O título fez você continuar lendo, né?
Ok, mais um pageview (mais uma impressão para o anunciante; TALVEZ, algum $ sobre o clique com o CPC negociado).
Quantos e quantos usando este artifício como uma isca de cliques? (click bait).
De qualquer forma, assim está a divulgação e o consumo de informação nos dias atuais (concorde ou não; goste ou não). A redação mudou. O texto mudou. O excesso de informação pede um processamento imediato dos conjuntos semióticos que definem a comunicação.
Por isso parágrafos curtos.
Quebrados.
Com ideias resumidas ou instigações para que todos opinem (ainda que ninguém vá ouvir a opinião alheia). Aliás, o que você acha disso?
As informações ficaram assim, fragmentadas, passadas em 140 caracteres; replicadas à exaustão quando estão de acordo com o que você pensa, tornando-se uma verdade absoluta. Ou inflamando posições controversas para que o debate (na maior parte das vezes enviesado pela audiência daquele emissor) construa a ideia. Em terra de cegos ninguém discute a cor preferida.
O livro virou blog, o blog virou tweet, o tweet virou uma foto. E uma imagem vale mais do que mil palavras.
“Desculpa professor, não tenho tempo para ler o livro todo! Tem um resumo?“. Ah, mas eu tenho uma animação no YouTube que fala isso… dá uma olhada. Assim você não precisa tanto esforço de concentração para interpretar o conceito da mensagem.
Pode parecer irritante, superficial. É verdade. Muitos pontos finais quebrando o contexto em pacotes; tal qual a internet em seu conceito fundamental: quebrar o conteúdo e transmiti-lo por caminhos distintos, até que, uma vez reagrupados, possam fazer sentido, ainda que seja apenas um gato tocando teclado.
Algumas outras formas de prender a atenção (a #3 é incrível e jamais pensei que isso fosse possível!)
- fazer listas;
- mesmo que se possa expressar a mesma coisa de forma dissertativa;
- desafiar o leitor a clicar para chegar naquele número explicitado no título, vendendo o banal como se fosse algo imperdível;
- é cansativo, virou lugar comum;
- mas, por incrível que pareça, funciona (sério! dê uma olhada nos Top 10 artigos do Linkedin/Pulse no ano passado; 3 listas, 4 ‘how-to’, 1 ‘why isso é assim’)
Digamos que é como uma versão pirata, mal acabada, do Buzzfeed e do Upworthy. Como aquele Mickey falso na festa de 5 anos da sua sobrinha.
E, ahhhh, a simplicidade em apelar para a enumeração do conteúdo; a explicação em bullet points; a vitória do PPT sobre o DOC.
É uma tática interessante de fragmentar a recompensa pela absorção dos dados, é a gamificação da leitura; como em um jogo e seus vários níveis até chegar ao “chefão” (que, ao que parece, seria compreender o conceito por trás do texto):
- “Legal, já li a dica/frase/fato número 1! uhul!”
- “Frase 2, mais um tópico! Ufa! consegui ler! Legal!”
- “Eu sou demais! estou avançando nesse texto! Já estou na 3ra. <coisa que eu não poderia deixar de saber>!”
- “Frase 2, mais um tópico! Ufa! consegui ler! Legal!”
Outro fato interessante.
“Usar citações alheias ajudam a expressar e endossar um ponto de vista” (Clarice Lispector)
Não, não foi a Clarice que escreveu isso. Mas quem vai saber? Quem liga? Mesmo porque Einstein uma vez já disse: “O Apelo à Autoridade é um tipo de falácia que funciona muito bem quando há preguiça em se checar os fatos“. Einstein pode ter falado isso. Não sei. Falácia é um assunto muito interessante; todo mundo deveria ler sobre isso.
Ah, não precisa clicar ali em cima não…. afinal, ninguém vai ler o artigo inteiro da Wikipedia; mas tudo bem, o link já foi compartilhado e ajudará a definir a personalidade publica daquele que o compartilhou. Compartilhar links (fotos/videos) é mais uma ferramenta de auto-expressão do que sincera vontade de crescimento coletivo. E, nesse contexto, há provas e convicções irrefutáveis de que isso é verdade.
Aliás, estava um dia no escritório, chovia bastante naquele dia e esperava o trânsito da Marginal Pinheiros abrir espaço para que eu pudesse ser mais um dos carros na rua; recebi um texto sobre tendências da publicidade a partir de um link alheio no Facebook; achei interessante e perguntei a opinião deste “add friend” no Facebook sobre determinado tema abordado pelo texto. Ele não concordava; na verdade ele nem sabia que o texto falava disso.
É uma história curiosa. Storytelling? Sim. Outra forma de conduzir a apresentação de um fato? Sim. Perguntar de maneira recorrente para forçar uma reação com uma resposta de quem lê? Sim.
No mundo de hyperlinks, as opiniões são formadas após o título ou em meio ao texto, e não abaixo de um “comente abaixo”. Num mundo de oversharing, são muitos falando pouco, pra ninguém ouvir.