1 técnica, 3 citações e 1 conselho

O tema é insidioso: APRENDIZAGEM.

Debater educação, de modo geral, mexe com os ânimos da rapaziada.

Por isso, não vou entrar nessa sozinho.

Vou convidar alguns ilustres para me ajudarem no raciocínio.

O primeiro deles é Sócrates.

Resumindo bem resumidinho, Maiêutica era uma técnica na qual Sócrates desconstruía pensamentos preconcebidos por meio de perguntas simples, fazendo com que seus discípulos “zerassem” tudo o que sabiam sobre determinado assunto, para então edificar uma nova lógica acerca do mesmo tema e, assim, encontrassem a sua própria verdade.

Peço, portanto, que não entremos nesse debate com ideias preconcebidas.

Não acho que seja possível afirmar categoricamente que se aprende menos hoje do que já se aprendeu no passado.

Tampouco dá para dizer que não se lê mais como antigamente – a não ser que redes sociais, blogs, sites e todo o mundo digital não entrem na conta.

Bom, vamos lá.

O tema é aprendizagem nos últimos 10 anos.

Muitas críticas feitas aos estudantes de hoje partem do princípio (errado a meu ver) de que só existe UM jeito de aprender. Normalmente por meio dos livros.

É aí que entra a minha primeira citação, proferida há mais de 2.500 anos.

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[su_quote cite=”Confúcio, pensador chinês”]Há três métodos para ganhar sabedoria: primeiro, por reflexão, que é o mais nobre; segundo, por imitação, que é o mais fácil; e terceiro, por experiência, que é o mais amargo.[/su_quote]

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Confúcio, que foi considerado cidadão mais sábio de toda a China, ressalta em seu pensamento que existem 3 maneiras de aprender – a nobre, a fácil e a difícil.

Se quisermos ser bem simplistas, podemos colocar cada um dos métodos em gavetinhas para traçar um paralelo com os dias atuais. Eu diria que Nobre é o ensino formal, acadêmico. É onde estão os livros, os debates, os saraus, as palestras e as salas de aula.

Difícil é a vida. Esta sempre ensinou a todos, mas nem sempre da melhor maneira possível.

E o método Fácil, seria o quê?

Nos dias de hoje, a web, talvez.

A busca no Google.

Os debates rasos das redes sociais.

Os games, os videos, etc.

Tudo aquilo que nos dá, em tese, a informação mais pronta, mastigada, formatada.

Mas será que isso é necessariamente pior?

Muitas críticas que eu vejo aos millennials é de que eles têm pouca paciência para aprender, leem pouco, não se concentram, etc.

Será?

Se isso for verdade, é necessariamente ruim?

Tenho minhas dúvidas.

O mundo está em um estágio diferente, em que tudo é mais rápido, disponível e fácil de se obter. Conhecimento, inclusive.

É onde eu trago uma segunda citação, dessa vez da maior autoridade brasileira quando assunto é Educação.

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[su_quote cite=”Paulo Freire, educador”]O mundo não é. O mundo está sendo[/su_quote]

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(Um parênteses para um breve comentário sobre Paulo Freire. Infelizmente o debate em torno da sua obra é muitas vezes eclipsado por conta da questão ideológica. Mas o fato é que o método de ensino que ele perpetrou buscava: 1 – fazer com que as pessoas encontrassem uma postura crítica em relação ao aprendizado; e 2 – trazer os conteúdos para um contexto próximo da realidade de seus alunos. Ou seja, ensinar “Vovó viu a uva” em um processo de alfabetização para um adulto do sertão nordestino não faz o menor sentido, já que uva não pertence ao seu universo cognitivo.)

A frase do Paulo Freire dá a dica para os educadores de que a aprendizagem deve acompanhar as mudanças do mundo na velocidade em que elas acontecem.

E isso, evidentemente, vale para a aprendizagem na era dos Millennials.

Ao simplesmente tentar desmoralizar todo o aprendizado que vem de fontes, digamos, não tradicionais, estamos comunicando que não queremos participar de seu mundo, que não reconhecemos a legitimidade de algo que está presente na vida de toda uma geração.

Um professor que ignora que existe sim aprendizado em um game, por exemplo, joga fora a oportunidade de estabelecer uma ponte de comunicação mais sólida com seus alunos para gerar empatia, um sentimento fundamental na relação aluno – professor.

Um mestre que ignora as redes sociais comunica a seus alunos que não está disposto a adaptar seus métodos de ensino para a realidade de seu público.

O mundo está mudando sempre, mas o que ele mudou nos últimos 10 anos não é brincadeira.

Smartphones, Facebook, Google, WhatsApp, vídeos e músicas por streaming em tempo real, toneladas de informações sobrevoando nossas cabeças a cada instante.

Ora, será que não estamos tentando ensinar de um modo jesuítico no tempo dos evangelistas digitais?

Acredito que o papel dos educadores mudou radicalmente, passando, muitas vezes de propagadores de sabedoria a curadores de informação.

Em um mundo predominado pelo acesso fácil a tudo, saber separar o joio do trigo é que são elas.

E para isso é preciso preparo. Um preparo diferente do que existia, mas não menos importante.

É onde entra minha terceira citação, dessa vez de um grande filósofo do esporte bretão:

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[su_quote cite=”Neném Prancha, roupeiro, massagista e técnico de futebol”]O importante é o principal. O resto é secundário[/su_quote]

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Pois é. A citação é boba, ingênua, mas contém uma verdade poderosa.

O ensino formal não deve ser desprezado – como não devem ser também as outras formas não ortodoxas de aprendizagem.

O papel do professor, do tutor, é guiar seus alunos no mar de possibilidades que se apresentam hoje e mostrar o que é relevante e o que é secundário.

O que ajuda a formar caráter e o que ajuda a passar o tempo.

O que traz conhecimento profundo sobre algo e o que traduz apenas um bom papo na mesa do boteco.

E, para que isso ocorra, é preciso estar aberto a todas as técnicas, sejam elas fáceis, difíceis ou dolorosas.

Milenares ou disponíveis na App Store desde a semana passada.

Para terminar, um conselho, conforme prometido no título do artigo:

Nunca tome laxante com remédio para dormir. 

Esse conselho é só para mostrar que o aprendizado fácil pode ser muito útil.

Felizmente, esse ensinamento eu aprendi no Google, e não na vida.

Ilustração: Eduardo Medeiros

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