20 dicas essenciais para bandas e artistas em início de carreira

Nós, da organização do Hack Town, festival de criatividade e inovação que rola na pequena e incrível Santa Rita do Sapucaí-MG, decidimos ajudar a inspirar as novas bandas e artistas autorais que estão iniciando Brasil afora. Afinal, fazer acontecer – seja em tecnologia ou na economia criativa, como é o caso da música (uma de nossas frentes) – é a bandeira do evento que, em 2017, acontecerá nos dias 07, 08, 09 e 10 de setembro. Para isso, fomos conversar com profissionais de peso na cena independente e no mainstream – entre músicos, produtores, empresários, distribuidores, jornalistas, etc. O resultado final, com dicas incríveis, você confere abaixo. Vamos lá.

01. Mahmundi – (cantora, compositora e produtora)

A minha primeira dica é: Não existem ’20 dicas essenciais para bandas e artistas em início de carreira’ – antes de você fazer um bom disco, não é mesmo? Um bom trabalho, uma boa história para se contar. Ultimamente, a gente tem muita coisa rolando graças a expansão da tecnologia – eu sou um exemplo disso, nasci na internet e apostando em algo novo e que corria muitos riscos. Mas sempre priorizei fazer boa música, algo que trouxesse um tipo de novidade para as pessoas. Arte, para mim, vem desse lugar. Todas as pessoas que nos inspiram em algum momento viraram essa chave pessoal que é: estar atento ao que você traz, ao que você ressoa com o seu talento, com o seu projeto. Depois da matriz estar focada, o jogo segue: muita dedicação, reunir pessoas que entendam seu trabalho (e não pessoas que esperam resultado$$ rápidos) – pessoas que te ajudem a expandir esse processo. Os métodos são os mesmos, mas obviamente mais abrangentes: vídeo, foto, release e VERDADE acima de tudo. Seja lá como você pensa sua carreira: para o dia de hoje ou para os dias de amanhã, sempre saiba onde você quer chegar com tudo isso, sabe? Tocar o coração das pessoas com a sua expressão é um passo importante também, mas como disse lá em cima: acima de tudo, traga à tona o seu melhor – mesmo que isso demore – até você poder expandir isso e entregar isso numa noite cheia, com muitas pessoas ecoando suas canções.

02. Hebert Mota – (sócio proprietário do Estúdios NACENA e da produtora H.A.M.nyc, alem de outros negócios na área do entretenimento e gestão de carreiras)

Nenhuma banda ou artista nasce pronto, com fama e shows lotados. Todos os grandes nomes de hoje começaram como amadores um dia, e os que tiveram um sucesso rápido, também acabaram rápido. Não tem jeito, pense que tudo na vida leva tempo e uma carreira musical ainda mais, pois é difícil fazer com que as pessoas gostem ou entendam suas ideias ou arte. Ser paciente e ambicioso é a base. E não coloque o sucesso em números: 2 discos vendidos, 20 pessoas nos shows, isso faz parte desta trajetória. Valorize e junte pessoas que acreditam no projeto e trabalhe todos os dias com a missão de cumprir uma meta. Quanto mais demorar para chegar este momento ideal, melhor. Se você estiver certo de que esta fazendo o que ama, e da maneira correta, é isto o que vale nesta caminhada: o TEMPO. Então viva esta trajetória com dedicação e esforço. Vão existir os dias dos belos shows lotados e também os dias ruins. E todos valem como mais uma etapa cumprida. Uma carreira solida é feita de pequenos tijolos e não de um grande muro pré-fabricado.

03. Luciano Leães – (músico, compositor, produtor, vocalista e pianista do grupo Luciano Leães & The Big Chiefs)

Quando seguimos aquilo que amamos e que nos faz vibrar, tudo parece ficar mais claro. Por isso acho que antes de buscar fórmulas prontas de sucesso ou tentar encontrar um salvador da pátria na figura de um produtor, que diz que vai tocar na tua música e transformá-la em ouro, pensa no que você realmente acredita e quer pra tua música. Pense no valor do teu som e não no preço que ele tem. Baseado nisso, vou escrever alguns aprendizados que tive nestes 20 anos de estrada e que acredito que possam ser interessantes (ou não):

– O momento é propício para inovação. Não aceite fórmulas prontas. Tente encontrar uma forma autêntica de trilhar o seu caminho e atingir os seus objetivos.

– O bar da tua cidade não quer pagar cachê e quer que você toque por visibilidade? Vai pra rua tocar ou faz um show na casa dos amigos; faz um financiamento coletivo e convoca aqueles que torcem por você para viabilizar seus sonhos.

– Não tem dinheiro pra bancar a gravação de um disco em estúdio? Faz um EP ou um single para mostrar a sua cara. Tá sem grana pra fazer o EP? Aprende a gravar em casa e seja criativo. Gravar uma ou duas músicas acaba sendo um processo muito interessante de autoconhecimento antes de partir pro tão temido primeiro disco. Um EP pode mudar os rumos da nossa música e é sempre um grande aprendizado.

– Tem dúvidas sobre a qualidade do seu som? Procura pessoas que você admira musicalmente e pede uma opinião sincera. Se for alguém que você mal conhece talvez seja até melhor, pois a pessoa não vai ter medo de dizer o que pensa realmente. Aceite as críticas e busque sempre melhorar.

– Você está se achando um péssimo instrumentista / compositor? É assim mesmo, e essa sensação é que nos faz buscar conhecimento e praticar pra nos tornarmos músicos melhores. Humildade na música nunca é demais.

– Falando em humildade, música é uma forma de expressão coletiva, até mesmo quando tocamos sozinhos. Respeite os outros músicos, respeite a sua equipe técnica, respeite as pessoas que trabalham no bar ou no teatro e respeite o seu público. Não esqueça também de respeitar-se a si mesmo.

04. Tim Bernardes – (vocalista e guitarrista da banda O Terno)

Sabemos que o mercado da música é difícil pra quem está começando (e mesmo pra quem não está), mas sinto que ele está caminhando pra frente. Cada vez mais vemos bandas e artistas conquistando públicos mais consideráveis com a internet. O que eu sinto é que quem está entrando nisso tem que estar consciente de que existe muita oferta hoje, muito artista, e que o público precisa se sentir convidado, puxado, para se abrir a conhecer algo. Não adianta só fazer algo bacana e criativo. Hoje a criatividade também deve acontecer sobre o modo de comunicar sua música para as pessoas. Existe muita coisa boa sendo feita e muito público potencial. A ponte entre essas coisas é que deve ser inventada e “composta”. E, claro, o principal e a matéria prima é; fazer música que você goste, que considera bacana e que possa fazer sentido também para outros, e adicionar algo no contexto em que você estiver.

05. Sarah Hamilton – (client manager na Ditto Music Australia e fundadora do projeto One of One)

A melhor coisa que as bandas podem fazer é criar música autêntica, que elas próprias amariam lançar. Depois, trabalhar na construção da sua base de fãs e usar a tecnologia e as ferramentas disponíveis para isso. Muitos artistas se concentram em planos de marketing, publicidade, conexão com rádios, tudo isso antes de acertar sua música e deixar seu show ao vivo realmente pronto. Artistas conseguem fazer tanta coisa por conta própria nos dias de hoje – reservar shows, tocar ao vivo, distribuir sua música em versão digital e monitorar os resultados. Os artistas devem usar as informações disponíveis a eles para criar um portfólio daquilo que conseguiram de forma independente. Assinar coisas com o Spotify Fan Insights para conseguir informações valiosas sobre quem são os seus fãs, onde estão localizados. Tente e faça o máximo que puder de forma independente. E apenas gaste dinheiro para construir uma equipe quando você estiver pronto.

Depois de construir sua própria comunidade e ter aprendido todas as habilidades que artistas ligados às gravadoras tem mais dificuldade em aprender, você estará em uma posição favorável para aproveitar apenas as boas oportunidades. Por exemplo, nós trabalhamos com um artista chamado Ryland Rose – um cantor de hip hop australiano de Melbourne. Geralmente, os EUA não gostam de hip hop australiano – soa estranho a eles em função do sotaque. O Ryland Rose fez um videoclipe só para snapchat, e viralizou – mais de 650 mil views. Depois, entrou para playlists do Spotify e, como resultado, foi parar no top 5 viral dos EUA e também no top 5 viral global do Spotify. Em função disso, recebeu ligações dos principais selos do mercado, que estão justamente assistindo a todas essas coisas que vem acontecendo no Spotify. Só que agora, ele é que está em uma posição confortável em que pode decidir pelo melhor acordo (caso realmente queira ser representado). Tudo isso por ter criado uma base de fãs e ter feito barulho por conta própria.

06. Facundo Guerra – (sócio fundador do Grupo Vegas, criador do Cine Joia, Z Carniceria, Mirante 9 de Julho, entre outros)

Se eu pudesse dar uma dica para uma banda que está começando agora, primeiro seria que ela não pense só na música, mas que ela pense num show, numa apresentação, num figurino. Que ela se lembre que uma banda, às vezes, é mais teatro do que música. Tem que ter presença de palco. Tem muito artista que, por exemplo, tem uma voz incrível, tem um bom repertório, mas não tem presença de palco, não tem noção de luz, não tem noção de show. Quando alguém for começar, precisa ter noção do todo. Um show não é só um bom show porque tem música boa. O show tem que saciar todos os sentidos. Esses são os melhores artistas que eu conheço. São artistas que transcendem a música. São mais performers do que simplesmente músicos. A Elis Regina era assim. O Ney Matogrosso é assim. O Liniker é assim. O Criolo é assim. A Céu é assim. A Tulipa é assim. A Tiê é assim. Todos esses artistas são grandes entertainers, grandes performers. Não pode esquecer de nada. Tem que compor vendo luz, tocando figurino, pensando em gestual, em dramaticidade. Tem que compor como se estivesse apresentando uma história no teatro. E não simplesmente uma composição musical.

07. Mark Davyd – (CEO no Music Venue Trust, projeto que trabalha para manter os pequenos bares de música independente no Reino Unido)

Minha dica é ter muita paciência e concentração no início de carreira para que você desenvolva e alimente uma base de fãs devotada e intensa, que poderá te servir de base por toda a carreira. É comum artistas pulares esta etapa sem completar o nível de engajamento necessário, então, a primeira vez que um show grande, um grande promoter ou agente bem conhecido surge, a banda imediatamente tenta subir de fase na carreira sem ter feito o trabalho de base. Faça todos os pequenos shows possíveis, toque por toda parte e se envolva com todos os fãs, com os locais de shows e com pequenos promotores. É este pessoal que vai se lembrar de você e investir em tudo o que você faz. Eles são a base na qual você pode construir uma carteira sustentável.

08. Paulo Junqueiro – (presidente da Sony Music Entertainment Brasil)

Façam o que o coração manda. Pertenço a geração de bandas dos anos 80 e lembro que eles falavam por mim – não apenas no Brasil e Portugal, mas pelo mundo afora. As letras eram uma tradução do que uma geração inteira pensava. Quando ouvia uma música da Legião, Paralamas, Barão, Titãs, Xutos & Pontapés, Police, etc, sentia tudo aquilo que eles diziam mas eu não sabia verbalizar. Além de ser o melhor entretenimento do mundo. Acredito que hoje existe uma geração órfã de bandas de rock e pop, que tem poucos exemplos para seguir, e acaba escutando mais música internacional. Se fizerem o que o coração manda, as coisas vão acontecer. Ninguém tem a formula do sucesso mas acredito que é um misto de: originalidade, carisma, boas canções, determinação, um bom empresário, estratégia correta e MUITO TRABALHO!!!

09. Paola Wescher – (co-fundadora e sócia do Popload Festival, Squat Booking e Barry Music)

Aprenda a tocar muito bem e pense no todo. O que dá dinheiro hoje é show e, portanto, a performance conta como um todo. A estética é importante também. Seja chato com qualidade: de som, de equipamentos, de arte, de equipe. Não tenha vergonha de fazer um rider realmente profissional que vai ajudá-lo a crescer, a se profissionalizar mais e a ganhar mais dinheiro.

10. Lupa Santiago – (vice Diretor da Faculdade Souza Lima/SP e um dos guitarristas brasileiros de Jazz mais respeitados do mundo)

As sugestões para bandas novas são quase que as mesmas que para grupos já existentes há mais tempo. Em primeiro lugar: rotina de ensaios, buscar lugares para se apresentar e, assim que tiver 1 hora de música, tocar e tocar e tocar. Em segundo lugar: conhecer seu público alvo principal, criar canais de comunicação virtual (Facebook, Yourtube, etc) ativos/frequentes e com bom conteúdo, se possível, bem produzido. Preocupem-se com a qualidade do som que estão fazendo – desde de a qualidade dos músicos aos timbres dos instrumentos. Não basta/não precisa necessariamente gastar dinheiro em equipamento, mas ter o cuidado de ter um som claro, é importante em qualquer gênero musical. Lembrem que a etapa da internet é importante e muito sedutora, mas música ainda é, e sempre será, tocar e tocar e tocar.

11. Julio Mossil – (produtor do rapper Rashid)

Profissionalizem-se em tudo que puderem, aprendam a dividir e delegar funções entre vocês ou com suas equipes, trabalhem como artistas grandes, nunca pensem pequeno mas também não pulem etapas. Façam o show que vocês gostaria de assistir e se divirtam.

12. Brenda Mayer – (vocalista da banda Call Me Lolla)

Hoje em dia tudo está tão conectado e todo mundo consegue ter acesso a zilhões de conteúdos num clique. Acho que nem existe mais um modelo para colocar uma banda e sair pronta pro mercado. Mas acho que, em meio a tanta tecnologia, as pessoas querem honestidade: quanto mais sincero melhor, não importa seu estilo, seja você sempre e terá mais chances de acertar e encontrar um espaço só seu

13. Gustavo Ziller – (host da série 7CUMES do Canal Off, colaborador da Revista Trip e autor de Escalando Sonhos, entre outros)

Fazendo uma análise rápida do que tem em comum nas novas bandas e artistas que me fazem ouvi-los, e aqui temos O Terno, Johnny Hooker, Chess Beards, Jam da Silva (carreria solo recente) e por aí vai, é que eles são músicos de verdade e estão resgatando o ‘fazer música’, composição etc. Explico melhor: depois da explosão do rock no final dos 90, durante a fase Banguela Records e pré-Napster, a música era dividida em bandas produzidas pra estourar (fabricadas mesmo) e as originais, as genuínas. Daí chegou o Napster e a revolução que causou… E num primeiro momento foi prejudicial porque o foco da grande indústria, até para sobrevivência, foi nas bandas e artistas fabricados. Agora me parece que viramos o jogo e a turma entendeu que o genuíno sempre foi mais importante do que qualquer coisa. Olha como o Johnny Hooker interpreta as canções, o jeito que o Terno grava, o artista A se veste, o B se posiciona. Isso é original, e que bom que voltou.

14. Julio Andrade – (guitarrista e vocalista do The Baggios)

Uma das primeiras coisas que busquei quando iniciei a The Baggios, foi dar prioridade à música, ao trabalho que era meu sonho e o que realmente queria e sabia fazer na vida. O foco no trabalho é essencial para se manter firme e instigado a produzir. É bem massa ficar atento aos produtores e estúdios na sua cidade que tem produzido músicas que você se identifica, que tenha uma ligação com seu trabalho. Foi o que fiz com os primeiros trabalhos da banda, onde não tínhamos muita verba, mas buscamos pessoas que trabalhavam com bandas independentes, com sonoridade que curtíamos, e eles ajudaram a desenvolver e dar uma direção ao som que almejamos, mesmo com grana reduzida.

Muito importante se manter presente na cena local, ir a shows, produzir em parceria com outras bandas. Fortalece demais! Outra coisa é se manter ativo nas redes sociais para dialogar com os fãs. Buscar uma atividade constante, sejam fotos do processo de gravação, turnê, equipamentos, ensaios. Isso faz com que as pessoas criem mais interesse no projeto e, consequentemente, amplia as possibilidades de novos seguidores.

Uma vez um disco ou EP lançado, é massa produzir material audiovisual, seja uma session em estúdio, lyric vídeo ou videoclipe. Creio muito que isso dá uma intensificada no conceito da banda, além de ajudar na promoção. Tudo bem se a banda está no início e sem grana. Tem muitas pessoas que trabalham no audiovisual na mesma condição, na instiga de produzir e aprender, e que pode se identificar com seu trabalho e cooperar produzindo em parceria essas matérias. É essencial uma assessoria de imprensa para que o disco chegue em sites, blogs e jornais especializados. Por não ter condição de contratar alguém, eu, por exemplo, fiz esse trabalho de assessoria dos Baggios por conta própria, até o lançamento do CD e DVD 10 Anos Depois, buscando contatos de jornalistas em sites, revistas e jornais, pedindo indicações a amigos e naturalmente fui criando um ciclo de contato legal no esquema “Do It Yourself”. É muito massa manter contato com outras bandas também, trocar experiências, fazer sondagens de lugares para tocar, pessoas para trabalhar e ficar sempre se atualizando, lendo sobre o mercado da música em sites ou revistas, pesquisar o que tem acontecido na música atual, ir a festivais de música sempre que possível. Tudo isso ajuda muito a dar um gás e um norte. Aprendi muito assim.

15. Béco Dranoff – (A&R, produtor, fundador da Ziriguiboom Discos e curador do Brasil Summerfest NY)

Meu conselho para artistas/bandas novas é bastante óbvio: música, música e mais música. Tudo no music business começa e termina com a boa música. Vivemos em tempos incríveis, rodeados de moderníssimos objetos eletrônicos que nos conectam em tempo real como nunca antes. Hoje todos somos vorazes criadores e consumidores de música, mídia e ‘conteúdos’ em geral. Somos fotógrafos, videógrafos, DJ’s, designers, blogueiros, e diretores de canais de TV personalizados. Mas, no frigir dos ovos, o que irá sobreviver ao tempo de toda essa nossa frenética produção ‘cultural’, são as obras criadas com a ‘alma’ do criador (não com o ‘cérebro’). A originalidade, intensidade, sinceridade, e o talento inato, são os fatores que levam o artista ao encontro do seu público – e vice-versa. Este público pode ser de milhões de pessoas ao redor do planeta bem como um grupo seleto e de apreciadores que descobriram o trabalho por acaso, através de dicas de amigos, ou algum atalho das redes sociais. Para mim, ‘sucesso’ hoje significa ‘autenticidade’. Buscar e encontrar uma ‘marca’ criativa própria que destaque o artista entre milhões de outros criadores de informação. Nesta nova democracia artística, a qualidade do trabalho é o que vai torná-lo relevante, abrir caminhos e garantir sua longevidade.

PS / Não entendo e não acho produtiva essa prática de distribuição gratuita de discos novos online. Não vejo o benefício em simplesmente ‘dar’ o disco na íntegra a troco de nada (nem um e-mail sequer). Além de anular o valor do trabalho, isso também elimina qualquer possibilidade de licenciamento por um selo internacional.

16. Igor Prado – (bluesman, produtor, primeiro latino a liderar o ranking de audiência das principais rádios de blues dos Estados Unidos)

Meu conselho seria para o artista tentar entender todo o negócio em volta da música. Ter talento musical hoje em dia não é mais o bastante. É claro que você precisa ter talento, mas tem que entender todo o business, todo o negócio em volta do showbiz. Outra dica é você ser um multimídia mesmo dentro do seu negócio. Algumas pessoas têm esse talento e conseguem administrar vários segmentos. Posso dar meu exemplo, tenho minha banda e minha carreira como artista solo, mas ao mesmo tempo sou produtor musical e também produzo não somente os meus álbuns como o de outras bandas. Além disso, sou engenheiro de som, gravo, mixo e masterizo os próprios álbuns. Também sou empresário da minha banda e de alguns artistas no Brasil. Creio que o mercado hoje está muito mais competitivo e se você conseguir agregar funções é um passo enorme para se manter nesse nicho. E a última coisa, também super chave, é ser criativo, sempre estar tentando fazer algo você que não fez anteriormente, trazer algo novo para esse mercado ou algum jeito novo de se fazer a mesma, mesmo que seja uma virgula nova e que ninguém ainda não havia pensado.

17. Barral Lima – (CEO e diretor musical da UN Music)

Tem uma frase que falo sempre para os novos artistas; Sucesso é quando a preparação encontra oportunidade. Isso é antigo mas nunca falha. Para estar pronto é preciso estudar muito, pesquisar, ouvir e ver muita música, movimentar-se e estar sempre conectado com todo o mercado da indústria musical. As oportunidades sempre virão mas se você não estiver pronto, de nada vai adiantar. O mercado está aberto, basta você ocupar o seu espaço nele. Para isso precisa-se de compromisso com a música. Em resumo; a música vai te dar de volta tudo que você der a ela. Tempo, dedicação, investimento, suor etc. Não se esqueça disso.

18. Marcelo Fruet – (produtor musical, compositor e cantor no projeto Marcelo Fruet & Os Cozinheiros)

Musicalmente, não existe fórmula mágica. Tocar bem não significa ter uma obra relevante e vice-versa, mas se dedicar ajuda muito. Pra mim, o mais importante é a matéria bruta: a canção, o tema, a emoção, a forma, a ideia. Aconselho o uso exaustivo da autocritica e, se possível, de uma visão de fora para essa fase. Tendo um material bruto de qualidade, toda a sequência da produção fica mais tranquila e eficiente. Além disso, existem alguns conceitos que considero muito importantes para que o artista consiga se projetar ao longo de sua carreira:

1 – Personalidade, Identidade e Unicidade: para conquistar um lugar que seja exclusivamente seu no mercado, o artista precisa de algo que o identifique e diferencie com facilidade perante todas as outras milhares de opções. Isso pode estar na forma como compõe, no timbre/ expressão vocal, na atitude, na letra, na instrumentação ou em tudo isso junto. Quando produzo, tento minimizar as referências e semelhanças diretas à grandes artistas existentes e valorizar aquilo que é único do artista em questão.

2 – Correspondência: pra mim uma das coisas mais importantes atualmente. A indústria da música mudou e já não se vive apenas de venda de discos como antigamente. Ironicamente está muito mais fácil gravar um disco com altíssima qualidade e pouca verba. Mesmo quando o artista não tem essa qualidade no seu trabalho, é possível corrigir performances e manipular muita coisa em estúdio para que seu disco soe sensacional. É aqui que mora o problema. O que rende e vende mais o artista hoje é o show. Se a qualidade do show não corresponder minimamente ao que se escuta nas gravações, na maioria dos casos, o artista estará fadado ao insucesso à médio/longo prazo. Importante sublinhar que, quando digo isso, não acho que o artista deva se acomodar à sua qualidade inicial e colocar isso em um álbum, mas melhor ainda seria fazer o oposto: utilizar o processo de um álbum para evoluir sua atividade performática, elevando o nível das duas coisas e ganhando mais coerência na correspondência entre show e disco. Isso com certeza pode ajudar a colocá-lo em evidencia, se a obra for boa no que se propõe.

19. Guilherme Peluci – (regente da Orquestra Ad Hoc e saxofonista do Dibigode)

Acontece muitas vezes com artistas iniciantes, acreditar que seu primeiro trabalho é, de fato, a sua obra prima. Isso pode bloquear ou atrasar um pouco o processo evolutivo do artista. Apreço é diferente de apego. Mesmo sendo essencial levar a sério o seu trabalho e ter esmero com tudo que está a seu redor, na arte, a continuidade é muito importante. É preciso saber desapegar e passar para a próxima etapa. Com o tempo, vai se acumulando uma série experiências que vão dando forma à maturidade e a consistência do trabalho.

A qualidade do trabalho é o ponto inicial, o mínimo. Gosto da metáfora que diz que arte é 10% inspiração e 90% transpiração. Mas isso não significa se perder em uma série de manobras do marketing para sustentar uma perenidade de reações sociais. A corrida dos likes.

Muitos artistas tiveram sucesso e ficaram famosos com seus primeiros discos, isso também está relacionado ao contexto social em que estavam inclusos. Na maioria dos casos é necessário um longo caminho traçado antes de conseguir um certo reconhecimento. Por outro lado, também, é muito importante saber viver uma coisa de cada vez. A ansiedade de chegar no final da linha, não deixa aproveitar o percurso, que pode ser extremamente prazeroso, afinal de contas, a melhor coisa do mundo é trabalhar com o que gosta.

20. Marcos Chomen – (business development no CD Baby)

Não foi só a indústria da música que mudou com a revolução digital. O digital abriu oportunidades que ainda estamos explorando. As próprias gravadoras tiveram que se adaptar para não morrer nesse novo modelo, e ainda estão, em muitos casos aprendendo com artistas independentes que souberam se movimentar nesse novo mundo. Com a distribuição digital self service levando a música do artista independente para todo o planeta, aliado a redes sociais, os artistas independentes podem conquistar fãs em lugares antes impossíveis de se chegar. Ninguém hoje tem a “fórmula” de como fazer isso (nem as grandes gravadoras com grandes investimentos). Eu acho que a grande diferença do modelo antigo é de que agora quem escolhe os artistas que vão fazer “sucesso” é o público. Não mais a crítica, as gravadoras, os jabás, etc. Tanto isso é verdade que as grandes gravadoras vão procurar artistas que tem um grande número de “seguidores” ou views no Youtube. E muitos destes artistas dizem não para as gravadoras pois ao final não precisam delas. Para conseguir esse público alguns pontos são obrigatórios

1 – Distribuir sua música para as lojas e streamings: É uma das melhores formas de divulgar sua música, ela pode ser descoberta por milhões de pessoas no mundo, além de gerar receita. Pense que todo o catálogo de música no mundo está nas lojas e streamings mundiais, se o seu não estiver lá não vai estar em lugar algum.

2 – Conquistas e engajar fãs através de Redes Sociais: Entre outras funções Redes Sociais estabelecem conexões entre pessoas que tem afinidades, e música é uma forte conexão entre pessoas. Um fã de sua banda pode engajar dezenas de outros amigos que compartilham do mesmo gosto musical e assim sua música pode chegar em milhares de conexões. Esse é um trabalho que artistas independentes de sucesso fazem muito bem, mas infelizmente não tem uma “fórmula” também. Depende de vários fatores, do gênero da música até da postura do artista.

3 – Ser um usuário das novas plataformas
Muitos artistas reclamam que ninguém ouve suas músicas no streaming e supreendentemente nem eles utilizam. O fato é que a nova geração não compra CD’s e nem “baixa” música pirata. Essa geração acessa serviços de streaming (alguns são free inclusive), Youtube para ouvir suas bandas preferidas ou para descobrir novas. Portanto é importante você criar playlists, ouvir novas bandas, compartilhar, etc.

Esses são passos obrigatórios. É claro que fazer Shows, CDs promocionais para vender nos shows, camisetas e mais uma série atividades que as bandas já faziam tem grande validade e devem ser executadas. Inovar sempre foi um ponto chave e hoje é possível inovar a um custo muito baixo. Um videoclipe feito com um smartphone pode virar um viral e sua banda conquistar milhões de fãs e abrir muitas portas. Como fazer isso? Ninguém sabe, mas se você não tentar nunca vai conseguir.

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