MEMES: vocabulário de internet ou ferramenta de transformação?

Falar sobre memes em pleno 2017 não soa nada atual ou inovador. Até porque, com a rapidez da internet, falar sobre qualquer assunto duas semanas depois de seu boom já é o suficiente para considerarmos um atraso.

No entanto, falar sobre memes é, mais do que nunca, atual. Principalmente quando tratamos desse país Brasil. Afinal, se tem uma coisa que brasileiro entende, é de meme. E Nazaré Tedesco que o diga.

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O conceito de meme, desenvolvido na década de 70 pelo biólogo Richard Dawkins, surgiu a partir de um paralelo entre genética e cultura: segundo o cientista, o meme é para a cultura o que o gene é para a genética; ou seja, é tido como uma unidade de transmissão cultural e de difusão da informação. O que, por sua vez, se fundamenta na imitação (a forma mais básica de aprendizado social e geradora de padrões comportamentais).

Para Dawkins, ainda, o meme possui um processo evolutivo muito similar ao genético, sendo permeado por três elementos fundamentais: a mutação, a seleção natural e a hereditariedade. Isto significa que o meme é capaz de sofrer variações de acordo com a propagação entre as pessoas; é sujeito a ser preferido ou deixado de lado frente a outros memes, dependendo de sua capacidade de chamar atenção e de ser replicado; além de poder ser fruto de combinações e recombinações entre outros memes.

Assim, estas unidades lutam pela sua sobrevivência e propagabilidade, vivendo um ciclo similar ao vivido por nós, seres humanos, na tentativa de perpetuar nossas características; com a diferença de que os memes lutam pela perpetuação das características sociais.

Mas, trazendo o conceito especificamente para o contexto da internet, temos uma visão similar àquela proposta pelos virais: a produção e reprodução de ideias, comportamentos, brincadeiras, piadas, zoeiras e hue hue pelos canais digitais. No entanto, com a possibilidade de edição e adaptação a cada diferente cultura, contexto, nacionalidade e afins.

E se for pra falar de hue hue, pode chamar o brasileiro.

A alegria e o espírito piadista do brasileiro vêm se replicando na web por meio dos memes de modo notável, até mesmo internacionalmente.

Parece piada, mas não é. Os memes vêm entregando cada vez mais ao brasileiro um espaço de diálogo e de compreensão e até mesmo voz para discutir suas opiniões – espaço esse que a mídia tradicional nunca foi capaz de oferecer com tamanha intensidade.

Hoje, mais do que nunca, podemos dizer que somos notados. Seja pela Katy Perry, ao levar a Gretchen, rainha dos memes, para seu vídeoclipe, ou seja pela Rede Globo ao apresentar uma matéria no Fantástico sobre memes brasileiros. Seja pelo House of Cards interagindo com o Brasil na delação do Joesley, ou seja pelo próprio presidente do país proibindo o uso de suas fotos para memes.

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Muito disso ocorre porque sabemos rir de nós mesmos e aprendemos a transformar as mais trágicas situações vividas em humor.

E, se for para falar em tragédia, ahhhh, basta ligarmos qualquer noticiário para observar a situação política atual do país. É tanta tragédia atrás de tragédia, que não nos surpreendemos mais e já aprendemos a fazer piada na web. E é assim, neste contexto, que vemos a ascensão do meme como uma ferramenta de discussão e transformação.

Mas, por mais que falar sobre memes possa parecer exclusivo a públicos mais jovens (alô millennials), na verdade é muito mais inclusivo do que parece. Isso porque ele percorre um ciclo que consegue atingir inúmeras camadas sociais e comportamentais. Ele surge em espaços mais “exclusivos” da internet, em fóruns como Reddit e 4Chan, depois migra para espaços mais abertos, como o Twitter, seguindo para o Facebook para, finalmente, atingir uma etapa muito mais inclusiva, especialmente quando se fala do público brasileiro: o whatsapp.

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Fluxo de recepção de memes

E, mesmo que durante essas etapas ele sofra mudanças e adaptações, a mesma informação vai percorrer desde o seu sobrinho recluso que não sai da internet, você, sua prima popular, até atingir a sua tia e a sua avó que só têm acesso ao grupo da família no “zap zap”.

Os meios são abrangentes e a informação é clara, direta, é menor que um tweet e impacta quem vê. É a famosa ideia de que uma imagem vale mais que mil palavras, porém repaginada.

Deste modo, em um contexto como o que temos vivido no Brasil, em que falar sobre política parece que nunca esteve tão em voga quanto nos últimos tempos, não precisamos ligar a TV ou abrir um jornal para percebermos ou até mesmo para entendermos o que está acontecendo. Basta acessar qualquer rede social, que somos atualizados por memes.

Temos vivido, portanto, um processo de nítida democratização, causada não somente, mas especialmente, pelos caminhos percorridos pela informação por meio dos novos formatos propostos pela internet.

O reflexo disso? Os políticos hoje estão na boca do povo, até mais do que popstars. A Anitta, por exemplo, em seu pico de citações no último mês no Stilingue , esteve menos popular do que o presidente Temer em seu dia de menor citações.

 

Isso mostra que política está na ponta da língua e dos dedos. E os memes, aqueles outrora incompreendidos e confundidos com a piada pela piada e com um reducionismo da linguagem, hoje mostram seu poder como propagadores e educadores.

E isso é só o começo. Ou não?

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