Declaração de um homem que perdeu a esposa em Paris

Esta semana, um homem francês chamado Antoine Leiris escreveu um texto em sua conta do Facebook sobre a perda de sua esposa no atentado terrorista que chocou o mundo.

Filosoficamente, o perdão só é dado a quem não merece, pois se merecesse, se chamaria justiça e não perdão. O triste nessa história é que do outro lado, esse perdão não será nunca experimentado, pois eles, do Estado Islâmico, não se reconhecem como errantes.

Fiquei emocionado com suas colocações e a escolha de cada palavra. Através dele, é possível aprofundar o debate entre liberdade x segurança, tanto tratado na pós-modernidade.

Segue o texto traduzido na íntegra:

“Vocês não terão o meu ódio…

Na noite de sexta-feira vocês acabaram com a vida de um ser excepcional, o amor da minha vida, a mãe do meu filho mas vocês não terão o meu ódio. Eu não sei quem são e não quero sabê-lo, são almas mortas. Se esse Deus pelo qual vocês matam cegamente nos fez à sua imagem, cada bala no corpo da minha mulher terá sido uma ferida no seu coração.

Por isso eu não vos darei a prenda de vos odiar. Vocês procuraram-no mas responder ao ódio com a cólera seria ceder à mesma ignorância que vos fez ser quem são. Querem que eu tenha medo, que olhe para os meus concidadãos com um olhar desconfiado, que eu sacrifique a minha liberdade pela segurança. Perderam. Continuamos a jogar da mesma maneira.

Eu vi-a esta manhã. Finalmente, depois de noites e dias de espera. Ela ainda estava tão bela como quando partiu na noite de sexta-feira, tão bela como quando me apaixonei perdidamente por ela há mais de doze anos. Claro que estou devastado pela dor, concedo-vos esta pequena vitória, mas será de curta duração. Eu sei que ela nos vai acompanhar a cada dia e que nos vamos reencontrar no países das almas livres a que nunca terão acesso.

Nós somos dois, eu e o meu filho, mas somos mais fortes do que todos os exércitos do mundo. Eu não tenho mais tempo a dar-vos, eu quero juntar-me a Melvil que acorda da sua sesta. Ele só tem 17 meses, vai comer como todos os dias, depois vamos brincar como fazemos todos os dias e durante toda a sua vida este rapaz vai fazer-vos a afronta de ser feliz e livre. Porque não, vocês nunca terão o seu ódio.”

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