Estamos vivendo uma inédita nostalgia musical

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Quando o assunto é o mercado fonográfico, prefiro levantar questionamentos a derramar certezas, mas o título do post é uma.

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Todo fim de ano, a Nielsen, empresa de dados responsável por apresentar estatísticas de venda no mercado musical, divulga um relatório bem completo referente à venda de discos naquele período de 12 meses, tanto físicos quanto digitais, nos EUA. É no estudo que a Billboard baseia-se para as suas famosas listas, por exemplo.

Um excelente compilado de informações interessantíssimas.

Você pode dar uma olhada nele aqui.

No último ano, um marco inédito apareceu nesse relatório: pela primeira vez, “álbuns de catálogo” – aqueles que foram lançados, pelo menos, há 18 meses – venderam mais do que lançamentos atuais. Dez anos atrás, por exemplo, a diferença entre eles era de 150 milhões de álbuns novos vendidos a mais do que os de catálogo.

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Entre os motivos, provavelmente, estão:

01. Queremos matar as saudades das músicas que ouvíamos antigamente e,
02. Temos medo de não ter mais esse material à disposição – então melhor comprar pra garantir logo.

Ao mesmo tempo, dando uma pesquisada no eBay ou em outros sites de compra de produtos usados, encontramos muitos anúncios de modelos de aparelhos de reprodução musical não exatamente antigos, mas já um tanto quanto obsoletos.

Um exemplo é o iPod Classic, da Apple, que deixou de ser vendido pela marca em setembro de 2014, quando o objeto que permitia levar nossas músicas preferidas no bolso já não era mais útil em um mundo em que Apple Store e Google Play estão recheados de opções de aplicativos que permitem que você reproduza milhões de músicas sem a necessidade de “baixá-las”. Ou o avanço dos serviços de streaming.

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Estaria aí outra prova da nossa nostalgia musical? Talvez.

A questão é que esses aparelhos possuem até 256 GB de espaço – o que significa que comportam até 50 mil músicas. Quantas músicas será que você, realmente, precisa? Ou escuta? Para quem sofre com os altos custos dos planos de dados móveis ou com o serviço de péssima qualidade dos mesmos, a alternativa mostra-se sim uma boa opção.

Ainda estamos longe de viver rodeados de wi-fi de boa qualidade. Ainda mais por aqui. Além disso, quem tem smartphones sabe que o tempo de duração das baterias também está longe de alcançar as nossas expectativas. Superar, então… Some esses fatores ao fato de que é muito mais fácil sincronizar discos inteiros do computador para um aparelho do que depender da internet móvel para fazer isso via aplicativo e compreendemos ainda mais a busca por esses aparelhos fora de catálogo.

Hoje, as empresas de tecnologia não fabricam mais reprodutores de mídia portáteis de alta capacidade. Ficou uma brecha no mercado para quem deseja ouvir música onde quiser sem a necessidade de uma conexão à internet.

Além dos iPods, as vendas de vinil nos EUA alcançaram seus números mais altos desde o surgimento dos primeiros CDs, em 1989. Na primeira metade de 2015 foram nove milhões de álbuns vendidos e, em 2014, 14 milhões no ano ao todo.

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Ainda segundo o relatório de música da Nielsen, os vinis mais vendidos foram “Dark Side Of The Moon”, do Pink Floyd, “Abbey Road”, dos Beatles e “Kind of Blues”, de Miles Davis. Mas o desejo não é só ouvir música “antiga” no vinil. “25”, da Adele, vendeu 22 mil discos de vinil em sua primeira semana – nada mais nada menos do que o terceiro melhor desempenho já registrado pela Nielsen. Como já era previsto, chegou aquele momento em que o vinil está mesmo na moda – outro dado interessante: a Amazon, maior varejista do mundo, teve a vitrola como seu produto de áudio mais vendido no Natal de 2015. Na Grã-Bretanha, foi registrada uma venda de vitrola por minuto na mesma época.

Aí eu penso… quem comprou o “Dark Side Of The Moon” o ano passado?

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Conclusão?

Não é segredo que a indústria fonográfica está em crise – ou melhor, em constante transformação/atualização/experimentação de caminhos – mas, ainda assim, em 2015 a venda de vinis no mundo aumentou em 30%, e representou ao todo 10% das vendas de discos físicos.

No mesmo ano, a venda de LPs superou o rendimento de quatro gigantes no streaming mundial juntos. Sim. Talvez o dado mais importante deste artigo gigante… YouTube, SoundCloud, VEVO e Spotify lucraram, somados, cerca de 160 milhões de dólares, enquanto a venda de LPs somou mais de 220 milhões de dólares.

Independente de fatores como qualidade técnica e praticidade, a tendência nostálgica musical tem muito mais a ver com o sentimento relacionado à atividade e comportamento ao ouvir música, seja ela nova ou antiga. Ainda bem.

O desapego e rapidez proposta pelos serviços mais recentes são úteis, claro, mas nada se compara ao ritual apaixonante de colocar uma música, ainda mais apaixonante, para tocar.

Ainda bem.

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