Quando a gente se acha muito

Um 2 de Julho não é pra qualquer um

Duas passagens rápidas pela McCann, uma pela agência Pentágono, uma desilusão amorosa e uma oferta de trabalho tentadora da então GFM/Propeg me fizeram mudar e ir trabalhar em Salvador, Bahia. Isso foi em 1974, em pleno 2 de Julho.

Rodrigo de Sá Menezes, dono da agência, era uma figura poderosa no mundo dos negócios e principalmente no mundo da propaganda: grandes clientes, grandes verbas, grande networking.

Rodrigo antecedeu minha chegada a Salvador com matérias, artigos e releases nos jornais locais, meu perfil e biografia (que eram breves e insossos), entrevistas. Um criativo de São Paulo, vindo de uma multinacional, havia sido contratado pela agência local para provocar uma reviravolta profissional e torná-la, a agência, uma operação verdadeiramente nacional.

Me senti uma celebridade, todo cheio de mim aos 23 anos de idade.

Autossuficiente e desavisado, preferi comprar minha própria passagem aérea, descartei um carro que a agência havia colocado à minha disposição e lá fui eu.

Um pouco antes do meio-dia, o avião aterrissa no então Aeroporto 2 de Julho.

Olho pela janelinha do avião e vejo uma banda militar a postos. Vejo uma formação de cadetes em posição solene. Vejo autoridades, bandeiras do Brasil e da Bahia. Uma grande comitiva solene.

“Puta merda, o Rodrigo é mesmo poderoso e minha contratação é mesmo importante pra GFM/Propeg. Tem até recepção oficial!” – pensei eu.

Começo a descer a escadinha do avião um pouco atrás de outros passageiros. A banda militar começa a tocar hinos do Brasil e da Bahia. Eu vou acenando, sorrindo, agradecendo toda a pompa e circunstância com que eu estava sendo recebido.

Engano: aquela cerimônia toda não era pra mim. Era para as autoridades nacionais que saíram antes de mim do avião, políticos, senadores, militares que chegavam a Salvador no dia 2 de Julho para celebrar o Dia da Independência da Bahia do então Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.

É o feriado local mais importante historicamente eu não sabia.

Só me restou pegar um taxi, fazer o check-in no Hotel do Farol da Barra e brindar a Independência da Bahia com algumas caipirinhas.

O dia seguinte seria meu primeiro dia de trabalho na agência. Incógnito e anônimo pra comunidade local.


Texto publicado originalmente no Blog do Perci

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