O extraordinário Cattywampus

O texto abaixo (fiz uma tradução livre) foi publicado no Reader’s Digest em abril de 1992 e é mais um exemplo daquele tipo de professor que fica para a vida inteira na memória de seus alunos.

 

O MELHOR PROFESSOR QUE JÁ TIVE

David Owen

O senhor Whitson ensinava ciências na 6ª série. No primeiro dia de aula ele falou sobre o cattywampus, um animal incrível de hábitos noturnos, extinto durante a Era do Gelo. Enquanto falava, passou um crânio entre os alunos. Fizemos várias anotações e no final da aula recebemos um teste para avaliar o que aprendemos.

Quando recebi a prova corrigida, não acreditei. Tinha um “X” vermelho em TODAS as respostas. Só podia ser um engano. Eu tinha escrito exatamente o que o professor Whitson havia dito. Então percebi que todo mundo na classe também tinha errado todas as questões. O que aconteceu?

Muito simples, o professor explicou. Ele tinha inventado tudo aquilo, o cattywampus nunca existiu e portanto toda a informação em nossas anotações estava errada. Desnecessário dizer que ficamos revoltadíssimos. Como assim “nunca existiu”? Que professor é esse, que faz uma coisa dessas? E ainda dá uma prova e zera todo mundo?

“Vocês deveriam ter percebido”, ele disse.

Afinal, enquanto o crânio (que na verdade era de um gato) passava de mão em mão pela sala, ele afirmou que não havia sobrado nenhuma evidência da tal criatura. Fez uma minuciosa descrição de uma visão noturna sem igual, falou sobre a cor e a textura da pelagem e muitas outras coisas que jamais poderia saber. Tinha até inventado um nome ridículo para o animal, mas mesmo assim ninguém desconfiou de nada.

“E esses zeros vão contar na avaliação do trimestre”, ele disse. E assim foi.

O professor Whitson disse que esperava que aprendêssemos uma lição com essa experiência. Professores e livros não são infalíveis. Na verdade, ninguém é. Ele nos disse para nunca deixar nosso cérebro dormindo e sempre questionar quando achássemos que ele ou qualquer livro estivessem errados.

Toda aula com o professor Whitson era uma aventura. Ainda lembro de algumas do começo ao fim. Quando por exemplo ele nos disse que seu fusca era um organismo vivo.

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Nós precisamos de dois dias inteiros para conseguir elaborar um argumento contrário, suficientemente bom para que ele aceitasse. Ele não nos deixou sossegar até que tivéssemos provado – não apenas que sabíamos o que era um organismo – mas também que podíamos defender de forma satisfatória essa nossa tese.

A partir daí, começamos a levar o nosso recém-adquirido ceticismo para todas as outras aulas. Foi um pesadelo para os outros professores, que não estavam acostumados a serem confrontados e desafiados. O professor de história começava a falar sobre alguma passagem meio questionável e de repente alguém já dizia: “cattywampus”.

Se alguém me perguntasse como tornar nossas escolas melhores eu simplesmente falaria sobre o professor Whitson. Pessoalmente não fiz nenhuma grande descoberta científica, mas eu e todos os meus colegas de classe desenvolvemos algo tão importante quanto: a coragem de olhar outra pessoa no olho e dizer que ela está errada. E porque está errada. E como fazer isso. Ele também nos mostrou que é até possível se divertir nesse processo. Mas nem todo mundo vê valor nisso. Uma vez contei sobre o senhor Whitson a um professor de ensino fundamental e ele ficou horrorizado.

“Ele não devia ter enganado vocês assim”, disse.

Eu o olhei nos olhos e disse que ele estava errado.


 

Texto original em inglês (“Best Teacher I Ever Had”), aqui.

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