UX Design & Psicanálise | Parte 2

No meu primeiro artigo falei um pouco das ligações que vejo entre UX e Psicanálise, agora gostaria de fazer alguns recortes sobre similaridades que vejo entre os dois processos, vem comigo.

No meu primeiro artigo falei um pouco das ligações que vejo entre UX e Psicanálise, agora gostaria de fazer alguns recortes sobre similaridades que vejo entre os dois processos, vem comigo.

1. A escuta como método ?

Nosso mundo pós-moderno está inundado de notificações, informações, fotos, vídeos, notícias, áudios — uma verdadeira overdose de informação, comunicação e exaltação do indivíduo; mas será que alguém realmente se escuta de verdade no meio dessa bagunça toda?

Nos tempos atuais, a escuta anda cada vez mais escassa, na maior parte do tempo, estamos querendo falar sobre nós mesmos (observe por si mesmo e descubra), dificilmente conseguimos parar para Escutar o Outro. Enquanto o Outro fala, nossa cabeça fala junto, discordando, classificando, julgando — isso não é Escutar.
Não é a toa que um grande número de pessoas paga $ sessões de terapia (não apenas sessões de psicanálise) simplesmente para serem ouvidas.

Nos dias atuais, observo que nossos diálogos andam bem parecidos com isso:

Pessoa 1:
“Eu gosto de amarelo”

Pessoa 2:
“Eu gosto de vermelho”

Pessoa 1:
“Gosto muito de vinho e pasta”

Pessoa 2:
“Ah eu já fui pra Itália, foi incrível” …

Pessoa 1:
“Poxa sou muito fã do StarWars”

Pessoa 2:
“Ah eu curto mesmo StarTrek, bem melhor…”

* Acho que deu pra entender o Padrão, certo?
Isto é um diálogo ou estamos boa parte do tempo tentando falar sobre nós mesmo? Estamos realmente escutando os outros?

Escutar as pessoas é uma fase essencial nos processos de UX (empatia e descobertas) e também no processo de Design Thinking; essas pessoas podem ter perfis diversos como usuários, stakeholders, devs, atendimento, etc. A Escuta e a Observação são peças fundamentais para que possamos entender melhor nossos usuários, seus comportamentos, necessidades, desejos, frustrações — enfim, suas histórias e jornadas — para que então possamos desenhar algo que faça sentido para eles e, de certa forma, reduza suas dores e frustrações.

Importante lembrar ☝ Isso vale para Usuários e para Pacientes = PESSOAS

 

É sensato perceber e admitir que existe uma grande diferença entre o que dizemos, o que fazemos, e o que dizemos que fazemos. Podemos notar isso quando observamos nossas resoluções de final de ano; no quanto é difícil mudar nosso hábitos, e em outros contextos também.

Uma das mensagens de Freud é que somos feitos de padrões e de repetições e que não estamos tanto no controle quanto imaginamos.

Falar e o Fazer vem de uma uma dimensão diferente, o Fazer vem de outro lugar muito mais profundo dentro de nós; tem influências diretas do nosso inconsciente e é expressado em nossas ações do dia a dia.
* já parou para notar o quanto de você é Repetição?

Pois bem, da mesma forma, nas sessões de Psicanálise e no método psicanalítico, a Escuta e a Observação são partes fundamentais do processo, se não a parte mais importante! Na sequência irei comparar os dois processos, por agora, é importante entender a diferença entre Ouvir e Escutar.

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“Percebe-se, então, que o ouvir é mais superficial do que o escutar. Para escutar, faz-se necessária a utilização de uma função específica, a saber, a da atenção. Requer, assim, ouvidos mais apurados, atentos ao que o outro fala… Escutar implica em ouvir, contudo a recíproca não é verdadeira. Quem escuta, ouve; mas quem ouve não necessariamente escuta. Daí o dito popular: “entrou por um ouvido e saiu pelo outro”.

A Escuta Analítica — A Diferença entre Ouvir e Escutar por Márcia Vasconcellos de Lima e Silva

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Precisamos aprender a Escutar, não apenas Ouvir — todos nós…

Ao meu ver, tanto nos processos de UX Design quanto na Psicanálise, a Escuta, Observação e Entendimento são partes vitais, sem elas a coisa não acontece. Através dela, nasce a empatia e são feitas descobertas, além do melhor entendimento do indivíduo que está ali, seus desejos, frustrações, suas dores — portanto esta pra mim é a primeira similaridade (A Escuta como método).

Como Aprender a Escutar o Outro?

Caso queira se aprofundar no assunto ☝

2. O processo ✍

Além da Escuta, creio que as macro-etapas nos dois processos são muito parecidas — ou seja — o Processo. Ouvir as pessoas, observar seu comportamento, sua linguagem, suas reações, suas escolhas, o que as motiva, quais são suas necessidades, suas repetições, seus desejos, suas frustrações — para que então seja possível desenhar novos caminhos e soluções.

Tanto UX designers quanto psicanalistas estão em busca de compreender melhor seus usuários e pacientes através de escuta e da observação,identidicando padrões de comportamento, sugerindo e testando novos caminhosobservando os resultados e repetindo estes ciclos em busca de uma melhoria contínua, que neste caso pode ser aplicada a uma Pessoa ou um produto, serviço ou interface.

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Pra descontrair, caso queira saber mais sobre a espécie UX Designer, recomendo o estudo abaixo que relata seu habitat, sintomas, evolução e rituais:


3. Empatia & Transferência ?

Tanto na psicologia quanto nas neurociências contemporâneas a Empatia é uma “espécie de inteligência emocional e pode ser dividida em: Cognitiva — relacionada à capacidade de compreender a perspectiva psicológica das outras pessoas; e a Afetiva — relacionada à habilidade de experimentar reações emocionais por meio da observação da experiência alheia.

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Para que uma análise avance e traga resultados, é fundamental que exista uma conexão entre o Analista (designer?) e o Analisando (usuário?), uma sinergia, uma conexão. Sem essa ponte (um cabo que conecta, mas não um laço emocional) o processo de transferência entre o paciente e o analista não pode acontecer, dificultando o avanço e uma possível “cura”.

Ao ter empatia pela situação e problema do outro, podemos criar essa conexão que é fundamental para entender o sujeito e pensar em um novo caminho — sendo assim, pra mim a empatia é uma característica fundamental para ambos os processos.

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A pesquisa, feita a partir de estudos sobre a obra do criador da psicanálise, Sigmund Freud (1856–1939), e de um de seus principais colaboradores, Sándor Ferenczi (1873–1933), analisa o papel desempenhado pela empatia no tratamento psicanalítico.

O autor resgata as considerações dos dois psicanalistas sobre o tema e mostra como o conceito esteve presente de diversas formas em suas recomendações, apesar de não integrar o rol clássico da teoria da técnica. A empatia, segundo a dissertação, é ponto fundamental na psicanálise guiada pelos ideais de cuidado e na capacitação de profissionais com maior sensibilidade à prática clínica.

A Empatia é outra similaridade que vejo entre os dois processos, sem ela a coisa não acontece.

Pra quem tem interesse em Psicanálise e deseja se aprofundar no assunto recomento a pesquisa “Por que a empatia é importante para a prática da psicanálise”


Sei que ambos os processos são coisas diferentes, não estou dizendo que são iguais, porém, como argumentei acima, vejo algumas pontes e similaridades entre eles.

Viajando bastante, podemos dizer que de certa forma, um UX Designer está sendo o Analista de milhões de usuários: ouvindo, entendento, observando, criando empatia, conexões, identificando padrões e redesenhando caminhos que irão reduzir as dores e frustrações daqueles que tem contato com seus projetos.

Além de tudo isso, saber um pouco sobre Psicologia (esta que pode ser dividida em diversas abordagens como Comportamental, Cognitiva, Psicanálise, Analítica, entre outras) faz de você um designer melhor.

Conhecer um pouco de Psicologia é tão importante para o trabalho de um UX quanto a Física é importante para o trabalho de um Arquiteto. (frase adaptada de John Leech)

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