Entrevista com o criador do card game brasileiro Battle Scenes

A Copag do Brasil é responsável por um dos grandes destaques no mercado nacional de card games. Trata-se do Battle Scenes, um jogo colecionável ambientado no universo Marvel e com mecânica criada pelo game designer brazuca Fabian Balbinot.

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Bati um papo com o Fabian para este post do UoD que pode dar uma iluminada na vida de um monte de gente que curte desenvolver games.

UoD: Qual o maior desafio de criar um jogo colecionável, que sempre vai ter desdobramentos?

Ora, os desdobramentos! (risos)
E não deixa de ser verdade. E esses desdobramentos, que tendem a se tornar mais complexos com o passar do tempo, devem resultar em algo que continue sendo agradável, divertido para o público que curte o jogo.
Por sorte, o Universo Marvel também é repleto de desdobramentos, o que permite que possamos nós também continuar desdobrando as coisas em BS.

UoD: Você cria todas as cartas de todas coleções sozinho?

Não. Tenho meu time de testes, que me auxilia na criação, além do próprio pessoal da Copag, que direciona o nosso trabalho. Meu foco principal é o de tentar seguir a temática, a mitologia Marvel tanto quanto possível. Os dos playtesters é incrementar a jogabilidade das maluquices que eu crio. No fim das contas, funciona.

UoD: BS é uma das maiores revelações do mercado lúdico brasileiro. De certa forma, ele prova que é possível lançar um produto duradouro e de qualidade. A presença dos personagens da Marvel é um ponto forte do game. Como você vê a questão do licenciamento no BS?

O licenciamento direto da Marvel não é algo sobre o que eu tenha como responder. Julgo, pelo que sei, que a Copag trabalhou e fez por onde conquistar essa parceria, mas desconheço os pormenores que regulamentam tal relacionamento, que se estende para todos os produtos Marvel da Copag, e vai muito além de BS.
A questão maior no caso de Battle Scenes é que, devido ao uso de uma grande quantidade de diferentes personagens – coisa que não ocorre em relação aos brinquedos tradicionais e não colecionáveis, que em geral têm os personagens mais clássicos e conhecidos como foco – existe uma porção de complicadores, coisinhas ultra-secretas que não podem ser reveladas, mas que nos obrigam a manter os olhos bem abertos durante todo o processo de criação. Isso pode ser um dificultador, mas esta longe de ser um impedimento na criação do jogo. Como eu disse, os desdobramentos constantes do Universo Marvel oferecem subsídios suficientes para que possamos driblar qualquer impedimento que a licença nos proporcione.

UoD: O que você mais gosta no BS? E conte para a gente algo que não gosta no jogo.

Gosto de ver que a coisa toda está dando certo, e que a temática Marvel pode ser de algum modo vislumbrada durante as partidas de BS. É bem divertido ver os esquemas e combos malucos que os jogadores criam – e mesmo os que a gente mesmo cria durante o desenvolvimento do jogo. E é ainda mais espetacular quando os combos e a mitologia acontecem juntas.

A coisa que mais me irrita em BS não é o jogo em si, mas… err… minha memória. Se você me pedir o nome daquele cenário tal e qual que saiu em Evolução Tática, ou do décimo-quinto personagem publicado nos boosters de Invasão Cósmica, ou ainda, como funciona aquele suporte XYZ, é bem provável que eu não lembre de metade disso aí tudo. Vivo dizendo que tenho memória RAM – apaga tudo assim que eu vou dormir – e isso às vezes me coloca em maus lençóis, principalmente quando eu tenho de lembrar certas coisas mais obscuras sobre textos e nomes de certos cards e regras específicas. Parece constrangedor… e É. Acreditem.

UoD: Que conselho você dá para o pessoal que quer trabalhar desenvolvendo jogos no Brasil?

Sinceramente, não sei que conselho dar. Não consigo ver um bom panorama para o desenvolvimento de jogos de mesa e tabuleiro no Brasil. Segundo as últimas fontes que consultei, as novas empresas de jogos que começaram a surgir estão obtendo destaque pela publicação de jogos estrangeiros, com poucas criações de designers brasileiros, se alguma. E isso é o que eu ouço falar dos grandes centros, São Paulo e Rio. Aqui no sul, onde não existe um mercado ou empresas de jogos, a situação é ainda mais desalentadora.

Graças a uma porção de fatores eu tive a minha chance junto com a Copag e a Marvel com o Battle Scenes, e sou muito grato por isso, mas não consegui dar nenhum passo em relação à publicação de meus outros jogos. Isso pode ser creditado a uma falta de informações mais completas e corretas de minha parte em relação a o que fazer ou que caminho seguir, mas… Parece evidente que não há um método, um caminho a seguir, ou mesmo um mercado que possa absorver o designer de jogos de mesa e tabuleiro aqui no Brasil, uma realidade bem diferente da que se vê nos jogos de celular e computador, onde os designers brasileiros têm um maior destaque, inclusive internacionalmente.

Só posso esperar que essa situação mude em algum momento. Modéstia à parte, alguns de meus outros jogos são bem interessantes… ;)

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BIO:

Nascido em Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, Fabian Balbinot é designer de jogos, criador do TCG Marvel Battle Scenes, escritor e administrador dos websites Magicjebb.com.br , PensamentoporMimMesmo.com.br e LivrariadoInfinito.com.br

 

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