Depois de um ano de suspense e pouquíssimo entendimento sobre o que se tratava, até para seus próprios funcionários, o Publicis Groupe – terceiro maior grupo de comunicação do mundo – apresentou na última semana a Marcel, plataforma de inteligência artificial que teve seu plano de lançamento apresentado durante o Cannes Lions do ano passado, junto com o impactante anúncio de que, por causa dela, a empresa não participaria do maior festival internacional de criatividade em 2018.
Uma holding das mais tradicionais, abrindo mão de sua “Copa do Mundo” para investir em AI. Para quê?
“Para simplificar e potencializar processos internos”, talvez seja a resposta mais direta e compreensível neste primeiro momento. Batizada em homenagem ao fundador da empresa (Marcel Bleustein-Blanchet), a novidade não vai ser uma ferramenta diretamente ligada à comunicação de seus clientes – seu principal ativo e ganha pão –, mas sim para facilitar e melhorar o trabalho de quem é responsável pelo serviço, internamente.
Como funciona?
Desenvolvida a quatro mãos com a Microsoft, a plataforma tem como objetivo central unir os 80 mil funcionários do Publicis espalhados por 130 países, em colaborações criativas e efetivas. Numa mistura de Tinder e GetNinjas turbinados pela inteligência artificial, a Marcel vai permitir que qualquer profissional do grupo encontre facilmente parceiros com capacidades, conhecimento, experiência ou insights para melhorar seus projetos.
Para isso, o sistema cruzará skills, clientes atendidos, trabalhos já realizados e outras contribuições dos funcionários, tudo na database que o grupo já tinha e em alimentação realizada de acordo com as potenciais demandas (inclusive o arquivo do próprio Cannes Lions). Também será possível criar briefs e soltar pelo ambiente, convidando colegas ao redor do mundo a abraçar o job.
Marcel Demo
Classificada pelo CEO Arthur Sadoun como “uma fonte positiva de mudança para a indústria”, a Marcel chega para tirar um pouco o ranço de empresa “tradicional demais” do Publicis, além de potencializar seus recursos talentos de uma forma especial. “Nossa indústria perdeu valor, tudo à nossa volta mudou. É tempo de reinventar completamente nossa atividade”, declarou o executivo, que assumiu o comando da companhia francesa no ano passado com a incumbência de garantir a renovação da empresa em todos os sentidos.
Segundo o chief creative officer global (vulgo “principal líder criativo”) Nick Law, também contratado recentemente vindo da pioneira rede R/GA, os dois “olhos” ilustrados no logo da Marcel indicam dois caminhos distintos de se pensar que, juntos, formam um terceiro – muitas vezes mais interessante. “Essa é uma das formas que a plataforma vai potencializar a criatividade. As marcas e pessoas do Publicis não estão trabalhando em favor da Marcel, mas sim a Marcel em favor delas”, destacou.
De dentro para fora
Muitas empresas no universo da propaganda referendam a máxima de “casa de ferreiro, espeto de pau”, pecando miseravelmente em sua comunicação institucional e, principalmente, na comunicação interna. Investir em ferramentas “para dentro” pode ajudar muito a tornar o produto ou serviço “para fora” melhor e mais atraente, além de cativar os profissionais que fazem a roda girar – e, com isso, azeitar seu mecanismo. Serve para multinacionais como o Publicis, que teve receita de aproximadamente US$ 11 bilhões em 2017; serve para startups com meia dúzia de sócios com um propósito em comum e visões muito diferentes.
Ao redor do mundo, o Publicis Groupe controla algumas das maiores redes de agências e empresas do mercado de comunicação, como Leo Burnett, Saatchi & Saatchi, BBH e Fallon. No Brasil, estão sob seu guarda-chuva algumas das maiores e mais tradicionais operações, como DPZ&T, Talent Marcel, F/Nazca S&S, Leo Burnett Tailor Made e Publicis Brasil. Em beta, a Marcel começa atingindo mil funcionários e deve ser liberada para todos os 80 mil em janeiro do ano que vem.
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