Entre sabões e martelos ou por que vivemos na era dos anti-heróis

Semana passada tivemos uma das estreias cinematográficas mais aguardadas do ano: Esquadrão Suicida. E, como não poderia ser diferente, a internet, nos últimos dias, tem sido a grande ágora de debates acerca do filme. Com opiniões muito divergentes, o que chama a atenção é majoritariamente o contraste entre a expectativa, criada a partir de todo material de divulgação do filme (principalmente na internet), e as salas de cinema do mundo inteiro. Entretanto, aqui não haverá um juízo sobre o filme, seu resultado, sua trama ou a atuação. O aspecto colocado em foco neste texto é: o que faz com que esse filme de anti-heróis seja tão apropriado para os públicos dos dias de hoje e, talvez, não fosse tão popular no passado?

Em um produto de entretenimento como Esquadrão Suicida, há um sem número de tipos de espectadores e é bastante difícil olharmos para todos de maneira isolada. Há os aficionados pelos quadrinhos, fãs que acompanharam fervorosamente cada trailer (e cada easter egg de cada trailer), aqueles que ouviram falar do filme e por isso foram ao cinema e por aí vai. Há um multiplicidade de públicos quando falamos de um produto de entretenimento como esse. Agora, independente de quem estamos falamos, um fato é nítido: os anti-heróis (e alguns vilões) conseguem gerar um vínculo com o espectador que é inalcançável a determinados heróis.

Enquanto o herói esbanja altruísmo e valores morais que adquire em sua jornada, os anti-heróis têm um fator humano muito premente. O público consegue captar as razões de suas ações e entende o quão inatingível é ser o “mocinho”. O arquétipo tradicional do herói (aquele que é o escolhido, descobre sua missão e faz de tudo para realizá-la por um bem maior, mesmo que isso custe sua vida) está dividindo cada vez mais espaço na cena moderna de entretenimento ao lado dos bonzinhos.

O anti-herói tem consumido mais e mais espaço na indústria audiovisual contemporânea, mas na literatura – por exemplo – esse “formato” de personagem já é algo recorrente desde o século XIX, com a ascensão de escolas literárias como o Realismo e o Naturalismo, onde os personagens mostravam as chagas de sua realidade, de sua natureza, do seu grupo social e de suas relações pessoais.

O vídeo a seguir explica um pouco mais do que estamos discutindo:

O grande momento destas personagens começou timidamente nos anos 1970, criou um pouco mais de coragem nos anos 1980, levantou voô nos anos 1990 e explodiu nos anos 2000, lotando salas de cinemas e a programação televisiva. A Internet criou uma força motivadora nesse sentido e agrega cada vez mais pessoas que se engajam com esse tipo de figura.

Além de o anti-herói ter o fator “gente como a gente” de construção do personagem, ele também representa uma espécie de “válvula de escape” pelos seus admiradores. Ele não se importa com as leis, tampouco com a obrigatoriedade social de ser feliz.

Questionar as regras vigentes, as autoridades, noções de certo e errado é aquilo que as pessoas vivem na vida real, mas ainda são freadas por limites legais, morais e, às vezes, devem presenciar até injustiças calados por não estarem em um degrau mais alto na hierarquia social.

Será que é por isso que os anti-heróis cativam tantos admiradores? Não há uma resposta exata para esta pergunta, mas – sem dúvida alguma – é um assunto que merece cada vez mais discussão na indústria do entretenimento atual.

Receba nossos posts GRÁTIS!
Deixe um comentário

This website uses cookies to improve your experience. We'll assume you're ok with this, but you can opt-out if you wish. Accept Read More