Era dia 19 de setembro de 2011, o primeiro dia voltado para o Heavy Metal do retorno do Rock In Rio à sua cidade de origem. Pela tarde no palco Sunset já tinham acontecido 4 shows de bandas já consolidadas do gênero: Matanza, Korzus, Angra e o Sepultura, e às 19:00 horas pontualmente começavam os trabalhos no palco Mundo. A banda paulistana de Post-Hardcore, Glória, foi a encarregada de abrir os shows do palco principal naquela noite que tinham ainda os gigantes Slipknot e Metallica pela frente. Logo após a primeira música sonoras vaias vindo de todos os presentes evidenciaram uma coisa: o headbanger brasileiro vive preso ao passado. Foram precisos dois covers de clássicos da banda americana Pantera e um solo de bateria (do atual baterista do Sepultura) para fazer com que as vaias fossem substituídas por aplausos que não duraram muito.
Dois anos depois foi a vez dos suecos do Ghost serem rechaçados pelo público no mesmo festival na espera do Alice In Chains e novamente do Metallica. O Iron Maiden (banda favorita deste que vos escreve) veio ao país em 2008, 2009, 2011, 2013 e 2016 (fui em todos os shows desde 2009), e a banda em 2008, 2009 e 2013 veio tocando apenas as músicas clássicas, diferente de 2011 e 2016 em que vieram promover discos novos e souberam mesclar o material novo com o antigo.
Estamos vendo que bandas “das antigas” começam a produzir menos; o que – convenhamos – é natural. E o que vai acontecer quando as bandas da “década de ouro do Metal” terminarem suas carreiras?
Recentemente estive presente no show em São Paulo do Bring Me The Horizon, no Carioca Club. Eu, que só conhecia as musicas do disco de 2013 “Sempiternal” e o hit “Drown” , fui apenas acompanhar uma amiga fã da banda e fui surpreendido por um Carioca Club lotado até o último metro quadrado (as duas apresentações da banda em São Paulo tiveram os ingressos esgotados). A banda tinha público suficiente para esgotar ingressos de um espaço maior como o Tom Brasil, mas por apresentar uma sonoridade mais moderna misturada com vocais gritados não recebe a atenção das rádios e mídias especializadas; o BMTH está sendo cotado para o próximo Rock In Rio, e provavelmente seria colocado num dia voltado para o metal, e a sina das vaias irá continuar, pois quantas músicas você conhece da banda? Aliás, você conhecia a banda antes de ler esse texto? A banda lota as casas de show e é headliner de famosos festivais na Europa e Estados Unidos, inclusive as famosas Wembley Arena, Reading Festival e mais recente o lendário Royal Albert Hall.
Em 1987, o Sepultura lançou o disco “Schizophrenia” uma porrada nos ouvidos que hoje é visto como o grande clássico do Thrash Metal brasileiro que tem hinos como “Escape to the Void” e “Troops of Doom” mas que na época foi extremamente criticado no Brasil e muito bem recebido no exterior; esse ano é celebrado os 20 anos do “The Great Southern Trendkill” do Pantera, o disco mais ambicioso e pesado da banda americana, que tem uma sonoridade que começou a ter destaque dez anos depois do lançamento aqui no Brasil – na época foi considerado um disco fraco e sem nexo, mas agora está sendo relançado com material inédito e comemorado pelos fãs brasileiros. Ora, como é possível alguém ouvir o solo de “Floods” e não se emocionar e comentar o quanto Dimebag Darrell tocava a sua guitarra?
Apesar das vaias no Rock In Rio, a exposição fez algum bem ao Glória e o Ghost. O baterista do Glória na época, Eloy Casagrande, no mesmo ano se integrou ao Sepultura; o Ghost retornou ao Brasil em 2014 para dois shows solo (Rio de Janeiro e São Paulo), os dois com ingressos esgotados. Toda geração do metal teve seu momento e inspirou uma nova: as primeras bandas como o Black Sabbath, Iron Maiden e Judas Priest deram lugar ao Thrash Metal do Metallica, Megadeth e Slayer, que por sua vez deu lugar para o Grunge com o Nirvana, Alice in Chains e Pearl Jam, e estes foram sucedidos pelo Nu-Metal do Korn, Slipknot e Limp Bizkit; mas porque agora com a ascenção do Metalcore/Breakdown Metal os headbangers estão sendo intolerantes? A única banda “respeitada” do gênero é o Avenged Sevenfold, mas enquanto isso bandas como o Architects, Bullet For My Valentine, Motionless In White e o Bring Me The Horizon são tidas como piadas e não consideradas bandas de Metal.
As bandas antigas estão entrando nas fases finais de suas carreiras; os heróis que achavamos que eram imortais estão deixando este mundo (vida longa ao Dio e Lemmy!), e se as bandas novas não forem aceitas, o que acontece com o Metal?
POR 
ENG