Até enterrar as quilhas na areia

São 12:08.
AM.

Resolvi escrever este texto assim, de enfiada, sem pensar muito.
Cheguei da faculdade faz uma meia hora.
Jantei, beijei meus filhos, dei boa noite para minha mulher, e aqui estou compartilhando uns pensamentos que me vieram à cabeça enquanto estava no carro vindo para casa.
Na verdade, não me ocorreram assim do nada.
São fruto de um bate-papo que tive com os alunos no final da última aula.
Aquele bate-papo com aquela meia dúzia de alunos que se aproxima do professor depois que todo mundo foi embora, sabe?
Então.
Hoje foi o primeiro dia de aula do semestre. Turma nova.
E o primeiro dia sempre é bacana.
Rola aquela expectativa – como será que é a turma, como será que é o professor?
Cada um com suas dúvidas e expectativas.

Mas, o papo não é sobre isso.
É sobre a propaganda.
Sobre ser publicitário.
Eu não sei qual a sua profissão – você que está me lendo neste momento.
A minha é publicitário.
E, devo confessar, sempre tive orgulho.
Nunca tive crises de consciência, nunca tive vergonha, nunca achei que tivesse feito a escolha errada.
E era disso que eu estava conversando com aquela meia dúzia de alunos.
Os olhos deles brilhavam quando eu contava algumas coisas da profissão.

Uma das meninas adorou me ouvir falar que ela poderia ser Diretora de Criação e usar All Star.
O mesmo que ela estava usando na facul.
Outro balançou a cabeça afirmativamente quando eu disse que um dos salários embutidos da profissão é você ter problemas novos para resolver todos os dias.
Em um dia, carro. De luxo. Ainda no mesmo dia, uma marca tradicional de alimentos.
Noutro dia, campanha para empresa do mercado financeiro.
Uma semana depois, você tem de saber tudo sobre xampus para crianças. Do nordeste.
Amanhã, quem sabe?

Quer ver outra coisa bacana de ser publicitário?
Outro salário embutido?
Quando você vê uma campanha sua na rua.
Quando você ouve alguém comentando sobre um comercial que você fez, vendo seu anúncio na contra-capa da revista ou uma ação que rolou na internet.
Por falar em rolar, quase rolaram de rir quando contei da minha primeira campanha de verdade.
Era para uma marca de balas dietéticas. Tinha filme na TV e outdoors espalhados por São Paulo (foi antes da Lei Cidade limpa, que eu apoio totalmente).
Quando eu vi o outdoor na rua, fiquei paralisado.
Foi na Av. Ibirapuera.
Encostei o carro e fiquei uma meia hora parado, olhando, admirando, vendo se as pessoas prestavam atenção, comentavam algo.
Nunca vou esquecer deste dia, e quem me proporcionou foi a propaganda.

Mas, a ideia do texto não é ser saudosista.
É apenas para lembrar (e me lembrar) que a Propaganda é SIM uma profissão maravilhosa, rica, estimulante.
Apesar de toda a propaganda contra que a propaganda vem sofrendo.

Para terminar, uma metáfora.
Eu surfei durante muitos anos da minha vida.
E o surfe é engraçado.
Se você parar para pensar, é um dos esportes que, em tese, menos recompensa o esforço empregado.
Pensa.
Você pega o carro, enfrenta horas de trânsito para descer para o litoral.
Chega, o mar tá lotado, tem de passar a arrebentação, passa a maior parte do tempo remando ou sentado, toma duzentas ondas na cabeça, toma caldo, a água tá gelada, etc, etc, etc.
Mas, na hora em que a serie entra e você pega aquela onda, a maior da série, e surfa até enterrar as quilhas na areia… ah, meu amigo, aí tudo valeu a pena.
Poucos segundos que compensam muitas horas.

Da próxima vez que um job pintar na sua mesa, pensa que você vai com ele até enterrar as quilhas na areia.
Se não der nesse, sempre vem uma nova série para você tentar.

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