Boicote ao Oscar: O que está acontecendo com Hollywood?

por Estevan Sanches

É muito provável que você já tenha lido alguma notícia a respeito do boicote ao Oscar 2016, incitado (mesmo que não propositalmente) por Spike Lee e Jada Smith. Dentre os indicados a melhor ator, pelo segundo ano consecutivo, nenhum dos concorrentes era negro. Em um ano com atores com representações marcantes como Michael B. Jordan (Creed: Nascido para Lutar), Idris Elba (Beasts of No Nation) e o próprio Will Smith (Um homem entre gigantes) é no mínimo curiosa essa exclusão, principalmente por conta do último ator citado ter concorrido no Globo de Ouro 2016 como Melhor ator de drama (e na ocasião ter perdido o título para Leonardo DiCaprio por O regresso). Na categoria a melhor atriz, o mesmo cenário se repte: todas são caucasianas.
É curioso constatar que nem mesmo hispânicos ou asiáticos concorrem dentre os 20 candidatos nas principais categorias de atuação.

O início da polêmica

O primeiro representante da indústria cinematográfica a constatar de que havia algo errado pelo segundo ano consecutivo foi o diretor Spike Lee, que recebeu em novembro do ano passado o Oscar honorário em celebração a sua carreira, ao postar uma foto em seu Instagram, não por acaso no aniversário de Martin Luther King, dizendo que não compareceria ao evento em 2016.

spike lee

Em seguida, Jada Smith postou em sua página no Facebook um vídeo falando a respeito do mesmo tema, e que também não iria comparecer a cerimônia realizada nesse ano.

We must stand in our power!We must stand in our power.

Posted by Jada Pinkett Smith on Monday, January 18, 2016

A polêmica foi ainda mais incitada quando a atriz britânica Charlotte Rampling, indicada ao Oscar de melhor atriz pelo filme 45 anos, disse no dia 22/01 que o protesto do diretor Spike Lee é “racista contra os brancos”. Durante a mesma entrevista a rádio francesa Europe 1, a atriz ainda disse que “Não dá para saber, mas talvez alguns atores negros não merecessem estar na reta final”.

Em reação as críticas que estavam aumentando (a hashtag #OscarsSoWhite foi extremamente disseminada), a academia resolveu tomar algumas medidas: até 2020, foi prometido que o número de mulheres e etnias diversas que a constituem dobrem de número.
Além disso, os membros que não permanecerem ativos na indústria durante a última década (a não ser que tenha sido indicado ao Oscar em alguma categoria, nesse caso o membro será considerado vitalício).
A academia também diz que deseja realizar uma campanha de nível mundial com o objetivo de selecionar pessoas diversas que possam vir a tornarem-se novos membros.
Essa não é a primeira vez que a academia realizou uma adaptação a fim de atender ao público: em 2009, quando Batman: O cavaleiro das trevas fez mais de 1 bilhão de dólares em bilheteria mundo afora e não foi indicado a nenhuma categoria da premiação, a partir de 2010 a academia aumentou para 10 indicados a categoria de melhor filme, a fim de aumentar a representatividade dos filmes que concorrem nela.

Sobre a academia

É interessante ressaltar alguns dados a respeito da própria academia para enxergar melhor o cenário em que ela atualmente se encontra. Um estudo da Los Angeles Times, realizado em 2012, mostrou que dos seus 5,765 membros votantes, 94% são caucasianos (os negros constituem aproximadamente 2% e os latinos menos de 2%), e 77% são homens. Esse dado por si só já nos dá uma ideia de como é a relação entre as minorias não sentirem-se representadas ao acompanharem a cerimônia.
Outro importante fator: a idade média dos membros é de 62 anos. Somente 14% deles possuem uma idade inferior a 50 anos.

Ao observarmos quantos artistas negros já venceram a estatueta como melhor ator, melhor atriz, melhor ator coadjuvante ou melhor atriz coadjuvante, o número é estarrecedor: somente 15 atores, nos 87 anos de história do Oscar, já conquistaram uma estatueta dentre as quatro categorias mencionadas.

Um vídeo bem interessante foi publicado no site do jornal a quatro anos atrás, e traz um panorama mais detalha a respeito da disparidade entre diversidades étnicas nos membros da academia

O problema vai além da academia e se estende a própria indústria, uma vez que os estúdios não abrem muito espaço para blockbusters protagonizados por mulheres, negros, latinos e minorias em geral, e por mais que uma mudança venha sendo acompanhada recentemente, com filmes de ação como Jogos Vorazes tendo como principal protagonista uma mulher, ou o filme do super-herói Pantera Negra da Marvel que chegará aos cinemas em meados de 2017, a disparidade ainda é gritante.
O problema de representativa na indústria cinematográfica estadunidense é estrutural: é perpetuada por conta de uma cadeia que faz com que nós observemos em grande parte dos filmes assistidos, protagonistas brancos. Além de ser algo que exige enorme atenção dentro da indústria, e os impactos sociais que isso traz mundo afora, uma vez que os filmes de Hollywood exercem grande influência por parte de seus espectadores? É importante a academia adaptar-se a representatividade de seu público, para que continue sendo considerada como o Oscar dos longa metragens, e não somente uma premiação qualquer.

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