Programação, a nova alfabetização

Em maio passado, completou um ano que comecei a programar. Meu início foi com uma das linguagens mais populares, Ruby, em um ambiente de desenvolvimento online chamado Cloud9. Nestes 15 meses, passei por outras linguagens (Python, outra preferida dos programadores) e montei meu próprio ambiente de programação local (quer dizer, em meu computador). Hoje estou “envolvido” com a linguagem R (é uma linguagem de programação estatística, usada bastante em Data Science).

OR Book Going Rouge

Neste “meio tempo”, “devorei” o que encontrei pela frente em termos de conceitos, referências (livros, vídeos e pessoas) e filosofias para definir o meu próprio entendimento sobre o assunto. Quem se interessar, ao invés de começar por algum livro, manual técnico ou então por raciocínio lógico e lógica de programação, sugiro se inteirar em relação às filosofias que envolvem a programação computacional. Um livrinho bem bacana neste sentido é o do autor Douglas Rushkoff, professor de teoria da economia digital da City University of New York, “Program or Be Programmed”.

Quando se diz que a programação é a nova alfabetização, não se está insinuando que ela deva substituir o que chamamos de alfabetização hoje, mas sim se incluir no conceito. Não se engane, alfabetização é um conceito, que envolve as habilidades básicas que todo ser-humano deveria dominar para se inserir na sua sociedade.

Este conceito vem sendo desenvolvido desde o século XII, quando a habilidade da leitura começou a ganhar importância. No século XVI, recebeu a companhia da escrita e criou a base do modelo mental que temos de alfabetização. Mas como todo conceito, evolui. No século XVIII recebeu a adição da aritmética e no século XX, a da habilitação automotiva (sim, a carteira de motorista tem este status em boa parte dos países do mundo). No século XXI, chegou a vez da programação computacional ser incluída neste entendimento.

John McCarthy, o inventor da linguagem Lisp e a pessoa que cunhou o termo “Inteligência Artificial”, dizia que uma pessoa deveria aprender a programar para poder “falar com os servos”. Apesar do termo politicamente incorreto, McCarthy se referia ao fato de cada vez mais os seres-humanos gerenciarem máquinas (os “servos”) e as máquinas, ainda hoje, só conseguem fazer o seu trabalho se o ser-humano disser, especificamente, o que e como elas devem fazer. É preciso dar instruções claras. A maneira de se fazer isto é pela programação computacional.

Desta forma, programar não é mais uma habilidade-nicho (que apenas uma determinada profissão conhece), é uma habilidade essencial para qualquer pessoa com ambição em obter sucesso. É tão importante, que várias organizações se propõe a ensinar programação básica de graça. CodeAcademy, edX e Free Code Camp são alguns exemplos. Vários cursos básicos já são oferecidos em português, graças ao trabalho voluntário de algumas pessoas, mas a maioria dos gratuitos ainda é em inglês.

É claro que aprender a programar não é simples. Há inúmeras dificuldades — principalmente se quem estiver aprendendo já vier com uma baixa formação em matemática e raciocínio lógico — mas se alfabetizar não é simples. É sabido que algumas condições podem se somar aos obstáculos comuns que todo aprendizado traz, por exemplo, dislexia dificulta o aprendizado da leitura e discalculia torna o aprendizado matemático muito mais penoso. Mas é importante deixar claro, que é cada vez mais consenso entre educadores e cientistas cognitivos, que qualquer pessoa que esteja no domínio de suas faculdades mentais, pode aprender a programar — assim como pode aprender a ler, a escrever, a fazer conta e a dirigir. A Khan Academy disponibiliza um vídeo sobre a importância de se manter uma mentalidade de crescimento, essencial para aprender qualquer coisa.

Não se propõe que todo mundo vire desenvolvedor de softwares. O fato de alguém aprender a escrever, por exemplo, não significa que a pessoa se tornará uma escritora ou alguém que aprenda aritmética se tornará um matemático profissional. Mas todos que sabem escrever ou conhecem aritmética, se tornam mais habilidosos para caminharem pelas próprias pernas na “luta” pelo pão de cada dia.

Minha experiência neste quase ano e meio me mostrou coisas novas, coisas que havia esquecido e principalmente, me possibilitou começar a desenvolver uma habilidade que nunca considerei que pudesse me trazer tanto conhecimento. Meu conselho é: aprenda a programar, aprenda a falar com as máquinas, você não vai se arrepender.


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