A nova MPB: Música Periférica Brasileira

Alguns movimentos musicais brasileiros marcaram determinadas situações sociais e políticas do país, transmitindo os anseios, desejos, embates e retratos da população por meio de grupos de artistas. A Música Popular Brasileira (MPB) é um exemplo. Com origem na década de 60, no início do regime militar, a MPB foi usada como bandeira da cultura contra o golpe. Era a junção da turma da Bossa Nova com representantes da música regional com auxílio da União Nacional dos Estudantes (UNE). Em sua maioria, tratava-se de jovens universitários, que vivenciavam o contexto nefasto no país de modo ativo.

Na década de 80, tivemos a criação do Clube do Samba, um marco da reafirmação das raízes brasileiras do samba que surgiu como reação à febre da música estrangeira num período em que os sambistas tinham pouca ou nenhuma oportunidade para gravar ou se apresentar. A iniciativa foi articulada por João Nogueira e tinha entre suas atividades a produção de um jornal com notícias sobre o samba e a realização periódica de um baile que era frequentado por Beth Carvalho, Clara Nunes, Martinho da Vila, Paulinho da Viola e Roberto Ribeiro. Podemos ressaltar ainda diversos outros, como o Tropicalismo, o próprio Samba, o Clube de Esquina, a Psicodelia Nordestina, o Manguebeat e a explosão do rap nas décadas de 80 e 90, somente para citar alguns.

Pauta atual

A tradução por meio da música é algo comum, uma vez que ela pode ser interpretada por todos que possam ouvi-la de modo simples e prático. O que a criação do movimento da Música Periférica Brasileira traduz é o anseio por liberdade de uma parcela da população que fica a margem da sociedade, em todos os quesitos. É dar protagonismo aqueles que são postos como secundários por grande parte da população. E a liberdade em questão não é só social, relacionada a reivindicações de questões básicas, como segurança, saúde, educação ou atenção (como ressalta Criolo, um dos músicos que constitui o movimento), mas também da liberdade sexual, das convenções de beleza e também da identidade de gênero, como ressalta Liniker, outro músico integrante do movimento: “é aceitar na nossa vida um estado de maravilhosidade. É o momento de empoderamento”.

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Liniker, vocalista da banda Liniker e os Caramelows.O retrato das periferias de onde os artistas pertencentes ao movimento vieram tem semelhanças, mas a interpretação varia de acordo com cada um deles: Rael, por exemplo, é um rapper criado no Grajaú, bairro na zona sul de São Paulo, e atualmente o enfoque de suas músicas é nas relações interpessoais entre as pessoas, muitas vezes permeando o amor, assim como Liniker. Já Yzalú, mulher, negra e cantora paulista do ABC, possui um discurso afiado sobre papel da mulher negra na sociedade. Cada um dos artistas que compõe o movimento traz uma grande gama de assuntos e reflexões, sugerindo assim uma sugestão, um alicerce, para que o público realize suas próprias construções e interpretações. É dessa forma que a nova MPB instiga e visa sugerir uma representação que é assimilado, discutido, contestado entre seus ouvintes.

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