Onde “nation branding” é levado a sério

Estônia, a sociedade digital mais avançada do mundo permite que todos usufruam de seus serviços financeiros empresariais 

O que torna uma nação mais digitalmente desenvolvida que outra? O balanço entre educação, tecnologia, investimentos, acesso e soluções para a qualidade de vida dos seus cidadãos dentro e fora do ambiente online. Assim é a Estônia, um pequeno país de 1,3 milhão de habitantes que faz fronteira com a Rússia e até 1991 era uma república soviética. Depois de ter todos os serviços públicos digitalizados, desde governança corporativa, saúde, voto nas eleições, impostos e até  blockchain, a Estônia é reconhecida como a sociedade digital mais avançada do mundo.

Berço de algumas importantes companhias como Skype e Transferwise (empresa de envio e recebimento de recursos), o país chama ainda mais a atenção por oferecer alguns de seus benefícios a cidadãos de todo o mundo. Trata-se do programa de e-residency (cidadania digital) que significa que qualquer pessoa, independente da nacionalidade ou da localização, pode abrir e executar uma empresa global totalmente online.

A iniciativa beneficia empresários que desejam ter acesso e fazer transações no mercado europeu. Serve a freelancers que precisam aceitar pagamentos de cartão de crédito online, nômades digitais que viajam e que desejam administrar sua empresa de forma online, empreendedores em busca do acesso ao capital de outros países; além de cidadãos da União Europeia que desejam reduzir os custos de taxas de administração.

Ao facilitar transações, a Estônia contribui para fomentar o acesso ao empreendedorismo. Na Ucrânia e Turquia que restringem o acesso ao PayPal para receber e efetuar pagamentos, ter uma empresa aberta em um país europeu facilita trocas comerciais de empresas estrangeiras. Esta é uma das principais razões para a adesão do e-residency nesses países.

Já no caso da Índia, muitos empresários procuram criar empresas na UE para ter acesso a capital, clientes e fundos, e usam o e-residency como porta de entrada para a Europa. Um bom exemplo dos frutos gerados, é a parceria do e-residency com o “e-Trade For All”, uma iniciativa conjunta com a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento e que está em andamento em Delhi, na Índia. Por meio do programa, mulheres estão sendo apoiadas a iniciarem seus negócios online.

O referendo Brexit levou a um aumento acentuado nas aplicações para a e-residency vindas do Reino Unido. Desde que a região votou no ano passado por deixar a UE, foram mais de 1500 pedidos. Esses recentes residentes eletrônicos estabeleceram 119 novas empresas. Eles podem até ter escolhido deixar a União Europeia, mas seus empresários ainda podem optar por permanecer dentro do ambiente empresarial do bloco.

O e-residency existe desde 2014 e atualmente contabiliza 30.000 residentes digitais de 139 países. A maioria das empresas estabelecidas são de atividades de consultoria de gestão, programação, comércio e atacado de produtos, desenvolvimento de sites e negócios em publicidade. No total, existem 163 e-residentes brasileiros que já criaram 17 empresas. Veja no quadro abaixo as 10 delegações com mais maior número de solicitações.

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O próximo passo da Estônia para continuar evoluindo na democratização digital foi lançar uma discussão nacional sobre o verdadeiro desafio de regular o surgimento de máquinas autônomas para apoiar a inteligência artificial, reunindo governo, empresários e população para proteger o interesse público. Os estonianos foram um dos primeiros, por exemplo, a autorizar testes em carros autônomos nas ruas. Isso mostra a grande capacidade de adaptação do pequeno país que há menos 30 anos estava sob o domínio soviético.

*As informações sobre as regras do programa de e-residency e outros programas digitais da Estônia são facilmente encontradas no endereço eletrônico oficial da nação. Veja os diferentes perfis e histórias de residentes eletrônicos no artigo do Medium do programa.

Um banho de legitimidade

Os números precisos deste artigo só foram possíveis graças a algo que comprovou literalmente o que significa viver em uma sociedade digital. Ao pesquisar informações sobre a história e as motivações do programa, a experiência confirmou o que vem a ser o melhor serviço de atendimento ao cidadão (e não cidadãos) do planeta. Comecei a procura pela página no Facebook chamada “Visit Tallin” (Tallin é a capital do país) e enviei uma mensagem para o perfil, explicando o objetivo e solicitando informações de contatos que poderiam ajudar na pesquisa. Nove horas depois recebi a resposta com dois endereços de e-mails nominais de duas pessoas que poderiam me ajudar. Já no primeiro contato, além de explicar o contexto, aproveitei para enviar as perguntas, que foram respondidas em menos de 24 horas. Primeiro com um e-mail cordial acenando para o recebimento das minhas questões, seguido por um segundo e-mail, com todas as questões respondidas e mais, o endereço de um link que funciona como um banco de imagens oficiais do país e que podem ser usadas para ilustrar qualquer material que esteja sendo produzido sobre a Estônia. Ao agradecer o tratamento, rapidez e a qualidade das respostas, recebi ainda uma tréplica: “Nation branding é levado muito a sério aqui”. De fato é!

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