O que você deseja para sua filha?

Você também pensa sobre isso, tenho certeza. Sucesso? Saúde? Dinheiro? O que desejamos para nossos filhos na era da singularidade?

Eu escolhi ser pai muito cedo. Aos 25 anos nasceu nossa primeira filha. Antes dos 30 já tínhamos Joana, Iara e Mateus. Para completar, minha mulher e eu estamos juntos há 29 anos, desde os 14. E hoje, Joana, nossa primeira filha, completa 18 anos.

Isso tudo me fez refletir.
O que eu desejo para Joana?

Você também pensa sobre isso, tenho certeza. Sucesso? Saúde? Dinheiro?
O que desejamos para nossos filhos na era da singularidade?

Minha mulher e eu fomos educados da mesma forma. Escolarização no Colégio Marista de Belo Horizonte, portanto na era industrial. Aquele tipo de educação com 45 alunos na sala, posicionados em linha, com carteiras de madeira e um professor à frente. Éramos números. Quase sempre fui o 19. Um mundo linear, tudo em caixinhas e o controle era a forma mais fácil de educar. Não tínhamos tantas variáveis para decidir algo.

Se perguntarmos para 50 pais e mães da nossa geração ‘o que desejamos pros nossos filhos?” a resposta não vai além de ‘um trabalho estável’, ‘que tenham sucesso’ ou ‘que tenham dinheiro’.

Humm, isso me incomoda, e também à Pati. Nosso compromisso é evitar pensamentos da era industrial pela simples constatação de que o mundo mudou, e nossos filhos crescem num ritmo de transformações bem diferente do ‘nosso tempo’. As frases clássicas do tipo ‘o que você vai ser quando crescer’ não cabem mais nos sonhos de hoje.

A ficha caiu e posso dizer que descobri o que quero para Joana.
Eu te convido a refletir comigo, mas antes, preciso contextualizar essa epifania.

Fui convidado para dar uma aula em Florianópolis. E Pati foi comigo. Chegamos em Floripa numa quinta-feira de novembro e seguimos direto para casa do Dárcio. Fomos recebidos da forma mais brasileira possível, sabe? Aquele sorriso e aperto de mão que são de uma energia acolhedora. O convite pro cafezinho, para conhecer a família, para pertencer ao lugar.

De lá fomos para aula. Quarenta alunos como nos tempos de Marista. Mas num espaço não-linear, sem amarras, e com a certeza de que aprendizado não é algo surrado nas nossas caras, mas construído por todos. A energia foi incrível.

Voltamos pra casa e começamos a refletir sobre o que nos trouxe até ali. O amor? Não. O companheirismo? Um pouco. O respeito? Também. Mas principalmente os sonhos compartilhados. Na primeira parte da nossa revisão de vida lembramos de todos os sonhos que compartilhamos juntos, os que deram certo, os que deram errado e os que ainda serão vividos.

No dia seguinte visitamos amigos, empresas e algumas praias da cidade. Florianópolis é uma ilha, e nessa ilha há vários vilarejos distintos coexistindo no espaço. Vidas próprias que se cruzam nas longas estradas de ligação. Nas pontes e praias. Nossos filhos são assim. As estradas se cruzam, não sabemos onde vão chegar, mas não faz diferença nenhuma, precisamos apenas acompanhar as jornadas.

Continuamos o papo na beira de um canal que liga a Lagoa da Conceição ao mar aberto. Esses canais são outra metáfora de nossas vidas, não são? Água que corre, fluída, de uma harmonia não violenta. Um fala, o outro ouve. Você fica presente por inteiro. A energia não dilui até encontrar o fluxo. Paternidade é isso.

Quando o sol caiu já estávamos em casa. Fiquei pensando na importância da presença da Pati na minha trajetória, e consequentemente na minha presença na vida dela. Lembrei de tudo que conversamos até ali. Nos sentamos à mesa, bebemos, ouvimos música, e falamos mais e mais da vida.

Ela subiu pro quarto e eu, ainda atordoado de energia boa, fiquei na sala. Mandei um recado pra ela: ‘estou aqui embaixo curtindo uma reflexão. E pensando em escrever. Queria eu ter um caderno e um lápis. Pra gastar o grafite todo tentando achar palavras pra dizer o tanto que você é importante na minha vida. Eu sigo feliz ao seu lado. Gastando grafite por mais 50, 70, 100 anos’.

Subi, e deitei no colo dela. Pati enrolou os dedos na minha barba. Na janela da frente montanhas, pequenas luzes amareladas, o fio de mar e a noite calma. Um sentimento tão bom que não cabe em palavras. Foi quando eu disse: ‘é isso que desejo pra Joana’. E Pati completou: ‘e não importa o tamanho que ela tenha na vida’.

Fica a pergunta, o que você deseja para sua filha?

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