O filme Brooklyn e o american dream além de Manhattan

O Oscar está chegando. Ainda dá tempo de fazer uma maratona dos principais concorrentes às estatuetas.

“Brooklyn”, longa anglo-canadense-irlandês dirigido por John Crowley e escrito por Nick Hornby, concorre em três categorias: melhor filme, melhor roteiro adaptado (ele é uma adaptação do livro homônimo de Colm Tóibín) e melhor atriz, para a protagonista Saoirse Ronan.

O drama conta a história da jovem irlandesa Ellis (Saoirse Ronan), que se muda da sua terra natal e vai morar no Brooklin, em NY, em busca de uma vida melhor. Deixando pra trás sua mãe, irmã e um emprego bem sem graça em um armazém, ela embarca rumo aos Estados Unidos a bordo de um navio um tanto quanto desconfortável, levando uma mala com todas as suas coisas – que podem ser resumidas em cinco mudas de roupas, no máximo. Durante a viagem, ela passa mal e precisa lidar com colegas de cabine desagradáveis, mas o sufoco termina quando ela chega ao destino final.

brooklyn 1

Em uma residência para moças, comandada por Madge Kehoe, Ellis faz o tipo boa menina, ao contrário das suas companheiras de casa. Aqui, fica evidente a repressão social sofrida pelas mulheres naquela época – metade do século passado – muitas vezes por parte das próprias mulheres, que reprimem umas às outras. A missão fica a cargo da personagem de Julie Walters, dona da pensão, que acerta na interpretação e acaba sendo a responsável pelas passagens mais divertidas do filme.

Após algumas dificuldades iniciais, causadas principalmente pela sua timidez, Ellis começa a sentir-se à vontade em sua nova casa – tal mudança é reforçada pela transformação no estilo de se vestir da personagem, que abandona aos poucos o visual mais “careta” da moça irlandesa, composto por casacões longos, de cores escuras, e adota peças como vestidos rodados, de cores claras, e óculos escuros mais ousados.

A primeira vez que Ellis se define como “feliz” nos EUA é quando ela começa a namorar Tony, um italiano. Tudo ia bem em sua vida amorosa, até que um acontecimento inesperado em sua família a obriga a voltar para a Irlanda. Lá, ela relembra algumas coisas boas que tinha na vida antiga, como a convivência com a mãe, e se depara com novas oportunidades, como uma oferta de emprego e um possível novo – e rico – interesse amoroso. O conflito: continuar no Brooklin ou voltar de vez para Irlanda é, então, o arco dramático da história.

O enredo é ótimo, mas a adaptação para o cinema deixa a desejar em alguns pontos. Muitas cenas se passam de forma arrastada e faltam grandes reviravoltas na história. Uma das cenas mais fortes é uma discussão entre Ellis e sua antiga patroa, Miss Kelly, quando ela volta dos EUA para a Irlanda e é acusada de adultério. Mas, ainda assim, o que vemos uma chacoalhada no ritmo do filme ser lapidada, mas não acontecer de fato.

Saoirse Ronan in Brooklyn

Como melhor filme, talvez as chances são poucas, mas Saoirse Ronan segue firme na disputa pela estatueta de melhor atriz. A jovem, que tinha apenas doze anos de idade quando recebeu a sua primeira indicação ao Oscar, por “Desejo e Reparação”, consegue grandes cenas, especialmente quando está em silêncio – por mais irônico que isso pareça. São nesses momentos em que seus olhos azuis – hipnotizantes – falam e chamam a atenção para um trabalho de atuação sutil e delicado. Suas movimentações são tímidas, discretas e tranquilas, mas conseguem transparecer a agitação interna que se passa nos pensamentos e sentimentos da personagem.

Como em algumas pessoas.

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