Voz “in” para realidade virtual

Trabalho como locutor publicitário e recentemente viajei para o festival South by Southwest em Austin, Texas, para descobrir como a minha área profissional está evoluindo com as novas tecnologias. A realidade virtual foi um dos destaques do SXSW deste ano, mas infelizmente poucos filmes em VR utilizaram o recurso de voz em “off”. Foi uma alerta. Se nós locutores vamos ter um espaço dentro desta evolução tecnológica teremos que mudar a nossa maneira de trabalhar – como já fizemos inúmeras vezes durante a evolução da rádio, televisão e cinema.

Assisti a uma palestra chamada “Brazilian VR: Creativity to Hit Millions of Views” do Ricardo Laganaro e Quico Meirelles da O2 FIlmes e, depois do evento, conversei pessoalmente com o Ricardo sobre a falta de voz em “off” nos filmes de realidade virtual. O Ricardo comentou que o “off” pode soar intrusivo demais para este formato. Para o seu filme em VR “Step to the Line”, que será lançado no festival Tribeca este mês, o Ricardo optou por não usar “off” porque, na opinião dele, a experiência ficava mais forte quando os próprios personagens do filme conduziam a narrativa.

É importante lembrar que o termo “off” em inglês vem de “off camera” ou “off stage”. A ideia do off é que a narrativa surge de um lugar fora da câmera ou do palco. O problema com a realidade virtual é que as regras mudaram. Não existe perspectiva de câmera e por isso a voz em “off” não funciona. Talvez seja necessário criar um novo conceito de locução para projetos de realidade virtual. A minha sugestão é algo que chamo de voz “in”. Afinal, no caso de VR, a narrativa surge por dentro da cabeça do público.

Imagino que a transição de “off” para “in” em projetos de VR resultará num estilo de narração mais intimista, menos projetado e extremamente natural. É quase como se fosse um pensamento falando em voz alta. No começo a sensação será estranha para o público; será meio esquizofrênica. Mas com tempo e prática nós locutores podemos criar uma nova técnica que funciona. O primeiro passo? Teremos que visualizar o microfone como o cérebro – e não o ouvido – do nosso público alvo.

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