Ela pega a agulha com delicadeza. Os seus movimentos são de uma orquestra afinada ao começar um concerto. Lentamente – e com os olhos fixos no disco de vinil para não arranhar– coloca a primeira faixa. Vem a surpresa. A música é quando ela mesma começa a falar, contando (quase cantando) com amor os passos que já deu até aqui.
Ela sabe que a música não escolhe qualquer um: tira para dançar apenas quem olha para o mundo com leveza e permite-se levar, quem sabe ser conduzido pelo salão. Ouça, menina – devia dizer sua mãe, imaginei enquanto a ouvia falar – ouça, menina, ouça essa música aqui. E a menina fazia a mágica de não deixar que nada que entrasse por um ouvido saísse pelo outro. Com ela, a música entra por um ouvido, fica presa na memória e de lá não sai.
E foi assim, aprendendo a ouvir suas memórias sempre que fosse preciso, que a menina cresceu e um dia resolveu se ouvir. A música me toca. A música toca Talita. Amplificar seu conhecimento musical toca outros corações – ela já ouviu isso antes. Resolveu criar um selo para divulgar bandas alternativas, independentes, de amigos. Ajuda a fazer com que mais e mais pessoas ouçam essas bandas.
E numa época em que tantos andam pelas ruas presos a um fone de ouvido, Talita emite sons libertadores. De uma menina que sempre gostou de ouvir o mundo e que, dessa vez, veio até o SXSW, em Austin, para ouvir quem esteja disposto a trocar ideias, pensar em maneiras diferentes de fazer a música chegar a mais pessoas, entender como a tecnologia pode ajudar nesse processo e, claro, descobrir novos sons. A conversa segue, faixa por faixa. Penso que é hora de virar o disco. Chegou a vez da gente ouvir Talita.
*Pedrinho Fonseca é convidado especial do Update or Die e do banco Santander durante o SXSW e veio a Austin com uma missão. Trazer um banco vermelho e convidar pessoas a sentarem nele. A contarem suas histórias. E, assim, descobrir um #bancodeinspirações.
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