Quer saber o que cansa no mundinho online?

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Fala a verdade: algumas coisas mereciam horas e horas de papo e a gente acaba discutindo pouco. Por isso no Festival Path, a gente resolveu ampliar os nossos papos de fim de tarde e convidar quem estivesse por lá e quisesse participar para discutir a parte chata do mundo online de hoje.

E a gente escolheu a parte chata, porque da legal não precisamos nem falar, né? A possibilidade de estar perto mesmo estando longe, a chance de compartilhar descobertas e emoções, a noção clara de que ninguém é capaz de saber tudo de tudo e que é mais valioso colaborar para construir em conjunto do que tentar parecer um “gênio” criando alguma coisa sozinho, a oportunidade de se conectar a um banco de dados quase que infinito, construído a partir do conhecimento coletivo e capaz de gerar insights inimagináveis. Isso sem contar as possibilidades de conexão que surgem a cada instante e que fazem a magia acontecer cada vez mais perto da gente, independente da plataforma e do suporte que você esteja usando. E, como tudo foi simplesmente acontecendo (rápido, muito rápido) a gente foi incorporando e nem se deu conta. Pode reparar: hoje em dia é quase que parte de um processo terapêutico ficar desconectado por uns dias (e quem consegue, comemora como se fosse um grande feito).

Geralmente, os desenvolvedores daquelas traquitanas (seja o novo equipamento ou o novo app) que a gente ama e que vão virar indispensáveis no exato momento em que a gente começar a usar, partem de necessidades e desejos humanos. Ou seja, o comportamento (ou a vontade dele) já existe e o que se faz é só dar voz e potencializar. Então, no final das contas, o “mundinho online” enche por conta das “pecinhas que estão atrás dos diversos teclados” mundo afora e que ainda estão se acostumando a lidar com todo o poder que vem da oportunidade de falar e ser ouvido, por quem quer que seja.

Por isso que existe uma tendência a criticar sem filtro, sem se importar muito com quem está do outro lado. Concordo que a falta de conexão emocional apimente essa história (você dificilmente vai criticar publicamente alguém com quem você tem uma relação já estabelecida). Outro tempero para essa discussão é a sensação (completamente falsa) de que quem critica parece sempre mais inteligente do que quem concorda. Acrescente ainda a possibilidade de se manter no anonimato – dizem que a bronca se espalha 3x mais rápido (e eu diria, mais forte) online.

Aliada a isso, vem aquela eterna urgência que carrega consigo a idéia de que ler o título e o primeiro parágrafo já é o suficiente para opinar e passar para o próximo assunto. E as discussões em cima do título vêm com uma intensidade tão grande que viram o assunto mais importante da semana, de um jeito tão acalorado que se esgota em questão de dias e no instante seguinte “só se fala em outra coisa”.

No meio dessa confusão, você rompe com “relações virtuais” com a mesma facilidade com que as estabelece. Ter uma opinião diferente da sua em um determinado assunto já é motivo suficiente, o que acaba te colocando em uma espécie de versão digital da Caverna de Platão em que você se cerca de pessoas que acabam reforçando o seu ponto de vista, sem aproveitar uma das coisas mais legais do online que é justamente a possibilidade de acessar (e pensar sobre) pontos de vista diferentes para formar a sua própria opinião sobre determinado assunto.

Eu acredito que a gente esteja em um momento de calibrar a experiência de discutir sem estar frente a frente, de cara limpa. Mais ou menos como crianças que se lambuzam quando comem doce pela primeira vez, a gente está naquela fase de se divertir (inconsequentemente) com o microfone e a audiência que a gente ganhou de presente.

A esperança está em que a discussão já começou a ir para o lado do propósito, da busca por usar as ferramentas disponíveis para enriquecer a conversa e não para simplesmente falar como se não ouvesse amanhã. Não deve demorar muito para que isso aconteça e cada um aprenda a conviver em uma sociedade conectada. Mas é claro que, se a gente tiver essa conversa daqui a um tempo, vão aparecer outras coisas que cansam. Eu acho bom que apareçam mesmo, sabia? Ajuda a manter o equilíbrio. E você, o que acha?

O Update or Die é apoiador cultural e de mídia do Festival Path e a nossa cobertura tem o apoio da cerveja SOL.

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