Por Helena Villar
https://www.youtube.com/watch?v=4QidvyLPZQA&feature=youtu.be
As convidadas começaram a conversa já com o primeiro levantamento sobre como a desigualdade de gênero se mostra na música: compositoras ganham pouquíssima visibilidade. Mesmo que tenham sempre existido, como Dolores Duran e Chiquinha Gonzaga, as pessoas presumem que a mulher seja apenas intérprete. Quando o artista é homem, pensam que seja compositor, cantor e também toque algum instrumento. “Muitas mulheres são compositoras, mas não são vistas; não ganham essa visibilidade do seu papel como participantes do processo conceitual de seu trabalho”, conta Daniela Mercury. Artistas como Rita Lee, Maria Bethânia e, recentemente, Adriana Calcanhoto e Marisa Monte representam a geração que ocupou o espaço de verbalizar o que elas mesmas compuseram.
https://www.youtube.com/watch?v=VJEEs7SZtts&feature=youtu.be
Conseguimos perceber avanços do espaço ocupado pelas mulheres na sociedade, desde o último século até aqui. Na música, as compositoras aparecem mais hoje e, inclusive, recebem este título. Negra Li, que começou a se envolver com a música aos 16 anos, como integrante do grupo de rap RZO, enxerga esta diferença. Na época, chegou a mudar seu estilo para encaixar-se no contexto em que estava inserida; usava as roupas largas do irmão, evitava sorrir e não cumprimentava homens com abraços e beijos. Sua carreira solo foi um momento de libertação, e que ainda continua, já que a cantora admite se preocupar muito com a opinião dos outros. Artistas como Karol Conka e Flora Matos são, para ela, referências de mulheres que cantam e falam o que querem, se vestem como bem entendem – o que é uma evolução e tanto.
https://www.youtube.com/watch?v=t0AyiAzfk_M&feature=youtu.be
Em diversas entrevistas e coletivas, Daniela é frequentemente questionada sobre superficialidades, e não sobre sua música, o processo da obra e as influências na composição, timbre etc. Perguntar a uma mulher sobre cirurgias plásticas e academia parece, tantas vezes, mais pertinente do que tratar sobre o assunto que está em pauta, e o trabalho que a artista oferece. Por isso, a baiana, sempre cheia de atitude, nunca economizou palavras para se impor na indústria musical e deixar suas criações com sua identidade.
https://www.youtube.com/watch?v=uM6pQtxjmro
A carioca IZA surgiu como cantora através de um canal no Youtube e sempre deu grande importância para sua imagem – mas como mensagem para o público, e não exatamente como a sociedade pede ou impõe que ela seja. A forma como se veste e o que compartilha nas redes sociais são essenciais para reafirmá-la como artista e o que deseja representar: “Tudo que eu visto canta comigo. Quando você está no palco, todo o conjunto do que você fala, como você mexe seu corpo, canta com você”. Ainda acrescenta que é seu dever aproveitar o espaço concedido a ela como cantora para tratar sobre pautas que considera importantes, como o feminismo e o preconceito contra as negras.
As mulheres ainda têm muito o que falar, sobre suas angústias, experiências e questões diferentes daquelas colocadas pelos homens há tanto tempo. A música, a tecnologia e as redes sociais aparecem como ferramentas e meios capazes de aumentar o poder feminino e dar espaço para a voz das mulheres – que é inclusive cantada, de forma artística e poética. “Quanto mais a gente puder ver as mulheres colocando suas questões em letras e músicas, isso tem o poder de disseminar, gerar empatia e conversas muito fortes”, comenta Daniela Arrais, jornalista e sócia da Contente.
O evento termina com a força dos aplausos e o grito do público, que espera conhecer e ouvir, cada vez mais, outras compositoras, cantoras e musicistas. Que duas coisas nunca nos falte: espaço para as mulheres e muita música boa!
Aqui, a conversa completa:
Até o próximo Spotify Talks.
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