A Internet que sufoca

Um dia desses, conversando com uma amiga, ela me disse que não estava se sentindo bem. Perguntei o que era. Ela desconversou e disse que ia fazer uns exames. Aí, preocupada, já perguntei de novo, mais incisiva. O que seria? Como poderia ajudar?

Foi quando ela, num desabafo, me contou como estavam sendo as suas últimas semanas.

Insônia. Aquela dificuldade absurda para conseguir dormir – e quando dorme, é aquele sono ruim inquieto. Durante o dia, sonolência, desânimo. Sensação de frustração no trabalho aliada a um descontentamento constante em relação à muitas coisas. Não tardaram a aparecer sintomas físicos de tudo aquilo.

Lembrei do vídeo do BuzzFeed que fala sobre a ansiedade e acabei tendo uma conversa sincera com ela que transformou-se num desabafo, numa confidência. Pensamentos que compartilho hoje com vocês por aqui.

O problema da nossa época – o nosso problema – tem a ver com nossos relacionamentos, com a tecnologia, com expectativas, com essa nossa nova realidade. Explico.

A internet sufoca, com redes sociais cheias de informações desnecessárias, de gente postando uma vida falsa que passa ideias falsas de uma felicidade eterna. Do lado de cá, as frustrações por não conseguirmos nunca nossos objetivos. Mal sabendo que, em nossa solidão, estamos formando multidões.

Vivemos envoltos por uma infinidade de estímulos e por isso não conseguimos mais nos concentrar, focar, fazer algo direcionado. Por quê? Vivemos na era das multitelas, multiabas, “multiatenção”. Vemos tudo sem prestar atenção em nada. Não dá pra fazer só uma coisa por vez, mas muitas coisas exigem que sejam feitas uma só por vez. E aí nos angustiamos com os espaços vazios, com as pausas do nosso dia a dia. Não suportamos silêncios.

Vemos o Mark Zuckerberg ser bilionário antes dos 30, gente de 16 anos passando em todas as faculdades dos Estados Unidos, e todo mundo sendo pressionando para o sucesso, sucesso, sucesso. Temos como companhia um zilhão de especialistas em tudo. E, ao mesmo tempo, nós temos dificuldades para entender algo aqui e ali, não conseguimos nos concentrar, e aí a única resposta é que algo está errado com a gente.

Depois de tudo isso, se está errado com a gente, será que vale a pena tentar? Nada está dando certo, e aí desanimamos até de tentar. Perdemos o sono por ilusões e fechamos os olhos para a vida. E vamos nos afundando no médio, no  mundo sem desafios, no de sempre. Temos medo de ousar, de sair do canto morno e aconchegante da vida de todo dia, por que todo mundo é tão julgador, pessimista, crítico e mau que temos medo da exposição, de não dar certo, da vergonha do ridículo.

E, por último, perdemos as amizades próximas, a confiança, o relacionamento forte e verdadeiro, a amizade de ontem, de antes. Aquela coisa de ir na casa de alguém, ficar no sofá pra conversar, pra desabafar, pra rir ou pra chorar. Sem videogame, sem whatsapp, sem face, sem chat. O amigo que vem ou que vai sem precisar pedir licença, com aquela cumplicidade das amizades sem milhares de interesses e milhões de “e se”, “mas”.

Mas fomos feitos pro abraço, pro amor, pro carinho, pra ousarmos, pra irmos, pra usarmos nossa cabeça, nossa mente, nosso cérebro. Não para ficarmos afundados em telas, em salas, em expectativas alheias. E aí a gente adoece…

E doentes, nos afundamos, nos anulamos, deixamos a vida passar. Passamos dias, semanas, meses, anos! Sem perceber que ainda não saímos do lugar. E achando que é tarde, é sempre tarde para começar.

Será? Será?


Imagem: Syda Productions/Shutterstock

Receba nossos posts GRÁTIS!
Mostrar comentários (17)

This website uses cookies to improve your experience. We'll assume you're ok with this, but you can opt-out if you wish. Accept Read More