‘Anomalisa’ e ‘o inferno são os outros’

O filme começa a rodar. O incômodo da platéia começa a ser percebido: é uma animação, sim, mas para adultos – talvez uma liberdade permitida pelo fato de o filme ter sido bancado via Kickstarter, o que deu total autonomia ao roteirista e cineasta Charlie Kaufman, de Quero Ser John MalkovichBrilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças .
Com toda a provocação e leves constrangimentos que se espera de algo assim, o incômodo mesmo é quando começa-se a perceber que todos os personagens são dublados pela mesma voz – e até o mesmo rosto. E como essa voz onipresente irrita o protagonista!

Michael chega de Los Angeles a Cincinnati (Ohio) para palestrar sobre seu livro e sua especialidade: Atendimento ao Cliente. Perdido em emoções, com excesso de passado e confusões no presente, os gatilhos para sua ansiedade e nervosismo estão por toda parte. Os problemas são muitos, a estafa é iminente. Até que Lisa aparece. E Lisa é a única personagem que, assim como ele, tem uma voz (dublagem) própria. Isso encanta Michael e a gente, que assiste, nota o ar de Eldorado (ou Tábua de Salvação) que o roteiro tenta construir, para o protagonista, a partir daí.
Adiante, até mesmo isso começa a mudar e o espectador intrigado percebe que O Inferno Nem Sempre São os Outros. Pois mesmo quando um “bote salva-vidas” aparece nessa vida, ele logo se infernizará também, uma vez que, na maioria dos casos, o inferno que vemos nos outros está dentro da gente.

Assista! De uma humanidade ímpar, Anomalisa é daqueles filmes que tocam diferentes pessoas de diferentes modos, o que permite muitas leituras e vários viéses… e rende papo pra mais de hora.

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