Os três níveis da interação homem-máquina

Hoje em dia é difícil imaginar um smartphone ou tablet sem tecnologia touch. Da mesma forma, somos inundados por notícias sobre experimentos e produtos ligados à realidade virtual e ampliação da capacidade de imersão de um indivíduo em uma experiência digital (vídeos em 360 graus, transmissões ao vivo via ferramentas sociais, entre outros).

Olhando, porém, a relação do homem com a tecnologia na evolução dos dispositivos, podemos inferir algumas fases evolutivas desta interação.

Entenda “máquina” neste texto como qualquer elemento criado artificialmente pelo homem pois mesmo a definição formal do termo acabou ficando ultrapassada, como irá perceber ao longo do artigo.


MÁQUINA (s.f.)

  1. engenho destinado a transformar uma forma de energia em outra e/ou utilizar essa transformação para produzir determinado efeito.
  2. qualquer equipamento que empregue força mecânica, composto de peças interligadas com funções específicas, e em que o trabalho humano é substituído pela ação do mecanismo

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primeirafase

futurama-bender-fry-posters-2708x4000-wallpaper_www-artwallpaperhi-com_10Revivendo um pouco as aulas de história…No início do século 18 a revolução industrial, entre outras coisas, mecanizou a relação do homem e seus meios de produção (de produtos, de informação).

relação mecânica entre homem e ferramenta se viu refletida, então, na tecnologia da informação, dos cálculos de estratégias de guerra do ENIAC, em 1946, passando pelos cartões perfurados, pelos rolos magnéticos, e chegando aos ‘computadores’ (laptops, celulares), onde o input de dados, ou melhor, a solicitação de comandos, ainda era feita de maneira, entre aspas, mecânica (com um teclado e mouse), embora o output tenha evoluído de fitas físicas para uma tela chamada monitor.

A lógica de “apertar botões”, tendo uma resposta digital a um estímulo mecânico, ainda é a dominante – o que me lembra do problema ‘moderno’ enfrentado por Jane Jetson, a dedicada dona-de-casa do desenho animado, que sofria de tendinite ao ter que apertar tantos botões para cozinhar -, embora estejamos neste exato momento vivendo a transição para o próximo modelo.

jetsons


segundafase

A segunda onda começou a aproximar elementos corporais para a CMC (Comunicação Mediante Computador) quando introduz os sentidos humanos na interação com o significante.

Os elementos (imagem, arquivos) deixam de ser acessados por botões e comportamentos mecânicos (click) – bem como deixam de ser uma projeção distante em uma tela – para serem comandados diretamente pelo corpo (o significado mais próximo do significante, para quem lembra das aulas de Semiótica).

A incorporação de elementos biométricos para o input dos dados tem exemplos diários e já são utilizados sem a consciência da tecnologia que está por trás daquilo, como a identificação de pessoas através de características físicas (destravar seu telefone com a impressão digital) e a ampliação do input de comandos a partir dos sentidos humanos (XBox Kinect, Siri, Cortana, entre outros).

Não se usa mais um elemento externo (seta do mouse) para acessar o que se deseja (programa), você toca na representação icônica daquilo que quer, você fala aquilo que quer. E espera que a interface se modifique em função de movimentos e comandos que foram popularizados graças aos smartphones.

A ubiquidade da tecnologia – a capacidade de existir em várias formas sem ser percebida conscientemente – é o que indica a migração de um modelo a outro.

Ligado à entrada/saída de comandos e dados, vimos uma evolução das regras de decisão nas máquinas, onde não apenas entregam a resposta a um comando, mas tentam entendê-lo, observar o que há ao redor daquilo e, até mesmo, antecipá-lo.

Isto também inclui comandos envolvendo outros sentidos humanos, como, por exemplo, a voz.

List of Alexa Commands

Por que não posso entrar em meu carro dizendo: “Quero ir para o escritório”, e meu GPS traçar o caminho orientando-me que estou quase sem combustível e o posto de confiança com preço mais baixo fica logo em frente (não em um carro de R$ 800.000,00, mas em qualquer R$ 30.000,00 de concessionária)? E isso sem que eu precise ‘apertar o ícone do Waze’ (que, inclusive, já me oferece esse tipo de funcionalidade).

Ou, melhor ainda, que meu carro faça tudo sozinho… né, Ford, Google, Volvo, Baidu?


terceirafase

A terceira onda está em desenvolvimento, com diferentes pesquisas que permitirão unir a requisição a um dispositivo qualquer à mais pura forma de desejo, o pensamento– Brain Computer Interface.

Diversos experimentos têm sido feitos em interpretar ondas elétricas cerebrais como indicação de comando, sobretudo no campo da biônica (Wikipedia: ciência que estuda determinados processos biológicos dos seres vivos (mecanismos mecânicos e eletrônicos) a fim de aplicar processos análogos à técnica e à indústria (implantes artificiais ou a sistemas industriais)).

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A habilidade de controlar dispositivos e interfaces por meio de ondas cerebrais vem sendo estudado para diferentes aplicações, desde o simples entretenimento…

Se considerarmos que pensamentos nada mais são do que ondas elétricas induzidas de determinada maneira, ao mapear estas ondas é possível interpretar o que se deseja e, com isto, repassar essa solicitação a máquinas.

…ao desenvolvimento de sistemas que permitam pessoas com limitações físicas comandarem mentalmente próteses e equipamentos de apoio, como no caso do americano Ian Burkhart, paciente tetraplégico que pode movimentar os músculos do pulso através de um implante e esta mulher que comandava braços robóticos com meio de implantes cerebrais:

Imagem relacionada

Este campo traz múltiplos desafios para os profissionais do ramo, entre eles a necessidade de concentração contínua do cérebro na execução de uma tarefa de média/longa duração (como movimentar uma cadeira de rodas por alguns metros), o que bloquearia o cérebro para outras funções cognitivas, necessitando exercitar o cérebro para manter uma atenção dividida.

Porém, quando tratamos de comandos pontuais, relacionados a uma necessidade momentânea como “feche o vidro do carro” ou “ligue para Fulano”, a atenção seletiva é feita de maneira quase instantânea, o que permite isolar o comando a um dispositivo de pensamentos corriqueiros individuais ou durante a interação com outros seres humanos.

E, apesar das claras aplicações em inúmeras áreas da ciência, a resposta a estímulos cerebrais poderá, num futuro próximo, também impactar as relações de consumo e mídia.

Imagine só como isso pode afetar seus produtos e serviços, GM, HP, Pão de Açúcar, Samsung, P&G, Samsonite, Vivo, Globo, Itaú, etc, etc, etc?


Imagem-destaque: Shutterstock

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