seus eus

Não tem o mini-me (do Austin Powers)?
Então, esse é o MANY ME.

Ontem à noite eu dei de cara com um texto sobre “realismo modal”, que é aquela teoria que fala sobre os “mundos possíveis”, derivados das coisas que você NÃO escolheu na vida, e que são tão reais quanto essa versão que você está vivendo agora. E que tem um monte de outros “você” por aí, vivendo cada uma dessas outras escolhas.

Parecido com a teoria do multiverso, você conhece.

Por exemplo, você está aqui comigo neste post, mas existem infinitas outras versões suas vivendo outras realidades, como o “você” que não parou aqui, mas sim preferiu ir buscar um café.

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Papo de maluco, mas muito interessante e divertido de se refletir. Aliás, nem precisa pensar nesses multiversos que você está iniciando a cada decisão pra pirar. Basta pensar para trás, na improbabilidade dessa sua existência, que é resultado de zilhões de acontecimentos anteriores e que, se apenas um deles fosse diferente… puff! você já elvis.

MV

Enfim, antes que a coisa complique, toda vez que esse assunto vem à tona eu acabo lembrando do conto “SUBJECTIVE” do David Eagleman, autor de um livro que eu volta-e-meia eu leio de novo. Então taí, pra você conhecer e… refletir.

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Para ampliar, clique na imagem (ou leia em português, abaixo)

 

 

SUBJUNTIVO

David Eagleman
(traduzi livremente)

No além, você não é julgado comparado aos outros, mas sim comparado a você mesmo. Mais especificamente, você é comparado com o que você poderia ter sido.

Por isso o além é quase igual ao mundo mesmo, só que nesse estão todas as suas versões, as versões do que você poderia ter sido.

Você pode encontrar, por exemplo, uma versão sua mais bem sucedida no elevador, aquele você que saiu 3 anos mais cedo da sua cidade natal.

Ou talvez o você que embarcou em um avião e acabou sentando bem ao lado do presidente de uma grande empresa, onde acabou sendo contratado.

À medida  que você vai encontrando esses outros vocês, você sente uma espécie de orgulho, como se um primo tivesse se dado bem na vida. Mesmo o mérito não sendo seu, de alguma forma você se sente um pouquinho parte dele.

Mas logo você começa a se sentir intimidado.

Esses vocês não são você.

Eles são melhores que você.

Tomaram decisões melhores que você, trabalharam mais que você e empurraram com mais força as portas que estavam fechadas. Portas, que muitas vezes acabaram sendo abertas na marra, no esforço. E arrombadas, encheram suas vidas de novas cores, novos lugares e novas direções.

Esse sucesso todo não pode ser explicado por qualidades natas, a genética é a mesma. Eles simplesmente jogaram melhor, com as mesmas cartas que você tinha. Em suas vidas paralelas, fizeram escolhas melhores, evitaram as tentações morais, não desistiram do amor tão facilmente. Se empenharam mais do que você para reparar os erros, pediram desculpas mais vezes.

Com o passar do tempo, a convivência com os vocês melhores do que você vai ficando insuportável. Você percebe uma competitividade crescendo dentro de você, como nunca aconteceu antes, com nenhuma outra pessoa durante a sua vida inteira.

Você tenta então se enturmar com os vocês piores que você, mas aí fica pior ainda. Suas versões pioradas são antipáticas, preguiçosas e indolentes.

“Se vocês não tivessem ficado assistindo tanta televisão e tivessem levantado essas bundas dos sofás, não estariam nessa situação”, acusa você. Isso, quando fala com eles.

E os vocês melhores que você não param de desfilar na sua frente.

Na livraria um deles passeia de braços dados com aquela namorada super carinhosa que você deixou escapar. Um outro você procura na prateleira um livro que ele acabou de escrever. E olha lá aquele outro você, correndo pela rua. Tem um corpo muito melhor que o seu, também, nunca largou a academia como você sempre fez.

Você vai ficando na defensiva, procurando os motivos para não ter sido melhor, mais aplicado. Deprimido, você arrasta dois vocês piores que você para um bar, mas bem na mesa ao lado os vocês melhores que você estão erguendo brindes, comemorando alguma coisa e pagando bebidas para todo mundo.

E assim, sua punição no além é sabiamente e automaticamente regulada.

Quanto mais você desperdiça seu potencial durante a vida, mais vocês melhores que você vai precisar aguentar.

 

“Subjunctive” faz parte do livro “SUM”, de David Eagleman – um neurocientista que de dia trabalha no Texas Medical Center de Houston e à noite escreve livros como esse, bestseller do New York Times. SUM é uma coletânea de contos com o mesmo tema: hipóteses sobre o acontece na vida após a morte. No Brasil o livro se chama “A Soma de Tudo” e infelizmente ganhou a capa mais horrível possível, uma pena.

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