“Eu invejo os paranoicos. Eles realmente acham que as pessoas estão prestando atenção neles.” (Susan Sontag)
Nesta semana palestrei na Social Media Week, um dos maiores eventos sobre mídia social digital, e explorei a relação entre redes sociais, a banalização da felicidade e a estética da selfie no mundo contemporâneo.
De acordo com o filósofo contemporâneo Pascal Brukner, a busca pela felicidade passa a ser obrigatória a partir dos anos 1980. Diante da era do consumo, o prazer é buscado em bens materiais, que esvaem pelos dedos e são descartados na sequência. Isso porque o prazer está na conquista, no acesso à coisa e não em sua utilização e permanência. Quem nunca teve preferências pelo trabalho, pela calça ou pela casa alheia? Mas, finalmente, no momento em que conquistamos algo similar, perde-se a graça e torna-se ao grande vazio existencial, uma de nossas únicas e grandes certezas.
O vazio que permeia o homem fundamenta a escalada consumista e lhe atribui pequenas felicidades com prazo de duração reduzido como compensação pela falta de laços e reconhecimento. O consumo, a padronização e o narcisismo passam a ser os protagonistas da contemporaneidade.
Cada vez mais, o direito de ficar só ou de não estar feliz deixam de existir. O sofrimento, muitas vezes, já é diagnosticado como patologia. Por conta disso, o homem perde essa prerrogativa e começa a se entregar a uma vida de conto de fadas, em que é feliz ou mostra uma felicidade pseudo-real nas redes, mas ao estar desconectado e imerso dentro de sí, se depara com o tédio e com a tristeza.
O sujeito se padroniza e alimenta um modelo de vida artificial para viver em meio a selfies, fotos de comidas incríveis, corpos esculturais e viagens paradisíacas. Uma vida diferente da vida real. Seria essa uma tentativa de sanar angústias e sofrimentos?