Foi o melhor show do SXSW. Foi, talvez, a melhor palestra de Cannes.
Usar uma música de um artista conhecido como trilha sonora de comercial é uma decisão que corre certo risco: os dois – canção e propaganda – podem ficar para sempre associados, o que, na maioria das vezes, chateia os fãs do artista (e o artista) em questão. Mas as marcas, ao que parece, não se preocupam muito com isso.
Mas… nem todos os autores das músicas.
Afinal, em tempos de mudanças constantes no mercado musical e de decadência da indústria de vendas de CDs, meios alternativos de faturar na área sempre são muito bem-vindos. É essa a bandeira que Iggy Pop – autor de Lust For Life, do comercial da Royal Caribeean – defendeu em Cannes Lions.
https://www.youtube.com/watch?v=N7dCrtdRtZQ
Além desse “empréstimo” do single para essa propaganda, isso já aconteceu com Pop outra vez: foi com Real Cool Time, do Stooges, em um comercial para a pista Detroit Dragway, de automobilismo, em Michigan. O cantor revelou, em Cannes, que demorou 30 anos para que ele percebesse que nunca havia pensado nisso como fonte de renda. Quando viu esse comercial, Iggy ficou surpreso ao entender qual era o real impacto disso. “Senti que era alguém, parte da sociedade”. Como se ele, como músico e personalidade forte, também não impactasse a sociedade com seu trabalho. Claro que são proporções diferentes, mas ouvi-lo falando dessa maneira soa um tanto quanto desanimador.
Não foi a primeira vez que Pop fez declarações do tipo. Em outubro de 2014, ele participou de uma palestra no Radio Festival, em Salford, onde afirmou categoricamente: “Se eu dependesse da venda de CDs, teria de servir mesas”. Em seguida, explicou seu trabalho na publicidade: “Se eu preciso ganhar dinheiro, porque não vender seguro automotivo?”, se referindo ao comercial para a marca Swiftcover. “Pelo menos é honesto. É só um comercial”. Mas ainda bem que ele não abandonou a música em sua essência – na atualidade, com 69 anos, Pop permanece em turnês, nacionais e internacionais, e lançou o álbum em parceria com Josh Homme neste último mês de março.
Há outros bons artistas que também pensam como Iggy quando o assunto é publicidade. Principalmente os envolvidos com a Pepsi – marca que, especialmente fora do Brasil, é recordista em associar artistas e suas respectivas músicas à imagem dela. Sobre o caso do Michael Jackson, prefiro não relembrar (mas coloco aí no final):
Lembrei aqui:
Rolling Stones, com Brown Sugar
Steppenwolf, com Born To Be Wild
Ramones, com Blitzkreig Pop
Michael Jackson, com Billie Jean
[signoff]