O “mando de campo” funciona nas Olimpíadas?

Uma semana de Olimpíadas no Brasil e a gente está na dúvida se somos a melhor ou a pior torcida do mundo dos esportes. Coisas como a Brasília amarela no boxe e o Zika para Hope Solo nos fazem acreditar que somos bem-humorados, no mínimo. Mas alguns atletas têm se incomodado um pouco com nosso jeito tupiniquim de ver esportes.

Mas, discussão a parte, será que o “mando de campo” na forma de pressão da torcida interfere no desempenho esportivo? Há indícios – comprovados por análises – de que isso acontece no basquete universitário americano (os juízes apitam mais faltas dos times visitantes) e no futebol da Major Legue Soccer também, onde se aplicam mais cartões para times visitantes.

Para ver se a lógica se aplicava às Olimpíadas, o FiveThirtyEight analisou o quadro de medalhas desde a Segunda Guerra Mundial, identificando o quanto o desempenho de países-sede se alterava em anos em que os Jogos aconteciam em seus domínios.

Medalhas ganhas por países – print (Fonte: FiveThirtyEight)
Medalhas ganhas por países – print (Fonte: FiveThirtyEight)

O que se vê no quadro acima é que sim, o desempenho dos países tende a melhorar quando eles são os que jogam em casa. Em média, os países-sede aumentam seu número de medalhas em 20.1 e as medalhas de ouro em 10.9. Os maiores saltos da tabela acontecem, não coincidentemente, nas Olimpíadas de 1980 e 1984 quando EUA e União Soviética, duas potências esportivas, boicotaram os eventos de seus adversários políticos e aumentaram as chances de conquista de medalhas para os outros países. Excluindo-se essas duas edições dos Jogos, teríamos uma média de 12.2 medalhas e 6.8 medalhas de ouro a mais para os países-sede.

Mas a explicação talvez não esteja necessariamente na qualidade dos atletas ou no poder do grito das arquibancadas. Acontece que os países-sede, na média, enviam 175.8 atletas a mais para os Jogos Olímpicos que eles sediam. Isso porque o país-sede tem uma vaga garantida em todos os esportes das Olimpíadas. No Rio2016, isso se materializa no nosso time masculino de hóquei sobre a grama que, pela primeira vez, participa de uma Olimpíadas (com gol, aliás).

Medalhas por atletas (ratio) – print (Fonte: FiveThirtyEight)
Medalhas por atletas (ratio) – print (Fonte: FiveThirtyEight)

Se olharmos para esse gráfico acima – que mostra a média de medalhas ganha por atletas participantes de cada país – veremos uma história muito mais equilibrada. Na verdade, veremos que, em média, países que sediam os Jogos Olímpicos ganham menos medalhas por atletas do que em participações anteriores. Ou seja: mesmo que os países aumentem sua quantidade de medalhas no todo, esse aumento desaparece se considerarmos todas as chances de medalhas não conquistadas.

Então o que isso pode dizer do nosso desempenho na Rio2016?

Primeiramente, que estamos com a nossa maior delegação já enviada a qualquer edição de Jogos Olímpicos, é claro. São 481 atletas (um salto bem grande dos 248 de Londres e os 268 de Pequim). Se a nossa taxa de medalhas ficar perto do que foi registrado em 2008 e 2012, devemos colocar no peito 30 medalhas. Não coincidentemente, essa é exatamente a meta do COI. Será que dá? Por via das dúvidas, melhor continuarmos gritando e incentivando os atletas nas arquibancadas.

Crédito da imagem em destaque: blogdojuliogomes.blogosfera.uol.com.br

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