Passo a passo de como se fuder em Amsterdã

Amsterdã: Episódio 3

Era uma quinta-feira, último dia em Amsterdã. Já tínhamos feito tudo: Coffee Shops, Casa Anna Frank, Museu do Van Gogh, Red Light, cogumelos. Tudo.

O ônibus para Berlim sairia à noite, mas o checkout do hotel era de manhã, ou seja, ou a gente fazia alguma coisa ou ficava em algum lugar até dar a hora de ir para o terminal.

Heineken Experience? Muito caro. Tour de barco pelo canais? Caro. Outro museu? Acho que não. Ir no último Coffee Shop? Por que não?

Decidimos ir para o Bulldog, um dos mais famosos da cidade.

Como já era 12:30, decidimos que antes pararíamos para comer. A missão era chegar lá no máximo às 2, enrolar até umas 6 e ir para o terminal pegar o ônibus. Não era tão longe, coisa de 45 minutos do centro. Como o horário da partida era só ás 11, estávamos tranquilos de tempo.

Não sei o que aconteceu com a gente aquele dia. Não era nem duas horas e já estávamos lá: frente à frente com aquele cardápio com opções para qualquer tipo de paladar. Se vocês já foram para Amsterdã, sabem do que estou falando. Tem maconha de tudo quanto é tipo: de limão, maconha roxa, tem as que fazem dar risada, as que te deixam com sono, as para refletir, e claro, as que te deixam mongol. Muito mongol.

“Oi, tudo bem? Por favor, uma grama da que deixa muito mongol.”

“Oi, tudo e você? Tem essa aqui que também te deixa mongol e com mais dois euros você leva o dobro.”

“Eita, o dobro? Hm… Não sei… Ah, tudo bem.
Estamos em três. Pode ser.”

Cilada, Bino. Cilada.

Entramos, descemos para o subsolo e começamos os trabalhos.

“Eita, tem muita coisa. Qual a chance de fumar tudo? Dá um pra cada e ainda vai sobrar. Vai dar merda, vocês sabem, né?”

“Para de ser cuzão, a gente tem tempo. A gente fuma e o que sobrar a gente guarda. Até as 6 tem tempo.”

“Mew, dou três tragos nesse negócio e já fico burro. Imagine uns 20? Vou ficar bem sim… Bem burro.”

“Relaxa, eu fico de boa. Vamos aí.”

1 trago, dois tragos, 10 tragos, 28 tragos.

“Eita, porque você está fazendo movimentos com as mãos em câmera lenta?”

“Tô?”

“Tá muito engraçado. Pensei que tava fazendo de propósito.”

“Nããããão eeeeeraaaaa de propóósito…”

“O que não era de propósito?

“Sei lá, você que tava falando…”

“Caralho, porque você tá se movimentando assim?”

“Assim como?”

“Devagar…?”

“Eu tô?”

“Lembrei pôôô! Era disso que a gente estava falando!”

“Era? Entendi…”

“Vocês dois não estão falando serio, né? Olha pra vocês! Não estão conseguindo conversar. Eu tô muito de boa… Vamos lá pra fora dar uma respirada.”

Saímos do Bulldog, atravessamos a rua e fomos para uma praça. Que caminho longo. Coisa para fazer em segundos, parecia que tinha levado horas. Bem maluco.

Aterrizamos a bunda em um banco, largamos nossas costas no encosto, posicionamos nossas mentes direcionadas para frente e ali ficamos por um bom tempo.

“Olha que coisa interessante. Essas pessoas. Olhem para elas. Elas são muito diferentes da gente. Sabe aquele jogo “The Sims”? Então, é como se elas tivessem nascido em uma versão mais atualizada do jogo. E a gente não. É só vocês se esforçarem um pouco e observar. Os rostos tranquilos. A passada devagar, ninguém está com pressa. Estão felizes com seus trabalhos, com suas vidas. A impressão é de que são mais evoluídos e sabem lidar melhor com os problemas. Olha lá aquela mulher na bicicleta. Ela está com uma bolsa da Louis Vuitton no ombro, com o filho nas costas e em uma bike. Em uma bike. Que isso! E não porque ela é cool, sustentável ou não tem dinheiro para ter um carro. Ela só entende que é melhor para cidade. Que maluco. Qual a chance da gente ver uma coisa dessa na nossa realidade? Olha aquele outro cara ali de terno e gravata. Aquela pasta não engana, está indo para alguma reunião. Está sem pressa, não está irritado. Outra coisa. E aquela família, então? Estão passeando em plena quinta-feira em horário de expediente. Não é incrível?

“Hora de expediente? Caralho,já são 18:30! A gente esqueceu do horário! Vamos aí, a gente tá atrasadasso!”

Estava me sentindo mais como um robô programado apenas para responder à ordens do que um com poder de tomar decisões rápidas e assertivas. Burro a ponto de não lembrar onde o papel da passagem com o endereço do terminal estava.

Pensamos em todas as alternativas: uma mais bizarra que a outra. É incrível como você fica criativo nessas horas, né?

Aconteceu que minutos depois, uma mente brilhante deu a ideia de buscarmos no e-mail a confirmação com a passagem. Nossa, que difícil, né? Como ninguém tinha pensado nisso?

Já era umas 19 horas quando começamos a partir. Só precisávamos por o endereço no Maps e ir.

“Aqui não tá aparecendo nenhum ônibus pra lá. Mas tranquilo, tá marcando uma hora e pouco a pé, vamos aí.”

“Você está louco? Olha essas malas, tá pesado pra caralho. Sem chances!”

“Ué, quer pegar um táxi e pagar 50 euros? A gente pode, também…”

E lá fomos nós, as malas, o caminho no maps, a burrice na cabeça e o tempo como adversário.

“Podemos parar um pouco? Minhas costas tão doendo… Falta quanto tempo?”

“38 minutos. Precisamos ir, tô com 13% de bateria. Vocês tem quanto aí?”

“6%…”

“8%…”

“Que merda. Se acabar a bateria a gente tá muito fudido. Primeiro que ninguém sabe onde a gente tá. Segundo que a gente vai perder a porra da passagem. Terceiro que nem temos onde ficar… Puta que o pariu…”

“Mew, vamos pegar um táxi…”

“Não, a gente tá chegando. Relaxa, vai dar certo…”

E não é que deu certo… Faltando 15 minutos, adivinhem? Nada mais de baterias, nada mais de mapas, nada mais de coisa nenhuma.

Mas agora vocês perguntam: Porque vocês não perguntaram onde ficava o terminal para alguém na rua?

Eu respondo: e quem lembrava o nome? Quem anotou por precaução?

“Não é por nada não, mas meu feeling diz que é por ali…”

“Seu feeling? Você tá de brincadeira, né?”

“CIDADE DO CARALHO! Tudo igual essa porra! Estamos fudidos! Estamos há uns 15 minutos daquela avenida que tinha um monte de coisa, lembram? Vamos tentar perguntar onde ela tá e procurar um hostel. Deve ter alguma coisa.”

Foi aí que a voz da sabedoria, a mãe dos perdidos, cochichou no ouvido: “Tá aí a solução, seus burros…” Se faltava uns 15 pra voltar para a avenida, faltava mais ou menos a mesma coisa para chegar no terminal, com certeza alguém saberia a direção.

Nossa, que difícil, né? Como ninguém tinha pensado nisso?

“Oi, tudo bem? Você pode ajudar a gente? Estamos procurando um terminal de ônibus, mas a bateria do celular acabou e ficamos sem o mapa. Você sabe qual a direção?”

“Tem dois aqui perto. Pra onde vocês vão?”

“Dois? Que bom… Então, a gente vai para Berlim…”

“Ah, então se eu não me engano vocês precisam ir pro Wrjeksgfngong.”

“Se eu não me engano? Velho, se não for esse fudeu, já era… Não querem perguntar pra mais alguém?”

“Não temos tempos, temos que chegar em 10 minutos. Vamos arriscar, foda-se.”

“Okay, muito obrigado.. Como a gente chega lá?”

“É por aqui, oh: Segue essa rua uns 10 minutos e quando ver x coisa, vira à esquerda e andem mais uns 3 minutos.”

“Legal! Muito obrigado! Você é fera, fiiiiiiii!”

Sim, mandamos um “Você é fera, fi”. Coitado, não entendeu um cacete.

Andamos, andamos, andamos e adivinhem? Sem mais surpresas, o terminal estava lá. Logo fomos procurar de onde saiam os ônibus. Encontramos alguns parados, mas como ainda era 10 e pouco, não eram um dos nossos. Mas estávamos certos, nosso ônibus sairia dali. Iríamos para Berlim. Não é do caralho?

“Graças a Deus! Chegamos. Deixem a passagem no jeito aí e boa”.

“Beleza! Nossa, verdade.. Olha o que eu tenho aqui? O que vamos fazer com tudo isso?”

“Temos três alternativas: a gente guarda e leva, a gente joga fora ou a gente acaba com tudo agora.”

“A viagem é longa, né?”

“É, umas 8 horas, por aí.”

“É uma merda dormir em ônibus, né?”

“É, bem merda.”

“E a gente precisa dormir, né?

“É, seria bom.”

“Quem tem seda?”

Fim.

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