Criatividade, dados, astros de ação e Stranger Things.

O primeiro e o último capítulo do novo fenômeno da Netflix, Stranger Things, mostraram, sem nenhuma vergonha, os personagens centrais em meio a sessões de RPG.

Na verdade, as referências foram exploradas de forma muito mais profunda, com o simpático grupo de heróis mirins usando elementos do jogo para tentar explicar aquelas “coisas mais estranhas” que aconteciam ao redor. Daí surgiram pontos altos da produção, como a carga dramática ao redor do monstro Demogórgon ou a existência do Vale das Sombras.

Acho que ninguém que tenha assistido à série duvida do amor de seus criadores – os irmãos Duffer – pelos anos 80. E o RPG entra nesse bolo.

Só que, e se eu te contar que a coisa vai muito além dos irmãos Duffer?

Você sabia que, nesse exato momento, existe uma espécie de sociedade secreta de jogadores de RPG em Hollywood que começou a sair do armário… ou melhor, sair da Dungeon?

Pois é. Mas, antes, uma rápida explicação:

Para quem não faz ideia do que estou falando, o RPG é um tipo de jogo de interpretação de papeis no qual um grupo se une para contar uma história de forma colaborativa. Cada jogador assume o papel de um personagem na história enquanto que um jogador especial veste o manto de mestre – uma espécie de diretor e roteirista de improviso que conduz a trama.

O mais legal do jogo é que, apesar de existirem fichas de personagem, livros, dados e mais alguns acessórios, a coisa toda se passa mesmo é na imaginação da galera.

Pois bem, com o passar do tempo e avanço da tecnologia, o RPG tradicional – ou de mesa – foi perdendo espaço para jogos de videogame ou de computador. Até mesmo os títulos de mesa que resistiram ao período de vacas magras acabaram passando por mudanças nas regras, muitas vezes ficando mais parecidos com strategy games do que com RPGs propriamente ditos.

Mas o hobby foi se mantendo, aos trancos e barrancos, se adequando, se reinventando, até que veio essa onda de revival dos anos 80/90. De repente, o que era brega ou coisa de nerd virou cool. De repente, a diversão pura, simples e ingênua daqueles tempos voltou com força total.

E aí entra aquele grupo de figurões Hollywoodianos que mencionei lá no começo do texto. São pessoas que você jamais imaginaria gastando as horas noturnas de um sábado ao redor de uma mesa, lutando contra dragões imaginários. Quer ver?

Deborah Ann Woll (de Demolidor) é uma mestre de jogo experiente e apaixonada. Outro que é um amante da rolagem de dados é o Vin Diesel. E, já que estamos falando de astros de ação, você alguma vez pensou que o Dwayne Johnson (aka The Rock) também jogasse?

E o criador de Austin Powers, Mike Myers? E a linda da Drew Barrymore? E Jon Favreu, o diretor que deu o pontapé inicial no universo cinematográfico da Marvel?

Todos eles jogam.

E todos eles dizem que o RPG teve um papel fundamental no seu crescimento como storytellers e artistas.

D.B. Weiss e David Benioff, os dois showrunners de Game of Thrones, são só elogios. O criador de Hora da Aventura Pendleton Ward, admite que sua animação é super inspirada pelo jogo. E a mente maluca por trás de Community, Dan Harmon, mantém jogos constantes com figuras como Aubrey Plaza (Parks and Recreation), Kumail Nanjiani (Silicon Valley) e Paul F. Tompkins (Mr. Show With Bob and David).

E o que diabos isso tudo quer dizer?

Que talvez o segredo do sucesso esteja em relaxar, para variar um pouco, e permitir que a criança interior saia para brincar.

Que a chave para uma imaginação mais ativa esteja menos em workshops e TED Talks e na absorção de um repertório imenso e mais no puro prazer de criar sem grandes responsabilidades.

Que, em uma época em que somos cobrados para sermos mais criativos, mais inovadores, mais produtivos, mais geniais e mais originais, a solução pode estar fora do escritório ou da agência, além das horas-extras ou projetos paralelos, mas dentro de um porão escuro, ao redor de uma mesa, cercado de amigos e rolando dados de 20 lados.

Se você jogava RPG, trate de tirar a poeira dos dados.

Se você nunca jogou, não poderia escolher um melhor momento para começar.

Afinal de contas, como bem disse Martin Starr (Silicon Valley):

“Os nerds dominaram o mundo”.

Fireball!

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