A revolução pelo lado de dentro do aprendizado

A criatividade como arma de transformação e porque não é possível olhar essa questão somente pelo lado de fora

Uma consultoria de criatividade que consiga valer seu título deveria se basear no desafio de não apenas ousar oferecer um aprendizado a seu cliente, mas entrar no mundo em que está instalado o problema central, e sair de lá com alguma solução positiva.

Não seria possível olhar a questão “de fora” para entender o que se passa.

As dificuldades de uma empresa, como um organismo vivo (feito de gente trabalhando junta), são inerentes à natureza humana: dilemas, dramas, confusões, desejos, necessidades e defesa inconsciente por sobrevivência; e mesmo quando o “corpo” sucumbe e morre, será digerido, reprocessado e reciclado por um sistema que nunca para, nunca dá uma folga, nunca deixa de se movimentar. A máquia é sedenta!

“Aprender sem pensar é tempo perdido.”  — Confúcio

Há empresas invejadas por todos. Ou quase. Empresas com problemas terríveis, muitas vezes ocultos atrás de cortinas de linho fino. Mas que ainda assim estão lá. Sejam atendentes mal treinados e orientados (e mal pagos) sejam equipes de TI em colapso por horas extras intermináveis e equipamentos inadequados; sejam políticas de ascensão profissional mal administrada. Não importa, o problema está lá.

O câncer institucional come a carne do corpo, sem piedade, engolindo pessoas que poderiam dar o seu melhor, mas não compreendem seu papel na empresa ou estão sendo massacradas por outros acima delas, que também não entendem o seu papel lá, talvez nem mesmo na vida.

E a questão não se resume ou fica limitada ao mundo corporativo. A vida está cada vez mais sofisticada, porém, de muitas formas, mais pobre, cinzenta e deprimida.

Pessoas e empresas estão cada vez mais equipadas com novos dispositivos eletrônicos mas, ainda assim, conseguem não projetar a sua verdadeira mensagem. Pessoas e empresas estão perdidas, muitas vezes, incapazes de lidar com dilemas simples, como responder a comentários malcriados em suas redes sociais.

Parece que o mundo virtual nos viciou com a ideia plástica de perfeição e felicidade infinitas e inabaláveis. Em um mundo “perfeito”, teoricamente, não precisaríamos ser criativos; afinal, aparentemente, está tudo perfeito. No entanto, a realidade nos mostra o contrário.

Um dos princípios que mais admiro nos estudos sobre criatividade é o que defende o valor do erro, do fracasso, da falha, do defeito; “…aonde quer que você vá, há uma tonelada de adversidades e fracassos esperando”, diz nosso amigo Mark Manson, no divertido A Sutil Arte de Ligar o Foda-se; “Esse não é o problema”, continua, “A ideia não é fugir das merdas. É descobrir com qual tipo de merda você prefere lidar”.

A sutil arte de escolher caminhos e desafios é fruto de muita dedicação, pois a vida bate forte e tá se lixando pra você. Outra questão que me chama muita a atenção são as pessoas que ainda acreditarem que a criatividade é o resultado de uma loteria biológica. Não é. E isso já está muito mais que provado.

Publicitários, músicos, escritores e afins não são mais ou menos criativos que outros profissionais. A eles é solicitada a solução de problemas diferentes quase o tempo todo. O que dizer de médicos, advogados e contadores criativos? Estranho? Não é. Pelo menos eu acho que não. Eles foram “treinados” para serem senhores de um conhecimento sacro, defensores de tradições seculares; mas, imagine se os profissionais da saúde, das leis e do mundo financeiro começassem a questionar os seus próprios modelos de trabalho.

Claro, seria uma confusão. Mas, nada melhor do que alguém de dentro para poder revolucionar o sistema em que está inserido; afinal, conhece seus meandros, cada detalhe, falha e virtude. Outro cara que sabe o que diz é Steven Johnson, quando afirma que mesmo se as boas ideias não desejarem ser livres, elas ainda buscam se conectar, se fundir, se recombinar. Para ele, as ideias “…querem se reinventar transpondo fronteiras conceituais. Querem tanto se completar umas às outras quanto competir”.

Um advogado que questione o sistema de leis, um médico que não aceite as regras da medicina ou um contador que se inspira na busca por uma contabilidade mais simples e acessível, que aproxime as pessoas da lógica dos números e dos documentos, matando a burocracia e dando oportunidade para um mercado mais intenso e rico, criariam oportunidades únicas para termos um mundo pelo menos diferente.

Parece utopia, eu sei. Mas, o mundo já passou por incontáveis situações iguais, quando algum maluco chamou a atenção para algo que parecia inconcebível, daí para algo improvável, até se tornar impossível vivermos sem isso. Esse é o nosso mundo. Conforme crescemos, o esperado é que a educação nos oriente na passagem da infância para a maturidade, afirma o hilário Sir Ken Robinson, na interessante obra Libertando o Poder Criativo. Para ele, a educação deveria ser decisiva para nos fazer perceber nossa capacidade criativa, mas “contribui para perder esse atributo de vista”. Ou seja, aqui se desfaz a utopia. Bastaria uma educação completamente nova. Utopia?

Enfim, para fechar esse texto que já ficou enorme, acredito que um consultor de criatividade tem a complicada missão de entender a verdadeira essência da empresa ou de uma pessoa, observado cada aspecto que define seu propósito, para, daí, conseguir oferecer uma ajuda realmente saudável e produtiva. Afinal, sem combinar os genes corretos nenhum ser vivo é capaz de se reproduzir.

No máximo, talvez, invente uma nova e triste mutação; algo que talvez venha a ser o assombro da normalidade ou que acabe morrendo no próprio parto. Como muitas das ideias “bem intencionadas”, e alguns empreendimentos baseados em pura empolgação infantil, e egos inflados e inflamados. É preciso um verbo “aprender” com mais personalidade, prático, inventivo e sem limites, autônomo e cheio de energia, de onde podemos tirar toda a munição necessária pára vencer qualquer desafio.

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