Futuro e passado como pai e filha

Em uma das sessões mais comentadas do SxSW 2017, Amy Kurzweil, escritora e cartunista, recebeu seu pai Ray Kurzweil, futurista, autor e diretor de Engenharia do Google, para uma conversa franca e emocionante sobre o futuro.

Ray é autor de 6 livros e há anos um inventor a frente de seu tempo. Uma de suas primeiras criações foi a Máquina Leitora de Kurzweil (hoje um aplicativo) que, entre outras coisas, permitia a cegos entender textos escritos por meio de um computador com voz sintetizada. Stevie Wonder foi um dos primeiros a comprar a invenção de Ray e os dois se tornaram amigos. A amizade levou a outra invenção de Ray: o sintetizador musical (Kurzweil Music Synthesizer e suas versões de teclados) que ajudou, além do amigo famoso, seu pai, músico, a compor e escutar suas próprias músicas – e que revolucionou a música como um todo!

Kurzweil Music Systems Ray Kurzweil with Stevie Wonder playing Kurzweil 250 in 1985
Kurzweil e Wonder

Amy inventa outras coisas e com outras ferramentas. Com seu talento, ela é cartunista do The New Yorker e lançou no SxSW seu livro Flying Couch, aclamado pela crítica. Na peça de 288 páginas, Amy conta a história de sua avó, uma judia sobrevivente do Warshaw Ghetto, pelos olhos dela mesma, com a ajuda de sua mãe psicóloga e da sua visão artística. Uma narrativa belissimamente ilustrada sobre “mulheres”, como ela mesma resumiu e sobre a força que há nessa história.

Durante o papo, pai e filha conversaram como se estivessem em casa. Nas contradições que eles mesmos representavam, os melhores momentos da palestra surgiam. Ray trabalha para dar vida às invenções futuristas do Google, enquanto Amy retrata em caneta e papel histórias do passado. Se as máquinas irão substituir (ou complementar) o homem, que robô vai conseguir substituir o talento humano de sua filha? Da mesma maneira, esperava-se que a autora de um livro feminino enxergaria igualdade no futuro, mas ela desenha outra perspectiva: “As pessoas hoje se identificam muito com seus corpos físicos. As crianças que crescerão em tempos de Realidade Virtual se acostumarão a viver personagens, avatares, outras pessoas em outros mundos. Talvez isso as deixe mais flexíveis em relação ao gênero”.

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Amy Kurzweil e Ray Kurzweil no palco do SXSW

As memórias de Bubbe, a avó de Amy, viraram livro. As memórias do pai de Ray, vão virar outra coisa. Há anos o inventor está juntando cartas, fotos e documentos de seu pai falecido há quase meio século para recriar, em um futuro próximo, uma máquina artificialmente inteligente que o reproduza, trazendo-o virtualmente de volta à vida. Sim, você já viu isso em algum lugar. O episódio Be Right Back de Black Mirror é exatamente inspirado nele.

Nessa tarde do SxSW, passado e presente parecem ter casualmente sentado para conversar. E quem estava ali pôde ver um passado mais novo que o presente. E um futuro que pode até ser pai do passado.

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