A resistência e resiliência de Aquarius

Aquarius estreou na Netflix para a sorte dos que não puderam ver essa belíssima obra de Kleber Mendonça Filho nos cinemas. Com Sonia Braga no papel principal, Aquarius parece um filme com uma história simples, mas tem uma profundidade tão intensa que ele permanece por muitos dias vivo na cabeça.

Aquarius apresenta a história de Clara uma jornalista aposentada que venceu um câncer, é viúva, mãe de três filhos e vive sozinha num apartamento em frente ao mar em Recife, no Pernambuco. Seu prédio, porém, foi comprado por uma construtora que quer construir um prédio de luxo no lugar. Todos os apartamentos foram vendidos, menos o de Clara, que se mantém firme em sua ideia de não querer vendê-lo. Relutante, Clara segue vivendo no prédio, sozinha, e por isso acaba sendo taxada de louca, teimosa e barraqueira.

Eu vou confessar aqui para vocês que a princípio enquanto acompanhava a história, pensava: “Meu Deus, que preguiça, por que ela não vende logo esse apartamento e fica em paz”. Ou como a filha de Clara, que também se chama Paula, dizia: “mas mamãe eles estão oferecendo dois milhões de reais por ‘ESSE’ apartamento”. Me dei conta depois que tanto eu, quanto a minha xará, estávamos completamente equivocadas, e eu vou explicar por que:

– Uma decisão não tem preço. A partir do momento que alguém decide algo, temos respeitar; ainda que a decisão não nos agrade, ainda que para nós a escolha não seja a correta. Não importa, uma decisão tem por si só o seu valor e não há o que contestar.

– Dinheiro não compra tudo. “Eu tenho X milhões de reais pelo seu imóvel”. “Mas eu não quero vendê-lo, obrigada”. “Mas o que estamos oferecendo é muito mais do que ele vale”. Cifras não são sinônimos de valores. O valor de algo depende de cada um, o que para mim pode ser caro para você talvez não seja, ou talvez nem todo o dinheiro do mundo o pague. Valor e dinheiro são coisas distintas.

– Resistência. Aquarius é um filme sobre resistir, se manter firme, não sucumbir. É sobre como muitas vezes somos obrigados a abrir mão das coisas em prol de outros interesses, seja do mercado, ou de quem tem mais poder do que a gente.

– O poder do não. O que é certo é de direito e ponto final; sendo assim, se olharmos com atenção às vezes não é necessário obedecer. Não temos que ceder pela pressão, pelo dinheiro, ou porque trata-se de gente “poderosa”. O não tem muito poder e, ao saber dizê-lo, ele pode se transformar em um ato revolucionário, ou melhor em um ato político.

– Resiliência. A capacidade de se manter firme em uma decisão e se adaptar as situações adversas é talvez o mais importante aprendizado do filme. Com resiliência somos capazes de respeitar as nossas verdades, entender o que acontece ao nosso redor e, como uma fênix, ressurgir das cinzas, até atingir o nosso objetivo.

Sutilmente, Aquarius serve para apontar como há no cotidiano pessoas resistindo diariamente, há muitas Claras por aí lutando para manter suas vidas como assim desejam contra a política, o governo, o Estado, o poder e o dinheiro – mesmo que não sejam notadas. Meu desejo é que a sombra do poder não nos faça olhar para o lado errado.

 

https://www.youtube.com/watch?v=VB-5rodvHUc

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