninguém diz exatamente como funciona. Afinal, é esse mesmo algoritmo que faz com que as páginas das marcas tenham que pagar bem caro ($$$$$) para conseguir fazer um post aparecer na sua frente – no meio desses 100 outros posts que o Facebook escolheu.

O algoritmo do Facebook é tão secreto que uma porção de empresas passam horas tentando decifrá-lo

O algoritmo do Facebook é tão secreto que existe uma porção de empresas tentando decifrá-lo

Outra coisa interessante: o Facebook está constantemente aprimorando esse feed de posts. Toda vez que você clica em “Não quero mais ver esse post”, ou clica em “Ocultar”, esse clique é salvo num banco de dados para que um outro algoritmo analise o porquê do site ter entregue um post que você não gostou de ver. Sem contar que vez ou outra o Facebook convida os usuários a responderem a algumas perguntas para aprimorar o feed de notícias.

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Oi Fulano, me ajuda a te ajudar? (e a fazer mais dinheiro com anunciantes?)

Tudo precisa ser cuidadosamente pensado. Quando o seu site possui 1 bilhão de usuários ativos no mundo todo (que visitam o site pelo menos uma vez por semana), qualquer mudança minúscula nesse algoritmo pode significar usuários chateados e milhões de dólares a menos de faturamento com os posts patrocinados.

 


 

A matemática dos posts

Um algoritmo nada mais é do que uma série de fórmulas matemáticas que decidem qual post você não pode deixar de ver, e qual post é melhor que você não veja para não estragar o seu dia.

Mas computadores não têm bom senso para tomar essa decisão sozinhos, obviamente.

Então alguma coisa que tenha bom senso (por exemplo: um ser humano) precisa “ensinar” esse computador a escolher os posts que você vai ver na sua frente quando abrir o Facebook daqui a 5 minutos.

Como funciona?

A cada um daqueles 10.000 posts que o Facebook analisou é atribuída uma nota, chamada de pontuação de relevância. Na prática, ela tenta descobrir o quão relevante determinado post é para você.

Essa nota é baseada em vários aspectos:

  • A pessoa que postou é um amigo próximo, ou só um conhecido?
  • Há quanto tempo você é amigo daquela pessoa?
  • Vocês e aquela pessoa autora do post costumam trocar mensagens inbox com frequência?
  • Você costuma curtir as coisas que aquela pessoa posta?
  • Aquela pessoa costuma curtir as coisas que você posta?
  • Opa, vocês foram jantar juntos semana passada?
  • Os melhores posts daquela pessoa são fotos, textos ou links pra outros sites?
  • Há quantas horas aquele post foi publicado?
  • O post daquela pessoa já está fazendo sucesso entre outros amigos, ou não recebeu nenhuma curtida?
  • Etc, etc, etc.

Depois que todas essas perguntas são respondidas, o post candidato-a-aparecer-no-seu-newsfeed recebe uma nota, assim como acontece com os outros 9.999 posts. O próximo passo é definir uma nota de corte, para que somente os 100 posts mais interessantes sejam exibidos no seu feed de notícias.

As decisões são todas baseadas em observar os usuários e como eles se comportam na rede social. E como “observar” passa a se tornar impossível quando existem mais de um bilhão de usuários a serem observados, essa observação toda passa a acontecer também programaticamente – por um computador que monitora tudo o que você faz por lá.

O algoritmo que mede a possível popularidade de um post é tão avançado, mas tão avançado, que ele consegue medir até os mais sutis dos seus traços comportamentais. Se você “curtir” um post antes de clicar para ler o post todo, ele recebe uma nota menor dentro desse algoritmo do que se você ler o post todo e depois clicar “curtir”. Afinal, se você curtiu o post sem ler é possível que tenha feito somente por educação ou por politicagem com o amigo em questão. (Fonte)

Leia também: o Facebook monitora até o que você não publica >

Outro fator importante é o tempo que você gasta em um post.

Se quando você vai descendo pelo newsfeed você gasta mais tempo em determinada história, isso pode significar que você confia/respeita/se interessa mais do que a média pela pessoa que publicou aquele post. “E não é tão simples quanto 5 segundos = bom /2 segundos = ruim. Tem mais a ver com o tempo que você gasta em cada post em comparação com outros posts no seu feed de notícias”, explica Max Eulenstein, gerente de produtos do Facebook.

 


 

Um time de craques nos bastidores

Agora imagine o tamanho do computador que decide isso tudo em milésimos de segundo. E imagine o tamanho do time de pessoas trabalhando nos bastidores para decidir como esse algoritmo deve funcionar.

Escritório do Facebook em Menlo Park, CA

Escritório do Facebook em Menlo Park, CA (Fonte)

A verdade é que o Facebook possui um time inteiro de pessoas aqui na Califórnia dedicadas a manter esse algoritmo sempre afiado – de engenheiros, a cientistas de dados, a antropólogos, a designers e gerentes de produto.

Uma parte do time (o pessoal com bagagem em Humanas) trabalha conversando com usuários, entendendo o que é importante para eles, e traduzindo aqueles sentimentos e traços comportamentais em regras para o algoritmo.

A outra parte do time (o pessoal com bagagem em Exatas) trabalha analisando números e escrevendo aquelas regras todas de uma forma que um computador consiga entender.

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Então para (finalmente) responder à pergunta original do título do post: quem decide o que você vê no Facebook são esses caras da foto aí em cima. E quem decide o que eles decidem são os chefes dele. E quem decide o que os chefes deles decidem é o nosso amigo Zuckerberg.

Ah, e agora que você já entendeu mais um pouco de como essa maluquice de algoritmo funciona, comece a reparar mais no post que aparece em primeiro lugar no topo do seu feed de notícias quando você abre o Facebook. Ele é um verdadeiro campeão: passou pelo sofrido inquérito descrito acima com toneladas de perguntas capciosas, recebeu a maior nota de todas, e ficou na frente de outros 9.999 posts. Ele merece seu like, vai?


 

Fabricio Teixeira é designer e trabalha para deixar sua vida mais fácil.
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