Para a indisciplina: Pinochet ou Piaget?

[mks_dropcap style=”letter” size=”52″ bg_color=”#ffffff” txt_color=”#000000″]E[/mks_dropcap]ra o meu primeiro horário do dia. Na manhã anterior, havia decidido mudar de postura em sala de aula. Meus métodos progressistas não estavam funcionando por causa do comportamento dos alunos. Seria, portanto, mais rígida.

Em um dia de intensa reflexão, relembrei todos os ensinamentos que recebi nas disciplinas de Licenciatura: de Paulo Freire à Piaget. E cheguei a seguinte conclusão: essas teorias só funcionarão quando os condicionantes sociais forem favoráveis à realização de uma prática escolar justa. Ou seja, num futuro utópico. Não que eu me sinta pessimista com relação ao futuro da Educação. É que tenho bebido outras fontes. Ultimamente leio Vincent, que diz que “a forma escolar” é imbricada às formas de sociabilização. Simplificando, a escola não mudará se a sociedade não mudar. François Dubet já tinha dito que o sistema escolar cristaliza um conjunto de interesses sociais tão sólidos quanto discretos. Quem está na sala de aula de escolas públicas estaduais (salvo exceções) sabe: Não adianta o que você faça. Há um conjunto de mecanismos que lhe impedem de tornar cidadãos aqueles sujeitos excluídos socialmente. E tais mecanismos se expressam mais dramaticamente na indisciplina em sala de aula. O que nos motiva, enquanto professores, a tomar posturas autoritárias. Foi o que fiz.


Primeiro horário em uma turma do 1º ano. Exigi silêncio e solicitei que os celulares fossem guardados, juntamente com os fones de ouvido.


Voltando à aula. Primeiro horário em uma turma do 1º ano. Exigi silêncio e solicitei que os celulares fossem guardados, juntamente com os fones de ouvido. Em vão. Expliquei a atividade avaliativa (que se tornou avaliativa naquele instante). Coloquei a música “Bye, bye, Brasil”, do Chico Buarque. Escutando-a, eles deveriam traçar a rota do viajante no mapa do Brasil que eu havia entregue. Depois deveriam completar o mapa com seus elementos básicos (criar um título, uma legenda, inferir uma escala…). Depois disso tudo, imaginamos juntos de onde o cara da música estava ligando e onde estava a pessoa que recebia a ligação. Tudo isso para treinar Fuso Horário. Terminada a atividade, eu ainda tinha o “controle” da turma e mais uns minutos da aula. Daí eles pediram que eu repetisse a música. O fiz, e como não havia mais atividade, os incentivei a falar sobre ela. Surgiu uma curiosidade: que fichas são essas que vão terminar? Junto com a curiosidade, surgiu uma discussão sobre evolução tecnológica na comunicação. Falei de um tempo em a telefonia móvel se resumia à “orelhões” com fichas que determinavam o tempo da ligação… Pronto, turma agitada. E interessada. Ótima deixa para resgatar Paulo Freire. Nenhum educador deveria radicalizar nenhuma postura ideológica. Há momentos em que a “forma escolar” tradicional funciona. Outras não. Se a missão é educar, pouco importa em nome de quem ou do que mobilizamos nossas ações. Importa agir.

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