Spotify – Power of Music. 7 tendências em consumo de Música digital

Esta semana o Spotify mostrou os resultados de uma pesquisa sobre consumo de música digital que é uma verdadeira aula de como a indústria da música (e a própria Música) mudou nos últimos anos.

Da época do “comprei o último da banda X na gringa e vou te gravar um K7” até hoje muita coisa mudou.

Música deixou de ser um bem precioso e exclusivo, e passou a ser um asset.

Música agora é consumida cada vez mais, em cada vez mais lugares e ocasiões, por cada vez mais gente.

Mas alguns comportamentos ainda continuam “iguais”, só que de jeitos diferentes.

Vamos lá então analisar as 7 tendências uma a uma.

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1) Cultura da abundância – a música é um recurso básico

Sim, música deixou de ser algo exclusivo. Havia um tempo onde só algumas pessoas tinham acesso à música. E não estou me referindo ao período Clássico (Mozart e afins), onde partituras eram escondidas e só poderiam ser vistas e usadas em momentos especiais para ouvintes especiais.

Estou me referindo às rádios FM dos anos 70/80/90, que tinham nos seus correspondentes internacionais uma fonte de novidades e exclusividades.

Lembro perfeitamente do lançamento do álbum “Technique” do New Order em 1989.

Só a 89FM em São Paulo tinha este álbum na época do lançamento no exterior. E fizeram um programa especial em um Sábado para tocar o disco na íntegra.

Desmarquei todos meus compromissos neste Sábado e fiquei lá na frente do rádio gravando música por música.

Foi o K7 que mais ouvi no Verão de 1990.

O álbum só saiu no Brasil muitos meses depois.

Além disso, todo amigo que viajava pro exterior e trazia novidades (ou raridades), era automaticamente alçado à categoria de semideus e todo mundo queria gravar K7s ou ir até a casa do cara escutar. Lembro também de amigos meus “escondendo o jogo” e se recusando a gravar K7s pelas desculpas mais esdrúxulas possíveis, mas que no fundo eram para manter a aura de especial do cara perante a galera.

Era uma época estranha, mas era o que a gente tinha… ou melhor, era o que as pessoas com dinheiro tinham. A gente tinha K7 prá gravar o que o dinheiro comprava lá fora.

Hoje em dia, com as plataformas digitais como o Spotify, todo mundo tem acesso direto, barato e imediato à mais de 25 milhões de músicas.

Pense nisso.

Quer ouvir o último single daquele cantor senegalês que só você (acha que) conhece? Tá lá.

O Rush lançou música nova hoje? Tá lá prá quem quiser ouvir.

Resumindo (texto do estudo):

A popularização da internet faz com que a música esteja cada vez mais acessível e a um preço mais baixo, se transformando num recurso básico do ser humano. Não existem mais momentos ou situações onde ela não possa entrar.

2) Geração Headphone

Não adianta nada você ter acesso à 25 milhões de músicas e não ter onde ouvir.

O fone de ouvido, inventado em 1910 (mono, para comunicação militar via rádio) e popularizado a partir de 1979 (com a invenção dos Walkmen), foi um dos primeiros “wearables” do mundo e fez com que a música chegasse a todo mundo em qualquer lugar.

E em vários momentos do dia.

Olhe pro lado aí no seu trabalho, no transporte público, ou mesmo na rua.

Quantas pessoas estão de fone?

Então.

Não fosse o fone de ouvido a gente ainda tava confinado à ouvir música em casa ou em espaços onde coubesse algum equipamento maior.

Parece uma bobagem, mas não é. Fone de ouvido hoje em dia é equipamento indispensável no nosso dia-a-dia.

Escolher um bom fone de ouvido é muito importante, mas é assunto para outro post.

O estudo resume:

Os headphones são responsáveis em grande parte por permitir que os serviços de streaming acompanhem as pessoas em vários momentos diferentes ao longo do dia. É um instrumento capaz de inserir a música em todos os contextos cotidianos: estilo, trabalho, esportes, moda e locomoção, por exemplo.

3) Combustível para a vida

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“Sem Música a vida seria um erro”- Friedrich Nitezsche (1844 – 1900)

Música sempre foi um elemento motivador da vida.

A gente sempre busca a música legal para algum momento.

Vai dançar? Viajar? Cozinhar?

Sempre tem uma música que combina mais com cada momento.

E cada um tem uma opinião ou gosto diferente a respeito disso.

Eu, por exemplo, adoro ouvir Morcheeba enquanto pego estrada à noite. É a música que me deixa acordado.

Existe uma série de estudos e particularidades sobre o Trip Hop te deixar desperto, mas é assunto também para outro post.

Até prá olhar prá cima existe música legal.

Duvida?

Olhe pro Céu hoje a noite e ouça esta música aqui:

Tudo bem que o seriado Cosmos ajudou muito a “colar” esta música ao espaço sideral, mas que ela é a trilha sonora perfeita para olhar as estrelas, isso é.

A pesquisa explica:

A música está presente e pauta todos os momentos do cotidiano das pessoas, ajudando a potencializar a trajetória ao longo da vida. A missão agora é encontrar a música perfeita para o que você está sentindo em um determinado momento.

O que nos leva à quarta tendência.

4) Playlist por humor: a playlist na gênese do sentimento

Da pesquisa:

Com a desfragmentação dos álbuns e o apogeu das playlists, as pessoas não buscam músicas apenas por artistas ou faixas: buscam cada vez mais por listas que contemplem o estado de espírito que elas querem acessar.

Muita coisa mudou, e esta desfragmentação acho que foi uma das mudanças mais importantes. A gente não fica mais restrito à um artista, um álbum, um estilo musical. Uma música chama outra, que chama outra, e que nem sempre elas são iguais ou correlatas.

Por exemplo:

Todo mundo quer acordar motivado, animado, pensando que o dia de hoje será melhor que ontem.

Tem música pra isso? Lógico que tem. Mas qual estilo é “melhor” para acordar animado? Algum específico?

Não.

Mas qual mood é melhor para acordar animado?

Aí sim você tem uma resposta.

Vale qualquer estilo musical, contanto que seja algo positivo, prá cima, leve e feliz.

Mas também nem tão feliz assim.

Começar o dia ouvido “Do Re Mi” com a Julie Andrews pode causar danos irreversíveis ao seu humor pro resto do dia.

Quer alguns exemplos de músicas legais pra acordar?

Aqui ó –

De Bob Marley à Mumford & Sons, passando por Trombone Shorty, Jackson 5, The Cure, Led Zeppelin, etc, etc.

Cabe tudo.

O que vale é o mood.

5) Preferência flexível

Acho que esta tendência é a mais importante, é a coisa mais legal que aconteceu para a Música (com M maiúsculo mesmo) desde sempre.

Com esse acesso e barateamento todo, nosso gosto musical se tornou muito mais flexível.

A gente não curte só um determinado estilo, uma determinada banda, a gente é levado a experimentar o diferente, e ao experimentar o diferente a gente abre nossa cabeça.

A linha divisória entre “bom” e “ruim” ficou muito mais borrada depois das plataformas digitais.

E isso é incrível.

Diz o estudo:

Na era do streaming, experimentar novas músicas, estilos e artistas tornou-se muito mais barato. Como resultado disso, as pessoas estão muito mais flexíveis em determinar o que é “bom” ou “ruim”. As pessoas se abrem para o novo e sabem que uma faixa ou artista não precisam representar sua identidade por completo. Isso permite que novas identidades multifacetadas aflorem, desapegando-se de rótulos.

6) Intimidade compartilhada

Aí a gente volta ao papo do álbum do New Order na 89FM.

Só que agora a rádio não tem exclusividade no álbum. E o álbum não é tão importante assim, mas sim a emoção que a música passa ou a identidade musical que é mostrada.

Aquela frase “Já ouviu a nova da banda X? Demais!” que era tão comum no antigamente e que te dava uma aura de superioridade, agora mudou para “Ouve aqui a nova da banda X, que é demais“, o que faz toda a diferença.

Hoje em dia é muito mais legal compartilhar e mostrar para os outros o que você gosta.

Fazendo isso você explicita sua identidade para quem quiser.

No estudo:

Ao contrário de outras plataformas sociais, onde o usuário escolhe um fato social dentro do qual se integra para criar identidade, com o streaming as pessoas interagem ao demonstrar suas emoções reais por meio da música que ouvem.

Essa intimidade e essência se tornam acessíveis a todo o mundo. Dessa forma, a música é compartilhada na web permitindo que os usuários naveguem facilmente entre a intimidade de cada um.

7) Rede de interações e proximidade baseada na afinidade

Repetindo:

Não é mais o artista. É o gosto musical.

A música saiu de um lugar e foi prá outro.

Do controle total do mercado pelas gravadoras que ditavam o que era legal ou não (e que criou o conceito já desgastado de Superstar, assunto para mais um post), a música passou para o controle do ouvinte.

E nessas você descobre que tem muito mais gente que gosta daquele artista senegalês que você achava que ninguém conhecia.

E você vai nos “Related Artists” desse senegalês e acha mais uns 10 artistas tão ou mais legais que ele.

E você também descobre que alguns dos seus amigos gostam destes artistas.

E estes amigos gostam de outros caras que você nunca ouviu falar, mas dá um Play pra conhecer.

E descobre mais música legal. Ou até música que você não gosta.

Mas o que importa é que a música tá lá pra ser ouvida, não fica mais escondida dentro de algum lugar longe dos ouvidos do mundo.

Depois de tudo isso, o Spotify entende o que aconteceu e o tão famoso “algoritmo” melhora cada vez mais nossa experiência.

Assim:

A ligação entre todos os usuários criou acesso direto a uma biblioteca interminável de gosto musical. É uma biblioteca viva que está em constante transformação. Ela expande seu repertório a cada  interação de usuário ou música reproduzida.

O algoritmo cria, assim, uma enorme teia de interações com base nas preferências pessoais, a fim de personalizar as recomendações.

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Pensando além da pesquisa, existem outros fatores técnicos e de UX que também fazem tudo isso ser cada vez mais legal.

As músicas todas no mesmo volume, as capinhas, a barra de Play (que serve prá quando você for ouvir Wish You Were Here do Pink Floyd e não souber se a música começou ou não, por exemplo), a portabilidade.

Tudo bem que pegar um vinil na mão, abrir o encarte, ter contato físico e tátil com a música é uma experiência incrível, mas é só uma parte pequena do que a Música nos proporciona.

E era o que a gente tinha na época.

Melhor?

Pior?

Diferente.

Enfim, a gente só sabe o que é bom quando conhece o que é ruim.

Eu vivi lá na época das vacas magras da música.

E estou aqui prá contar que tudo é muito mais legal hoje do que era antigamente.

Tudo de bom,

Billy.

PS_ Este post, do jeito que foi escrito, só reforça tudo o que o estudo mostrou. Se vc apertou o Play pelo menos uma vez para ouvir alguma música aqui você já conheceu algo diferente do que está acostumado, ou relembrou alguma música escondida na sua memória. Se apertou o Play várias vezes, teve a chance de conhecer pelo menos uns 200 sons diferentes. Pense nisso. :)

 

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